O Globo
“Vocês são uma porcaria de imprensa! Cala a
boca!”.
As frases são de Jair Bolsonaro, em junho
de 2021. Em tom exaltado, o presidente se dirigia a uma repórter em
Guaratinguetá, no interior paulista. Ela tentava ouvi-lo sobre a notícia do
dia: a autoridade máxima do país havia sido multada por desfilar sem máscara na
pandemia.
“Esse jornalismo que vocês fazem é um
jornalismo podre!”.
Desde que Bolsonaro tomou posse, a imprensa
brasileira vive sob ataque permanente. O presidente trata os jornalistas como
inimigos. Ofende quem pergunta e tenta demonizar quem publica.
“Cala a boca! Não te perguntei nada!”.
Os ataques presidenciais resultaram numa escalada na violência contra a imprensa. Em 2021, o número de agressões a jornalistas e veículos de comunicação bateu novo recorde no país. Foram 430 casos, segundo a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj).
“Vocês atrapalham o Brasil com esse tipo de
notícia!”.
Bolsonaro foi diretamente responsável por
34,2% das agressões. A Fenaj contabilizou 129 situações em que ele agiu para
minar a credibilidade da imprensa. Em outras 18, agrediu verbalmente quem
tentava entrevistá-lo.
“Minha vontade é encher tua boca de porrada!”.
As investidas obedecem a um padrão. O
presidente é mais agressivo com mulheres e jovens repórteres que acompanham o
dia a dia do poder. Num dos episódios mais graves, ele ameaçou bater num
repórter que o questionou sobre depósitos suspeitos na conta da primeira-dama.
“Você tem uma cara de homossexual terrível!”.
As agressões de Bolsonaro geram um
efeito-manada. Ao ouvi-lo, seus seguidores se sentem estimulados a intimidar e
atacar a imprensa. Em maio de 2020, dois fotojornalistas levaram socos e pontapés
numa manifestação bolsonarista. Estavam na Praça dos Três Poderes, em frente ao
palácio presidencial.
“Jornal patife e mentiroso!”.
O clima de hostilidade transformou a
cobertura do poder numa atividade insalubre. No terceiro mês da pandemia, os
principais veículos foram obrigados a retirar seus repórteres da portaria do
Palácio da Alvorada. A medida foi necessária para protegê-los de agressões.
“Vocês são uns canalhas!”.
Os ataques ao jornalismo profissional
mancham a imagem do Brasil no exterior. O país ficou em 110º lugar no último
Ranking da Liberdade de Imprensa da organização Repórteres Sem Fronteiras. Na
América do Sul, só apareceu atrás de Venezuela, Colômbia e Bolívia.
“Vá para a p... que pariu!”.
O Dia Nacional da Liberdade de Imprensa
nasceu em 1977, quando cerca de três mil jornalistas se uniram pelo fim da
censura. Quarenta e cinco anos depois, o Brasil vê sua democracia novamente sob
ameaça. Todas as falas grifadas neste texto foram pronunciadas por
Bolsonaro. Os insultos a quem tem o dever de informar são mais um sintoma
da escalada autoritária no país.
Não vejo a hora que tudo isso acabe.
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