quarta-feira, 11 de maio de 2022

Alvaro Gribel: O PT entre o passado e o pragmatismo

O Globo

No lançamento de sua candidatura, Lula avançou na política, acenando ao eleitorado de centro, mas, na economia, falou apenas ao apoiador tradicional do PT. A conversa com economistas que têm ajudado a elaborar as propostas do partido, no entanto, dá outras pistas sobre o que pode ser um eventual governo petista.

Em caso de vitória, a promessa é manter o arcabouço fiscal, com a permanência do presidente do Banco Central e uma visão mais pragmática das privatizações. O grande problema é que o programa de governo não está escrito e esses interlocutores ainda hesitam quando questionados sobre os detalhes das propostas.

A manutenção do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, é vista pela cúpula do PT como uma sinalização ao mercado de que não só a política monetária, mas também a política fiscal, não sofrerão guinadas bruscas. Não faz sentido, diz um desses economistas, relaxar nos gastos, de um lado, se, do outro, haverá Campos Neto subindo juros.

Existe a preocupação com o endividamento público, mas há a defesa de um regime mais flexível: com cortes em períodos de crescimento e aumento de despesas em épocas de crise. A discussão seria “qualitativa”. Uma das ideias é ter metas para os investimentos, com desaceleração de outros gastos, para compensar.

No campo das privatizações, a crítica é pela forma como o governo Bolsonaro vem tentando vender as estatais, e não à venda, em si. “No final, sempre é o privado que investe, não tem cabimento esse tabu. Quando o governo faz a contratação de uma obra pública, paga-se o privado para executar.

O que determina, a meu ver, é o alinhamento. Você tem que privatizar, mas exigir metas, algo em troca”, me disse um economista que tem falado com o mercado.

Os questionamentos à reforma trabalhista não significam a revogação do texto, mas o que eles chamam de “atualização”. Alguns dos problemas, na visão do partido, são que a reforma não combate a informalidade, enfraquece sindicatos e diminui o poder de negociação dos trabalhadores. O ideal, dizem, é que sejam elaboradas reformas em conjunto — fiscal, tributária e trabalhista — para que os textos façam sentido e diminuam desigualdades.

De um lado, Lula se volta para pautas econômicas tradicionais do PT. De outro, interlocutores tentam construir pontes com o mercado, ainda sem sucesso. Tudo somado, o PT mantém as dúvidas no campo econômico, a pouco meses das eleições, e com a certeza de que 2023 será um ano difícil na economia.

Encontro marcado

O economista-chefe do banco suíço Lombard Odier, Samy Chaar, alerta que o primeiro trimestre de 2023 será um divisor de águas na economia internacional. Em conversa com a coluna, direto de Genebra, ele disse que nos três primeiros meses do ano que vem ficará claro ao mercado se o Fed, banco central americano, será obrigado a dar um choque de juros ou se as expectativas para a inflação americana estarão em queda.

 “Essa é a grande dúvida hoje. Num cenário otimista, os juros param entre 2,5% e 3%. Mas se a inflação não cair, a taxa poderá subir mais. Seria doloroso para o resto do mundo”, avisou. Ontem, a presidente do Fed de Cleveland, Loretta Mester, não descartou um aumento de 0,75 ponto dos juros e trouxe volatilidade para as bolsas mundiais.

Freio de mão

O comércio subiu em março pelo terceiro mês seguido, mostrando algum fôlego neste início de ano. O olhar de mais longo prazo, entretanto, ainda é de sobe e desce no setor, como mostra o gráfico. Um dos problemas do varejo é o ciclo de alta dos juros pelo Banco Central, além da inflação corroendo a renda.

O Copom confirmou que subirá novamente a taxa na próxima reunião, em junho, e ainda deixou a porta aberta para um novo aumento, em agosto. O Itaú prevê que a Selic chegará a 13,75%, apenas 0,5 ponto abaixo do pior momento do governo Dilma.

Hoje sai o IPCA de abril, e a expectativa do economista Luis Otávio Leal é de alta de 1,01% com a taxa em 12 meses em 12,06%.

Míriam Leitão está de férias

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