O Estado de S. Paulo
Atitudes erradas de hoje cobrarão um alto
preço no futuro próximo. Não há perdão na economia
Um dos papéis centrais e mais importantes
dos governos é gerenciar expectativas. Os anos mais recentes podem ter apagado
isso da memória dos brasileiros, mas cabe à administração central evitar
solavancos, tomar atitudes com firmeza, seriedade e serenidade, sempre com um
objetivo claro à frente. Em resumo, gerar as condições necessárias para que
consumidores, empresários, investidores, todos tenham uma percepção de
segurança e previsibilidade sobre os rumos do país.
A estabilidade é um ativo essencial para garantir investimentos e levar ao crescimento. Ninguém faz negócios, se arrisca em empreendimentos – seja abrir uma padaria ou investir bilhões em uma concessão de rodovia – sem uma boa dose de segurança e de confiança nos rumos do País. Não há melhor forma de proporcionar isso do que ter prioridades claras em política econômica, zelar continuamente pela estabilidade fiscal, demonstrar compromisso com o controle de gastos e da inflação.
Não é preciso voltar muito no tempo para
verificar a eficácia desta fórmula. Quando assumi o Banco
Central, em 2003, havia grande insegurança na economia sobre o
que seria o governo Lula. Uma das primeiras coisas que fizemos foi exatamente,
na primeira e na segunda reuniões do Copom, aumentar a taxa Selic para
controlar a demanda – e, com a finalidade principal: dar a sinalização clara de
uma política monetária rigorosa aos agentes econômicos, mostrando que o BC
agiria de forma independente. Isso começou a ter efeito positivo sobre as
expectativas. Posteriormente, uma das coisas que foi feita com cuidado e precisão
nas atas do Copom, foi dar uma sinalização da forma mais clara possível sobre
os próximos passos, de maneira a manter a previsibilidade da economia. Os
resultados foram positivos: não só a inflação convergiu para a meta, fixada em
8,5% em 2003, 5% em 2004, e 4,5% em 2005. De 2005 a 2010, a inflação média foi
4,5%, exatamente na meta.
A previsibilidade e a formação de
expectativas foram fatores importantes desta política monetária bem-sucedida.
Durante meus oito anos no BC, o Brasil cresceu 4%, em média.
O Brasil começa a entrar na fase mais aguda
da campanha eleitoral. É normal neste período haver muito falatório,
especulação e agitação em torno da perspectiva de poder. Caberia ao governo não
se aventurar em medidas improvisadas, criadas na última hora, em busca de
benefícios eleitorais de curto prazo, em detrimento de efeitos negativos de
longo prazo nas contas públicas. É preciso ter consciência de que não há perdão
na economia: as atitudes erradas deixarão marcas e cobrarão um preço alto no
futuro próximo.
Os liberais de fato deviam ter apoiado Henrique Meirelles e não o posto Ipiranga do Bozo.
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