quarta-feira, 18 de maio de 2022

Fernanda Perrin: Silêncio de empresários sobre golpismo de Bolsonaro preocupa

Folha de S. Paulo

Empresariado brasileiro não se resume ao pato da Fiesp

Quem resume o comportamento político do empresariado brasileiro ao pato da Fiesp não está entendendo nada.

Nos primeiros estudos sobre o tema no país, nos anos 1950, os industriais eram vistos como uma força progressista, um potencial aliado na promoção de um projeto nacional de desenvolvimento em oposição aos interesses agroexportadores.

Essa teoria desmoronou em 1964, não apenas pelo apoio do empresariado ao golpe, mas porque o regime militar mostrou que o avanço do setor não era incompatível com uma sociedade autoritária e desigual.

Nesse período, as pesquisas buscaram entender por que, afinal, os industriais não assumiram o papel que supostamente deveriam desempenhar.

Com a redemocratização, a abordagem de classe perde espaço para estudos que encaram industriais como grupos de interesse, orientados por uma lógica pragmática em estratégias de lobby e financiamento político, por exemplo.

A análise de classe vai ser retomada nos anos 2000, em pesquisas sobre a relação entre a categoria e o PT –não só em termos programáticos, mas também políticos: para o choque daqueles de memória curta, a Fiesp apoiou Lula durante o escândalo do mensalão.

Infelizmente, muitas leituras mais recentes, especialmente após o impeachment de Dilma Rousseff, descrevem o empresariado com traços cartunescos: ora um conspirador frio e astuto que se impõe sobre a política, ora um fantoche histérico manipulado por ela.

Além de simplista, esse retrocesso analítico erra ao empacotar todo o empresariado em um único bloco, ignorando divergências internas relacionadas a setor, porte e relações com o Estado, o capital financeiro e o estrangeiro, para citar algumas.

O que a história nos mostra é um comportamento sobretudo oscilante, atravessado pela economia e a política, nem essencialmente democrático, nem essencialmente autoritário. Pendular, como cunhado originalmente pelo FHC dos anos 1960.

silêncio de entidades como CNI e Fiesp sobre o comportamento golpista de Bolsonaro nos diz algo: elas estão observando para onde pender.

 

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