quinta-feira, 7 de abril de 2022

Vinicius Torres Freire: Melhora do emprego e Bolsonaro

Folha de S. Paulo

Número de pessoas com algum trabalho aumentou 8 milhões em um ano

O número de pessoas com algum tipo de emprego neste começo do ano voltou ao nível do que se registrava em 2020, logo antes do início da epidemia. Ultrapassou em quase 8 milhões o número de ocupados no início de 2021, em pleno horror da Covid. São os dados da Pnad do IBGE para os trimestres encerrados em fevereiro.

Essa recuperação do emprego pode ser o motivo da recuperação de alguns pontos de Jair Bolsonaro nas pesquisas eleitorais e de avaliação do governo?

"Algum tipo de emprego" inclui bicos, trabalhos que o IBGE chama de por "conta própria" sem registro de CNPJ. Sim, há muito emprego ruim, precário, inseguro. No entanto, o número de empregados formais no total de pessoas com algum trabalho é agora praticamente o mesmo de 2020, pouco mais de 57%.

É verdade que o salário caiu pavorosamente. "O rendimento real do trabalho caiu de R$ 2.741 há dois anos para os atuais R$ 2.511, ou seja, uma perda de 8,4%. Quando observada a massa de salários, a queda é ligeiramente menor, de 7,8%", escrevem os economistas do Bradesco em relatório sobre o assunto divulgado nesta quarta-feira (6).

O que conta mais? Ter algum rendimento do trabalho ou ter perdido poder de compra? Convém lembrar também que se trata aqui de rendimento médio. Há variações aí por classe de renda e, em geral, os mais pobres são mais afetados pelo desemprego do que os mais ricos.

É temerário tentar explicar variações de prestígio político por variações de indicadores econômicos, ainda mais quando as mudanças não são lá grandes e, de resto, ainda se entende pouco do que se transformou a economia brasileira nesta quase década de depressão com epidemia.

Ainda assim, muito economista vê melhora mais rápida do que a esperada no mercado de trabalho (ao menos no nível de emprego) e estimam que a taxa de desocupação pode ser menor do que a prevista para o final deste ano.

O governo ainda pode ganhar uns pontos com a entrada em vigor de algumas medidas do pacote eleitoral de estímulo, em particular com a permissão dos saques das contas do FGTS. Neste 2022, mais gente também conseguirá algum emprego ou um dinheirinho de bicos, mesmo que o torniquete da taxa de juros vá aos poucos fazendo com que a economia vá passar do devagar ao quase parando até fins deste ano.

Se não houver reviravolta na economia mundial (juros, guerra, problemas de abastecimento, dólar), o governo talvez até possa contar com a sorte de ver uma ligeira redução dos preços dos combustíveis. Tudo mais constante, são fatores que podem render um par de pontos nas pesquisas.

E daí?

Quanto mais Bolsonaro crescer nas pesquisas, menores as chances de um candidato do "Centro Democrático" (nome novo da falida "Terceira Via") ou de um Ciro Gomes (PDT) parecerem viáveis na corrida de cavalos das pesquisas eleitorais, afora milagres de marketing ou das redes sociais. Melhor dizendo, pode haver antecipação de voto útil, debandada de partidos e políticos para os dois cavalos da ponta e outras desmobilizações de apoios a uma terceira opção.

Lula da Silva (PT) talvez até ajude a consolidação de Bolsonaro, dada a quantidade de tiros no pé que tem dado com suas declarações de pré-campanha, em particular nesta semana. Há deputado dos vários centrões, adesistas em potencial, se perguntando se o petista está bem da cabeça. Além do mais, Lula e, em especial, o PT, quase interromperam o que parecia ser um programa maior de alianças, que se anunciara com a adesão de Geraldo Alckmin (PSB).

Junho costuma ser o mês mais propício para fazer apostas menos incertas na eleição. Mas, este início de trimestre, apenas Bolsonaro está marcando pontos.

 

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