O Globo
A campanha eleitoral do Bozo, sem nada a mostrar de edificante (a aposentadoria diferenciada dos militares não vale), pretende martelar a implantação do Pix.
Como
exemplo de eficiência.
Deveria
usar o material pago por nosso dinheiro para contar que o Quênia lançou serviço
semelhante em 2007. Sendo mais exato: março de 2007.
Quênia,
Bozo, é um país no leste da África.
O
Pix queniano (sem malícia, Braga) nasceu por uma necessidade semelhante à
brasileira: a baixa bancarização entre as classes mais baixas por causa das
incríveis taxas cobradas pelos bancos tradicionais por quaisquer serviços. Lá,
como cá, a concentração de bancos é absurda.
Dois
anos atrás, o sucesso do Pix de lá se media por um número: 95% dos pequenos
negócios, inclusive pagamento de salários, se dava pelo aplicativo. Em 2020,
nasce o Pix brasileiro!
Outra cena provável, vinda da cabeça criativa de Valdemar “Boy” Costa Neto, exibiria o Bozo depois de sua motociata diária, mas preocupado com o preço do combustível, pregando a volta do voto em papel, auditável. Na garupa, com capacete, Paulo Guedes (que não é nenhum posto Ipiranga, mas uma loja de conveniência), fazendo seu religioso “V”.
Num
discurso eleitoral, Lula bate bumbo pela descoberta do pré-sal e, com isso,
pela desejada autossuficiência brasileira em petróleo. Exalta ainda que em seus
governos os pobres podiam comprar um carro 1.0.
A
fala não registra os imensos congestionamentos e a queima indiscriminada de
combustíveis fósseis.
São
os atrasos e valores brasileiros.
A
menos de quatro meses da eleição, nenhum dos principais candidatos falou da
chegada das novas tecnologias, como inteligência artificial, robótica,
computação quântica, engenharia genética ou mesmo carro sem motorista.
Em
resumo, não se abordou o novo estágio de produção econômica e seu impacto na
vida dos cidadãos, em seus empregos e, prosaicamente, na sua sobrevivência.
Seria
exagero, assim, pedir que discutissem as oportunidades trazidas pela vizinha
transição climática e pela substituição de ultrapassados modelos de produção.
Enquanto
o país fala de voto em papel, os brasileiros agora perdem duas revoluções em
andamento — a digital e a climática.
O
Brasil de 2022 se assemelha desgraçadamente aos anos do Segundo Império, quando
Dom Pedro II e a elite da época viravam as costas para a Revolução Industrial e
lutavam para manter mão de obra escravizada em suas fazendas. Gerou atraso
tamanho que resultou em mais uma jabuticaba brasileira: o Exército, como
vanguarda do atraso, deu golpe para implantar a República.
A
extrema direita e a velha esquerda, cada vez mais, têm diferenças apenas morais
e éticas e semelhanças igualmente dinossáuricas na visão econômica.
Ao
final de “Como um governo deveria ser — Os novos recursos da atuação estatal”,
do economista Jaideep Prabhu, ressurge a proverbial dúvida brasileira: quando a
vaca foi para o brejo? O livro discute o papel do Estado na vida contemporânea,
distante das tais idiossincrasias clivadas entre esquerda e direita. Lança mão
de uma postura millennial, onde o que importa não é se o gato é azul ou verde —
importa que pegue o rato.
Daí
que coloque as diversas visões sobre o Estado, do regulador da economia ao
inovador, ao experimental e mesmo ao inclusivo. Também àquele que induz a sociedade
a novos estágios ou à criação de oportunidades.
Como
vivemos uma ruptura nos modos de produção, é normal que surjam crises com a
substituição dos processos (extinção de profissões) ou diminuição de valores (a
massa salarial diminui cada vez mais para postos com baixo uso de tecnologia).
Prabhu
relata como o Estado se viu levado a abraçar obrigações desde a Primeira Guerra
Mundial. E o debate estabelecido entre os liberais (brigando por um Estado
Mínimo) e os estatizantes. Ao longo do livro, recolhe exemplos mundo afora de
iniciativas produzidas pela parceria Estado-sociedade ou Estado-iniciativa
privada.
Uma
pergunta dele, que vale para o Brasil: seria exagero pedir que os serviços
públicos tivessem a qualidade do Google ou da Amazon? Ambos usam ferramentas
(hoje todas disponíveis) para conhecer e ajudar a resolver problemas de seus
usuários. Por aqui, desgraçadamente, a Justiça Eleitoral, tecnologicamente
moderna, se encontra sob ataque dos milicianos e dos dinossauros.
A
reforma de Estado não se dá pelo aumento na quantidade de funcionários, como
ocorreu nos anos petistas, tampouco com o depauperamento de salários imposto
pelo Bozo, mas pela resposta à pergunta: o que funciona? A partir de tal
questão, o governo conservador no Reino Unido, depois a Casa Branca de Obama,
de centro-esquerda, criaram equipes para avaliar os serviços, oferecer soluções
e se antecipar a problemas.
Um
exemplo. O que Lula ou Bozo têm a dizer sobre carros autônomos? Até 2035, a
frota de automóveis, hoje perto de 1,2 bilhão, deverá cair 50%. Chegarão cerca
de 200 milhões de “táxis robôs”. Vale também para os caminhões. Ah, ainda há a
robotização em curso dos supermercados.
Assustador?
Detalhe: não é ficção.
Nossa ''elite'' política tem cabeça de dinossauro mesmo.
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