Folha de S. Paulo
Presidente tem medo de ser cassado, preso e
de traição, dizem assessores próximos
Jair
Bolsonaro acredita que o Tribunal Superior Eleitoral pode cassar sua
recandidatura. Está muito nervoso porque a governo e aliados no Congresso não
conseguem implementar medidas que diminuam sua impopularidade (combustíveis,
salários, redução do Imposto de Renda etc.) —não o ajudam a governar e o
enrolam.
Teme ser "traído" em breve se o
risco de derrota eleitoral permanecer alto. Abandonado, acha que aumentaria
também o risco de que ele, filhos, próximos e até Michelle Bolsonaro caiam na
mão de Justiça ou polícia.
Bolsonaro está com mais medo.
É o que dizem um assessor palaciano e um parlamentar que costuma fazer "pontes" entre governo, Congresso e o Supremo, que leva e traz panos quentes por ser "um amigo da estabilidade institucional e do diálogo", diz.
Assim explicam os últimos dois dias
explosivos, em que Bolsonaro, espumando, disse em público que não vai cumprir
"ordens absurdas" de tribunais, promessa logo sublinhada pela
lembrança de que é "chefe" das Forças Armadas. O novo surto pode ter
sido detonado porque o Supremo reafirmou a cassação do ex-deputado estadual
Fernando Francischini (União Brasil do Paraná), que perdeu o mandato por "fake
news" de fraude na eleição de 2018.
Não seria a estratégia de criar o tumulto
de costume, com ameaças ao STF etc.? As pessoas ouvidas pelo jornalista
desconversam um tanto. Dizem que a "preocupação" de Bolsonaro é
"real" e "legítima".
Mais uma vez agora, como em 2020 ou, em
particular, no
7 de Setembro de 2021, aliados no Congresso, os regentes do centrão e
turma, disseram a Bolsonaro para baixar o tom. Se por mais não fosse, a fúria
tira votos, indicam pesquisas qualitativas. A disseminação da ideia de que está
com medo de perder e que se debate de maneira desesperada ou eleitoreira pode
ser igualmente ruim, dizem.
Pesquisas qualitativas de meados de maio,
encomendadas por partidos fora do governo, sugeriam que o jeito violento e
"mal-educado" de Bolsonaro cai mal em particular entre mulheres,
pobres e não-brancos. Cai mal também o fato de Bolsonaro se
divertir com motos e jet-skis e tanta gente estar na miséria.
Um dos aliados de Bolsonaro diz que o
governo tem pesquisas qualitativas que "vão um pouco nessa linha".
Mais especificamente, os entrevistados não gostam de ouvir tantas falações que
tratem de fraude eleitoral, Supremo e que critiquem tanta gente, em vez de se
ocupar das dificuldades dos pobres e do futuro do país.
Urna, Supremo, é "discurso para
convertido", diz o parlamentar que tenta colocar panos quentes. Em tempos
mais calmos, conta, Bolsonaro parece "humilde", ouve o que dizem e
"até fica emocionado" (chora e dá abraços). De um dia para outro,
parece que "fica tomado por uma coisa ruim".
O parlamentar acha que os filhos (com a
possível exceção de Flávio), generais palacianos e "seguidores"
"botam pilha" em Bolsonaro. De qualquer modo, diz que Bolsonaro é
imprevisível e aparece com decisões que surpreendem até o círculo político mais
próximo, que não sabe bem de onde saem tais atitudes (citam nomeações
importantes e decisões sobre a Petrobras, por exemplo).
Como era de esperar, os dois informantes
dizem que não há hipótese de golpe, tentativa de melar eleição ou criar tumulto
de rua, embora o governo queira fazer uma grande manifestação no 7 de Setembro
de 2022. Bolsonaro estaria apenas indignado com "excessos", o que
exprime de modo "pouco adequado". Seria um homem muito
"tenso", "angustiado" e "inconformado" com o
"azar" que seu governo enfrentou (epidemia, guerra) e atormentado
pela ideia de traição e de ser desautorizado.
Bolsonaro se encontra num beco sem saída.
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