O Globo
O ministro da Defesa apontou a espada para
o pescoço da Justiça Eleitoral. Na sexta-feira, o general Paulo Sérgio Nogueira
tentou enquadrar o presidente do TSE. Em papel timbrado, lançou novas suspeitas
sobre a urna eletrônica e endossou a retórica golpista de Jair Bolsonaro.
O ofício oscila entre o queixume e a
intimidação. Na parte lacrimosa, o general diz que as Forças Armadas “não se
sentem devidamente prestigiadas” pelo TSE. Na parte perigosa, descreve as
eleições como uma questão de “soberania nacional”. E cita trechos do artigo 142
da Constituição, deturpado por bolsonaristas que sonham com um novo golpe
militar.
A alegação de desprestígio é infundada. Os integrantes das Forças Armadas receberam mais privilégios do que qualquer outra categoria nos últimos quatro anos. Foram favorecidos na reforma da Previdência, acumularam salários acima do teto e abocanharam mais de seis mil cargos civis no governo, sem contar o comando de ministérios e estatais.
A segunda parte do ofício reúne mais
impropriedades. Nela, o general Paulo Sérgio parece querer dar ordens ao
presidente do TSE, ministro Edson Fachin. “Reitero que as sugestões propostas
pelas Forças Armadas precisam ser debatidas”, escreve, embora o tribunal já
tenha respondido todos os questionamentos enviados pelo Exército.
Em outro trecho, o militar diz que “a todos
nós não interessa concluir o pleito eleitoral sob a sombra da desconfiança dos
eleitores”. Segundo o Datafolha, a ampla maioria (73%) da população confia na
urna eletrônica. O general confunde o eleitorado brasileiro com a tropa
radicalizada do capitão.
No ofício, o ministro da Defesa ainda propõe
“incentivar-se a realização de auditoria por outras entidades, principalmente
por partidos políticos”. A passagem escancara o jogo combinado entre Paulo
Sérgio e Bolsonaro. Na terça-feira, o partido do presidente indicou uma empresa
para auditar as eleições. A entidade escolhida pelo PL foi um certo Instituto
Voto Legal, criado no ano passado por um engenheiro com formação militar.
Hoje completa-se um mês da melhor resposta
que a Justiça Eleitoral já deu às tentativas de interferência dos quartéis. “Quem
trata de eleição são forças desarmadas”, afirmou o ministro Fachin. A frase
deveria ter encerrado de vez o assunto, mas o bolsonarismo insiste em misturar
a farda com a urna.
Na quarta-feira, o general Paulo Sérgio foi
à Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara. Convocado para explicar o uso
de dinheiro público na compra de Viagra, comportou-se como um cabo eleitoral de
Bolsonaro. Ao fim da sessão, disse que o governo defende “os valores da família
brasileira” e “a liberdade do nosso povo”.
O último ministro da Defesa, general Braga
Netto, já subiu oficialmente no palanque. Filiou-se ao PL e deve ser candidato
a vice-presidente na chapa de Bolsonaro. Seu sucessor deveria guardar distância
da política partidária, mas tem se empenhado em seguir a mesma linha. Agora usa
o cargo para intimidar o Judiciário e ameaçar a democracia.
São todos farinha do mesmo saco.
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