Folha de S. Paulo
Fórmula para evitar reajustes agora pode
tornar mega-aumento inevitável após a campanha
Jair Bolsonaro percebeu que esbravejar no
cercadinho do Palácio da Alvorada não resolveria seu problema. Depois de trocar
o comando da Petrobras pela terceira vez, o presidente começou a discutir com
auxiliares uma
fórmula para segurar os preços dos combustíveis. A ideia é evitar reajustes
por 100 dias, mas alguns aliados trabalham para que um aumento só ocorra depois
da eleição.
O represamento já existe na prática. Pela política atual, a Petrobras deve acompanhar os preços do mercado internacional, mas a pressão de Bolsonaro já fez com que a empresa segurasse por dois meses o valor cobrado pelo diesel. A gasolina está sem reajuste há 75 dias.
O objetivo do governo é congelar os preços
por mais tempo e de maneira oficial, com o objetivo de controlar o impacto
político dos reajustes. O problema –como em tantas outras medidas improvisadas
de Bolsonaro– é que o plano tem um prazo de validade que se esgota ao fim da
campanha eleitoral.
Se quiser evitar reajustes sem criar uma
nova política permanente para os combustíveis, Bolsonaro pode ter que contratar
um tarifaço para depois da eleição. O mundo enfrenta uma
crise de energia que deve pesar ainda mais sobre o petróleo, e o Brasil
corre um risco de desabastecimento que vai pressionar o valor cobrado pelo
diesel.
O que deve levar algum alívio às bombas e
amenizar os prejuízos políticos do presidente será a redução
de impostos estaduais em discussão no Congresso. A limitação do ICMS sobre
a gasolina e o diesel pode permitir alguma redução de preços e até criar espaço
para que a Petrobras faça um leve reajuste.
A conta desse controle artificial chegará
com o fim da eleição. Caso a redução de impostos não seja suficiente para
equilibrar os preços, será praticamente impossível evitar novos aumentos.
Vitorioso, Bolsonaro terá que aceitar um reajuste significativo depois da
campanha ou fechar ainda mais o cerco sobre a Petrobras. Derrotado, ele deve
passar o problema ao sucessor.
Ao vencedor,as batatas,e batata-quente,diga-se.
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