Folha de S. Paulo
Ano eleitoral e eleitoreiro ainda está
longe de acabar, mas o arsenal de mágicas ficou menor
Jair
Bolsonaro (PL) não perdeu os votos que juntou no início deste
ano, mostra o
Datafolha. Lula da Silva (PT) ganhou, bastantes até para vencer a
eleição no primeiro turno. O problema do candidato que ora ocupa o Planalto
volta a ser como não perder na primeira rodada. O que vai ou pode inventar, por
exemplo, em termos de favores econômicos? O ano eleitoral e eleitoreiro ainda
está longe de acabar, mas o arsenal de mágicas ficou menor.
Até as pesquisas de março ou abril,
Bolsonaro deve ter se beneficiado de Sergio
Moro (União Brasil) ter sido tirado da disputa, da discreta e
inesperada despiora da economia no início desde 2022 e de alguns favores
econômicos.
A julgar pelo Datafolha, a colheita magra
de intenções de votos acabou, por ora. Vai ser mais difícil colher safra melhor
na segunda metade do ano.
Segundo as melhores estimativas disponíveis, que ainda assim muita vez estão erradas, a economia teria crescido bem no primeiro trimestre, menos no segundo e começaria a encolher a partir de julho, fechando a segunda metade do ano no vermelho.
Por "cresce bem" entenda-se essa
despiora na miséria que estamos vendo: um número considerável de mais pessoas
empregadas, mas recebendo os piores salários da década, entre outros problemas
da situação do emprego. No segundo semestre, esse alívio minúsculo também
minguaria, segundo economistas. Fica a inflação, ora em mais de 12% ao ano e de
não menos de 10% ao ano até pelo menos a eleição.
Bolsonaro e o governismo não conseguiram
até agora dar um jeito nem no preço dos
combustíveis, apenas um dos que explodiram, mas praticamente o único
que mereceu empenho eleitoreiro. Ainda que passem no Congresso ou pela Justiça
todas as medidas de contenção de reajustes de energia e corte de impostos, a
redução de preço seria limitada e ainda demoraria a aparecer para o consumidor
final.
Mesmo que Bolsonaro consiga meter
a mão de vez na Petrobras, poderia fazê-lo apenas a partir de julho.
Ainda que tenha sucesso, pode acabar causando um desastroso desabastecimento de
diesel. O governo ainda tenta
inventar um bolsa-caminhoneiro (e taxista e motoristas e
motociclistas de aplicativo), mas nem esse caraminguá vai sair tão cedo.
Bolsonaro cismou de dar reajuste para
policiais federais. Os policiais acharam mixaria, o reajuste ainda não saiu e
boa parte dos servidores ficou revoltada por ter sido discriminada, sem
promessa de aumento, ou entrou em greve.
Houve sucessos, que podem ter evitado uma
queda de Bolsonaro na pesquisa. O saque
parcial do FGTS e renegociações de dívidas várias, por exemplo,
foram um alívio para o brasileiro esfolado. Descontos de impostos não
redundaram em queda de preços, mas podem ter evitado aumentos maiores. Mais
empregos, o Auxílio Brasil (Bolsa Família mais gordo) e favores por meio de
aumentos de dívida seguraram algum voto e compensaram a amargura da inflação,
para uns poucos. Mas, ao que parece, não conquistaram quase mais nada.
A comida continua a encarecer mais do que a
média de preços, do que Bolsonaro não se ocupou. A não ser em caso de decreto
legislativo louco do Congresso, a conta de luz subirá em boa parte do país. Os
planos de saúde, que afetam a população mais remediada, vêm tendo
reajustes ruins. Etc.
É possível que o comportamento cruel, desumano e degradante de Bolsonaro, seu golpismo, seu elogio da morte e das matanças e a fieira de atrocidades tenham enojado de vez parte do eleitorado. A dúvida é saber a que tipo de barbaridade ou golpe econômico ele vai recorrer a fim de evitar o risco de eliminação ainda no primeiro turno.
De Bolsonaro só devemos esperar coisa ruim.
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