Folha de S. Paulo
Tragédia da fome bolsonarista é uma
tragédia feminina
Na semana passada, foi publicado um estudo
da Fundação Getúlio Vargas sobre
insegurança alimentar no final de 2021 ao redor do mundo.
A porcentagem de brasileiros que relatou
não ter tido dinheiro para alimentar a si mesmo ou a seus familiares em algum
momento dos últimos 12 meses subiu
de 30% para 36%.
Pela primeira vez desde que a pesquisa é
feita, o percentual brasileiro é maior do que a média mundial (35%).
Como se pode imaginar, o problema foi muito pior entre os brasileiros mais pobres. Em 2021, 75% dos cidadãos que compõem os 20% mais pobres da população brasileira ficaram sem dinheiro para comer ou para alimentar suas famílias em algum momento. Três quartos.
Como notam os pesquisadores da FGV, a
proporção de brasileiros a quem faltou dinheiro para comprar comida é próxima
da proporção entre os cidadãos do Zimbábue, em que 80% da população relataram
ter passado pela mesma aflição.
A tragédia da fome bolsonarista é uma
tragédia feminina. A insegurança alimentar masculina, na verdade, caiu um ponto
percentual, de 27% para 26%.
Entre as mulheres, a fome cresceu de 33%
para 47%. A diferença entre homens e mulheres no Brasil é seis vezes maior do
que no resto do mundo. É altamente provável que fome
de mulher seja sinônimo de fome de criança.
Segundo o estudo da FGV, durante a
pandemia, a proporção de brasileiros que não
teve dinheiro para comer em algum momento em 2021 subiu quatro vezes
mais do que a média dos 120 países pesquisados (6 pontos percentuais no Brasil
contra 1,5 ponto percentual no mundo).
Em 2019, o Brasil estava em 81º lugar no
ranking dos países
com mais insegurança alimentar. Em 2021, pulou para 63º.
Isto é, no governo Bolsonaro, já cobrimos
um quarto da distância que nos separava do Zimbábue no ranking dos países em
que uma proporção maior da população tem dificuldade para conseguir o dinheiro
da comida.
Os dados da pesquisa são anteriores aos
desastres de 2022, em especial à guerra da
Ucrânia. Os pesquisadores da FGV falam, inclusive, de uma "estagflação
da pobreza" em 2022.
O termo estagflação é uma combinação de
estagnação e inflação. É uma combinação especialmente azarada: em geral, a
inflação sobe quando a economia está aquecida e a estagnação econômica derruba
os preços.
No momento, tanto inflação quanto
desemprego estão altos. Isso dificulta muito a resolução do problema, porque as
medidas para corrigir a estagnação trazem risco de inflação, e vice-versa.
Ou seja, vale para a insegurança alimentar
o que valeu para o número de mortes na pandemia: se uma coisa ruim acontece no
mundo, Bolsonaro faz com que seja pior no Brasil.
Bolsonaro até deu um pouco mais de atenção
para o problema da inflação atual do que deu para a pandemia: reclamou
da Petrobras. Mas não é empatia, é golpismo.
Se o diesel disparar de preço,
Bolsonaro perderá
apoio dos caminhoneiros, com quem conta para seu projeto de golpe.
Já a brasileira com fome e seu filho
faminto valem, para Bolsonaro, o mesmo que o brasileiro entubado: nada.
A lição é clara: vote para presidente
supondo que o (a) eleito (a) pode ser o (a) responsável por conduzir o Brasil
durante crises de vida ou morte.
Se tivéssemos feito isso em 2018, não teríamos elegido o palhaço fascista do Superpop.
Elegemos um ''palhaço fascista do Superpop'' mesmo,cruzes!
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