Correio Braziliense
O grupo paulista não quer uma
candidatura própria, para assim poder abrir o palanque de Rodrigo Garcia em São
Paulo, numa tentativa desesperada de viabilizar a reeleição do atual gestor do
estado
O ex-governador de São Paulo João Doria
jogou a toalha e desistiu da candidatura à Presidência da República, após ser
comunicado pela cúpula da legenda que seria candidato de si mesmo. Doria perdeu
o apoio do grupo liderado pelo governador Rodrigo Garcia, que o sucedeu, e pelo
presidente do PSDB, Bruno Araújo, aliados aos presidentes do Cidadania, Roberto
Freire, e do MDB, Baleia Rossi. Se depender dos presidentes dos três partidos,
a candidata da chamada terceira via será a senadora Simone Tebet (MS), do MDB.
Doria foi vítima dele mesmo. Rompeu com seu padrinho político, Geraldo Alckmin, que hoje é o vice na chapa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A aliança de segundo turno que havia feito com o presidente Jair Bolsonaro, em 2018, rompeu-se no começo da pandemia da covid-19, por causa da política de distanciamento social adotada pelo governo paulista para restringir a propagação da doença. Quando o Instituto Butantan, pioneiramente, começou a produzir a vacina chinesa CoronaVac, Doria se tornou o principal adversário de Bolsonaro, cujo negacionismo combateu em entrevistas diárias pela tevê.
A superexposição na mídia, porém, alavancou
sua rejeição nas pesquisas de opinião, embora viesse fazendo um bom governo,
dos pontos de vista administrativo e financeiro. Doria nunca teve uma trégua
das lideranças petistas de seu estado, muito fortes nas áreas da saúde e da
educação, e também sofreu oposição sistemática dos bolsonaristas de São Paulo,
principalmente nas áreas do agronegócio e da segurança pública. Lançou-se
candidato à Presidência em situação muito desvantajosa do ponto de vista de
imagem.
Seu maior erro talvez tenha sido levar o
vice-governador Rodrigo Garcia do DEM para o PSDB, o que aprofundou seu
isolamento interno, afastando lideranças históricas, como Alckmin, que já
estava com um pé fora da legenda, e os ex-senadores Aloysio Nunes Ferreira e
José Aníbal. A mudança também provocou o afastamento de sua candidatura do
antigo DEM, que viria a se fundir com o PSL e formar o União Brasil. Além
disso, Doria terceirizou as articulações políticas com deputados federais,
estaduais e prefeitos, deixando-as a cargo de Garcia.
Ungido seu sucessor natural, Rodrigo Garcia
passou a operar com os deputados Carlos Sampaio (SP), Rodrigo Maia (RJ), Bruno
Araújo e Baleia Rossi para tornar irreversível a saída de Doria do Palácio dos
Bandeirantes. As prévias do PSDB, do ponto de vista prático, serviram apenas
para isso. Quando Doria ameaçou não disputar a Presidência e permanecer no
governo paulista, Garcia e Araujo assinaram um termo de compromisso garantindo
que apoiavam sua candidatura ao Planalto. Doria caiu na armadilha: renunciou ao
mandato de governador e acabou defenestrado.
Candidatura própria
Doria também nunca teve grande apoio fora de
São Paulo. A desistência dele, porém, não unifica o PSDB. Os líderes históricos
da legenda desejam lançar uma candidatura própria. Os nomes cogitados são os do
ex-governador gaúcho Eduardo Leite, que perdeu as prévias para Doria e retirou
sua candidatura, mas está desincompatibilizado para concorrer à Presidência; e
o senador Tasso Jereissati (CE), um dos fundadores do partido. O deputado Aécio
Neves (MG) e o ex-governador de Goiás Marconi Perillo defendem essa
alternativa.
Entretanto, a reunião da Executiva que se
realizaria hoje foi suspensa por Bruno Araújo. O grupo paulista não quer uma
candidatura própria, para assim poder abrir o palanque de Garcia em São Paulo,
numa tentativa desesperada de viabilizar a reeleição do atual gestor. Pesquisa
divulgada ontem pelo Real Big Data revela que o candidato petista Fernando
Haddad lidera a disputa com 29%, seguido de Tarcísio de Freitas (PR) e Márcio
Franca (PSB), com 15%. Rodrigo Garcia tem 7%. Nos cenários sem Haddad ou
França, Garcia permanece atrás de Tarcísio, o candidato de Bolsonaro.
A lógica das articulações da bancada
paulista para remover a candidatura de Doria foi a da alça de caixão difícil de
carregar. Com a desistência, a situação se alterou completamente, porque Garcia
não tem mais nenhuma desculpa para explicar sua desvantagem nas pesquisas
eleitorais e precisa recuperar a expectativa de poder que perde a cada dia. Ou
seja, provar que a rejeição de Doria era seu principal obstáculo. Tem a seu
favor o grupo econômico que apoiava seu antecessor e teve um papel decisivo no
convencimento de que o tucano deveria desistir de disputar a Presidência.
Entretanto, Tarcísio de Freitas também transita entre os empresários paulistas.
Viabilizar o palanque de Simone Tebet em
São Paulo é uma prioridade na terceira via, mas tanto Baleia Rossi quanto o
prefeito Ricardo Nunes (MDB), que administra a capital paulista, sabem que essa
não é uma prioridade do atual governador. A candidata do MDB tem apoiou
político de Garcia para impedir uma candidatura própria do PSDB, porém não tem
nenhuma garantia de apoio eleitoral no estado com maior eleitorado do país.
O brasileiro,por ser cordial,não vota com o cérebro,vota com o coração e o intestino,rs.
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