O Globo
O julgamento hoje, no plenário virtual do
Supremo Tribunal Federal (STF), da decisão do ministro Nunes Marques de
devolver o mandato de deputado federal a Fernando Francischini, cassado pelo
Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por ter espalhado fake news nas eleições de
2018, é decisivo para que tenhamos eleições limpas, sem interferências externas
pelas redes sociais.
O que está em jogo é o futuro da fiscalização eleitoral das eleições de
outubro. Nunes Marques exagera na fidelidade ao presidente Bolsonaro, que o
nomeou. É um juiz que segue orientações do presidente da República sem
constrangimentos. O próprio Bolsonaro, outro que não se constrange com nada,
anuncia aos quatro ventos que os votos de seus nomeados são garantidos. Também
André Mendonça se esforça para conciliar a lei com as vontades de seu protetor,
com mais recato.
A decisão de entregar novamente o mandato a deputados cassados por abuso de
poder econômico, nesse caso Fernando Francischini, é política. Se o deputado
continuasse cassado por fake news, estaria consolidada uma jurisprudência do
STF de que é possível cassar políticos já eleitos pelo uso indevido dos novos
meios e de fake news na campanha eleitoral. Com seu voto monocrático, Nunes
Marques impediu que essa jurisprudência se concretizasse, o que ajudaria
Bolsonaro, cuja tese defende liberdade total nas redes sociais, sem limites.
Seria terrível para a democracia, validaria mentiras, boatos e disseminação de
inverdades. O que o STF fará é reafirmar a posição do TSE, baseada em medidas
do próprio Supremo. O presidente do Supremo, ministro Luiz Fux, decidiu levar a
questão ao plenário virtual, a pedido da ministra Cármen Lúcia — embora Nunes
Marques quisesse que ela fosse discutida na Segunda Turma, onde tem maioria.
Mas acredito que mesmo lá ele perderia. Ser derrotado no plenário, porém, é
mais simbólico.
Nunes Marques até o momento não tomou uma decisão independente sequer. Ele se
comporta como um pau-mandado, sem nenhum pudor de servir ao presidente. Nem
mesmo questões de ideologia estão em jogo. Anular a cassação do deputado
federal Francischini é contra toda a posição do STF e do TSE de combate às fake
news. É uma contestação às decisões dos plenários dos dois tribunais
superiores. É grave.
Na verdade, não havia impedimento para que ele tomasse uma decisão solitária
contra o plenário. Mas não é comum. A tradição diz que não se deve alterar uma
decisão colegiada com uma medida monocrática. Provavelmente a votação de hoje
refletirá um movimento de apoio ao TSE e aos ministros Luís Roberto Barroso e
Alexandre de Moraes, os principais alvos do presidente Bolsonaro. Que, aliás,
não se vexa de atacar pessoalmente ministros do TSE e do Supremo, na ingênua
tentativa de personalizar seus “inimigos”, como se com isso não atingisse todo
o conjunto.
É uma situação delicada, um ministro será contestado por seus pares, mas ele
também não poderia tê-los contestado. Os votos provavelmente serão nuançados,
os ministros não querem desmoralizar Nunes Marques, que já está bastante
isolado, mas a maioria também não quer desacreditar a campanha contra as fakes
news, num momento em que medidas duras são anunciadas contra os candidatos que
abusarem dos novos meios para disparar mensagens ilegalmente ou espalhar
notícias falsas.
Bolsonaro está disposto a tudo para se reeleger. Basta ver a Proposta de Emenda
Constitucional (PEC) divulgada ontem pelo Palácio do Planalto, de zerar
impostos e subsidiar estados e municípios para reduzir o preço de gasolina,
diesel e etanol. A redução do ICMS sobre diesel, gás de cozinha e transporte
público, medidas para também reduzir o custo final ao cidadão comum, seria
compensada com medidas no âmbito dos estados. O custo desse populismo eleitoral
pode chegar à casa de R$ 50 bilhões, o que em parte pode ser compensado por uma
outorga da Eletrobras. Há também a possibilidade de a União abrir mão, em parte
ou no todo, de dividendos que receberá da Petrobras por ser sócia majoritária
da estatal.
Todas essas manobras estão sendo feitas à base de pressão dos políticos do
Centrão, e a toque de caixa, sem grandes reflexões, pois em agosto começa a
campanha eleitoral. A possibilidade de derrota, detectada pela maioria
esmagadora das pesquisas eleitorais, faz com que Bolsonaro perca o controle das
contas públicas, criando problemas para o país e para si mesmo, caso seja
reeleito.
Você publicou um artigo completamente atrasado vencido pela realidade o André Mendonça já pediu vista e foi encaminhado para a segunda turma mesmo o teu texto foi um desperdício
ResponderExcluirExcelente publicação. A decisão foi derrubada na 2a turma por 3 a 2. Mas o artigo mostra o rombo para as contas públicas seja quem for o eleito. Preço de propostas improvisadas.
ResponderExcluirColocaram um maluco sem beleza na presidência,se é que me entendem.
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