quarta-feira, 4 de maio de 2022

Vera Magalhães: Jovem, aliste-se!

O Globo

Sim, hoje é o último dia para tirar ou transferir o título de eleitor. Mas isso não é desculpa para não fazê-lo. Nunca foi tão importante que todos aqueles interessados em definir que rumo o Brasil tomará entendam que o caminho para isso começa pelo voto. E parece que os jovens, justamente aqueles cuja vida será mais afetada, e por mais tempo, por decisões dos políticos que venham a ser eleitos ou reeleitos em outubro, estão desconectados dessa realidade.

Pesquisa Ideia Big Data feita para o Jornal Nacional mostra o tamanho do problema: os jovens de 16 e 17 anos se informam sobre política por uma teia desconexa que tem portais, blogs e telejornais, mas também WhatsApp, Instagram, Facebook e até TikTok.

O levantamento mostra uma postura passiva do jovem diante da política: depois de ser impactados por informações que chegam em doses fracionadas por essas fontes heterogêneas e, em grande medida, heterodoxas, eles não se sentem aptos ou motivados a debater e opinar sobre aqueles conteúdos.

As razões são um mix dos dilemas que consomem em alguma medida todo aquele, de qualquer faixa etária, que se aventura no mar bravio das redes: medo de ser cancelado, o tom agressivo do debate e uma sensação de que aquilo que você disser não convencerá ninguém. Nesse cenário, não é de estranhar que tenhamos assistido neste ano ao menor índice de jovens na faixa em que o voto não é obrigatório se inscrevendo para votar.

A correria tipicamente brasileira nestes três últimos dias pode ajudar a atenuar a ausência desse público jovem das urnas em outubro, graças sobretudo a uma campanha, também tardia e não muito coordenada, que envolveu Justiça Eleitoral, artistas e formadores de opinião — e foi condenada ou ironizada pelo presidente Jair Bolsonaro, por seus filhos e por aquele entorno de sempre.

Outra pesquisa recente, do instituto Ipec, mostra que os jovens também não estão mobilizados para a necessidade e a importância de defender a democracia. Só 38% da faixa etária dos 16 e 17 anos diz que ela é um valor absoluto que deve ser preservado.

Diante de tal quadro de apatia e confusão quanto à política e ao papel que podem exercer como cidadãos, fica evidente que não basta instar a geração Z a tirar o título, mas é preciso que pais, avós, tios, professores, políticos e jornalistas percebamos que é preciso falar de uma forma que ela se interesse, se identifique e entenda que falar sobre política é falar sobre o futuro que quer para si, para os familiares e amigos, para o país e o mundo.

Numa realidade em que cada vez mais o futuro do trabalho será transformado, em que as habilidades sociais e discursivas contarão mais que determinado saber técnico imutável que formou gerações de trabalhadores até aqui e em que fatores como mudanças climáticas e novas pandemias poderão impactar de forma severa e muito rápida a existência dessas novas gerações, omitir-se por medo de ser cancelado não é uma opção inteligente.

Que os adultos assistam aos seus filhos e netos trancados no quarto em posição letárgica diante de uma ou várias telas, recebendo pedaços não confiáveis de informação de forma randômica, é uma tremenda irresponsabilidade, que não poderá ser redimida com a desculpa de que se está investindo em bons colégios e cursos de línguas.

Não se trata de uma opção entre esquerda e direita, essa dicotomia burra a que tudo sempre acaba reduzido — mesmo porque os dois levantamentos aqui citados mostram que, diferentemente do senso comum, esse jovem sub-18 se diz mais de direita que de esquerda.

A questão é formar futuros adultos aptos a mudar o estado de coisas caóticas ou desalentadoras que eles mesmos detectam, nas redes sociais ou no debate público fora delas. O primeiro passo para essa mudança é ir à urna eletrônica em 2 de outubro.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário