O Globo
A relação tensa entre o Judiciário e o
Executivo, este auxiliado pelo Legislativo, e as investidas do governo contra a
Petrobras, criando um clima de insegurança jurídica para os investidores e um
ambiente de tensão na campanha eleitoral que coloca em risco a economia já
abalada, fazem com que a tentativa de um golpe de Estado caso o vencedor da
eleição presidencial de outubro não venha a ser o presidente Bolsonaro seja
considerada uma possibilidade concreta por nada menos que 23% dos 325
executivos, políticos, gestores, acadêmicos e especialistas dos setores
privado, público e do terceiro setor de todo o país ouvidos na primeira
quinzena de junho pela Macroplan, consultoria especializada em estratégia e
análises prospectivas, sob a coordenação do economista Claudio Porto.
— As referências a essa possibilidade, embora minoritárias, nos trazem a
certeza de que a democracia brasileira passará por um grande teste de estresse
antes, durante e depois das eleições de 2022 — pontua Porto.
As pressões sobre a Petrobras só cessarão quando for montado um conselho na
empresa que mude a política de preços. Mas, para isso, além de demitir três
presidentes em pouco tempo, é preciso alterar regulamentações internas, o que é
perigoso. Acionistas minoritários e investidores estrangeiros reclamarão de
quebra de contrato, será uma disputa jurídica monumental.
Bolsonaro dá prejuízos em cima de prejuízos à Petrobras, além de não dar
segurança jurídica a investidores. O candidato líder das pesquisas, o
ex-presidente Lula, vai pelo mesmo caminho de controle de preços. É um suicídio
o que estão fazendo atrás de votos, com uma política de preço populista que
sempre deu errado, vide a Venezuela, que tinha uma produção fantástica de
petróleo e quebrou a PDVSA. O próximo presidente da República terá muita
dificuldade para recuperar a imagem do Brasil, e se for Bolsonaro, o país não
entrará na OCDE; vamos ficar fora do circuito dos países democráticos
ocidentais, porque continuaremos a ter um presidente que não respeita os
limites da democracia.
Hoje é o presidente da Câmara, Arthur Lira, quem manda no governo. O Centrão
apostou todas as fichas na reeleição de Bolsonaro e está vendo a coisa
desandar. Por isso seus líderes adotam medidas imediatistas, que só fazem mal
ao país. Mesmo que Bolsonaro não se reeleja, Lira atua para que políticos do
Centrão tenham boa votação e que garanta sua reeleição como presidente da
Câmara. É o grande comandante político da campanha da reeleição, que transforma
o preço da gasolina em assunto fundamental, quando setores essenciais do país,
como educação, meio ambiente, cultura e saúde, são relegados a segundo plano.
De acordo com a consultoria Macroplan, a incerteza que se destaca no campo
político com relação à eleição presidencial gira em torno da chance de um
terceiro candidato passar para o segundo turno contra um dos dois atuais
preferidos nas pesquisas de opinião. Mesmo assim, as chances de uma via
alternativa ir para o segundo turno caíram 23 pontos (de 41% para 18%, na
comparação com pesquisa realizada em novembro de 2021), o que reforça o avanço
acelerado da polarização Bolsonaro x Lula.
No campo econômico, a incerteza principal é a possibilidade de a economia
melhorar neste ano, com um crescimento maior que 2,5% e inflação menor que 8%.
Finalmente, no campo institucional, a dúvida predominante está na probabilidade
de o candidato à Presidência tomar posse e governar, se o vitorioso não for o
atual mandatário.
Do cruzamento das previsões e expectativas colhidas entre os entrevistados com
os estudos realizados pela consultoria, o cenário mais provável hoje, com 57%
de chance, é a polarização Lula e Bolsonaro no segundo turno, com crescimento
econômico baixo (ou mesmo nulo ou negativo) e inflação superando 8% ao ano, que
tenderia a favorecer o candidato Lula. O segundo cenário mais provável, com 26%
de chance, é novamente de um segundo turno com uma polarização Bolsonaro x
Lula, mas com um panorama diverso: a economia cresce com mais vigor, talvez
superando 2,5% ao ano, e a inflação se mantém em torno de 8%. Um panorama que
poderia, eventualmente, ser mais favorável à reeleição de Bolsonaro.
Na sequência, surgem dois cenários com menor probabilidade de ocorrer. O
primeiro, com 12% de chance, é uma disputa entre um terceiro candidato (ainda
indefinido) e Lula, também num contexto de crescimento econômico baixo e
inflação significativa. O outro, com apenas 5% de probabilidade, é um confronto
entre um terceiro candidato e Bolsonaro num contexto de economia em expansão e
inflação cadente.
A chance do golpe é real,Bolsonaro só pensa nisso.
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