Folha de S. Paulo
Os dois polos estão ansiosos por
impulsionar a economia, mas ela depende das pessoas
Quase todo mundo acredita que o Estado
comanda, faz, impulsiona, conduz, movimenta, regula, gera a economia. Parece
bom, ou assustador, dependendo do ponto de vista de cada um sobre se o Estado é
sábio ou burro.
Essa crença é resumida num termo mágico, um
entre tantos que ganharam destaque nos últimos 200 anos: "política
pública". Se alguma coisa dá errado, pensam os modernos, deve haver
uma política pública que dê um jeito. Não fiquem parados. Façam alguma coisa.
Aprovem uma lei e os salários subirão. Aprovem outra e a indústria brasileira
vai prosperar.
É mágica efetuada com palavras. Veja
o discurso de Lula, algumas semanas atrás, quando delineou as políticas
públicas que vai adotar depois que for vitorioso em sua sexta tentativa de
chegar à Presidência.
O Estado vai estimular, conduzir, gerar a economia. Ou veja o bolsonarismo, parte do qual é feito de decisões sábias de não ter uma política pública, para começo de conversa, mas outras partes do qual nem tanto. Desencorajar as vacinas, por exemplo. Obstruir os direitos reprodutivos da mulher, por exemplo. À moda de nosso Trump, usar o discurso que Mussolini, Salazar ou Figueiredo usaram, por exemplo.
Entretanto, a maior parte da economia
depende dos esforços pessoais de brasileiros particulares, não do Estado. É
você quem planta a soja, vai ao escritório, dirige o caminhão, ensina o samba.
O Estado não administra escolas
de samba.
Nas palavras de Howard Becker, grande
sociólogo americano e aficionado do Brasil, a maior parte de nossa vida
econômica, social, pessoal, linguística, musical e espiritual compõe
"mundos" voluntários. As políticas públicas, essas coerções do
Estado, não ajudam. Elas regularmente destroem os mundos. Outro grande liberal
americano, P.J. O’Rourke, já morto, dizia que confiar mais políticas públicas
ao Estado é como dar uísque a um garoto de 16 anos. Apesar disso, esquerda e
direita estão ansiosas por impulsionar, conduzir e gerar.
É verdade que o Estado moderno, com
sua parcela
maciça do PIB arrecadado por impostos e seu controle regulatório sobre
boa parte do restante, possui, sim, o poder de impulsionar a economia aqui ou
ali.
No século 19, minha cidade, Chicago, tinha
políticas públicas estúpidas e era fantasticamente corrupta, mas também crescia
em ritmo fantástico e era extremamente próspera. Como explicar? Era porque o
Estado, mesmo sendo estúpido e corrupto de alto a baixo, era pequeno pelos
padrões modernos. Assim, a burrice e a corrupção não tinham grande importância.
Não é o caso da Chicago moderna, da São
Paulo moderna ou da Petrobras.
Tomem cuidado, meus queridos brasileiros.
*Economista, é professora emérita de
economia e história na Universidade de Illinois, em Chicago
É,ficar esperando que tudo caia do céu ou do Estado também não tá certo.
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