O Globo
Na contramão dos fatos, Bolsonaro insiste em
dizer que acabou com a corrupção. Para 73%, esse discurso já estourou o prazo
de validade
No último dia da campanha de 2018, Jair
Bolsonaro não saiu de casa. Limitou-se a fazer uma aparição nas redes sociais.
Com a vitória garantida, o capitão repetiu seu número preferido: prometeu
combater a corrupção e acabar com o loteamento de ministérios e estatais.
“O que está em jogo não é a democracia,
não. O que está em jogo é a perpetuação dessa máquina podre que nós temos aí,
que vive da corrupção”, pontificou. “O que está em jogo é a corrupção, são os
grupos que não querem sair de lá porque vivem mamando nas tetas do Estado”.
O discurso de Bolsonaro estava amparado em pesquisas. Depois de quatro anos de Lava-Jato, a corrupção aparecia no topo das preocupações dos brasileiros. No sétimo mandato de deputado, o capitão conseguiu fazer mágica e se vender como um outsider. A aliança com o juiz Sergio Moro, que aceitou abandonar a magistratura para virar ministro, deu o toque final no personagem.
O ilusionismo se sustentou por pouco tempo.
Antes de chegar à metade do mandato, Bolsonaro se acertou com partidos e
políticos que demonizava. Entregou a chave do cofre ao Centrão, que conquistou
poderes inéditos sobre a divisão do Orçamento.
Apesar do empenho presidencial para
capturar os órgãos de controle, os casos de corrupção voltaram a pipocar. No
fim de junho, a Polícia Federal prendeu o ex-ministro Milton Ribeiro, suspeito
de montar um balcão de negócios no MEC. Um mês depois, veio à tona um
propinoduto na Codevasf, estatal comandada pelo Centrão e abastecida com as
chamadas emendas do relator. A PF apreendeu R$ 1,3 milhão em dinheiro vivo com
um dos investigados.
Além de lidar com as suspeitas contra
aliados, o presidente é assombrado pelos rolos da própria família. Até hoje não
apresentou uma desculpa razoável para os R$ 89 mil depositados pelo operador da
rachadinha na conta da primeira-dama. Nem explicou a mansão de R$ 6 milhões comprada
pelo filho Zero Um em Brasília.
No último domingo, Bolsonaro lançou sua
campanha à reeleição com uma tropa de profissionais. Subiram ao palanque o
ex-presidente Fernando Collor, o ex-deputado Valdemar Costa Neto e o
ex-governador José Roberto Arruda. Mesmo com as novas companhias, o
candidato insistiu na retórica moralista. “Não tem jeitinho no nosso governo.
Três anos e meio sem corrupção”, afirmou.
Para a maioria do eleitorado, esse discurso
já estourou o prazo de validade. De acordo com o Datafolha, 73% veem corrupção
no governo. Apenas 19% acreditam na lorota do capitão, e 8% não sabem opinar.
Para a sorte de Bolsonaro, o combate à
roubalheira despencou no ranking de prioridades da população. O eleitor de 2022
se diz mais preocupado com saúde, desemprego, fome e inflação. O presidente
está atrás na pesquisa porque também não convence ao prometer soluções para
esses problemas. Segundo os números divulgados na sexta, 52% dos brasileiros
não acreditam mais em nada do que ele diz.
Bolsonaro é um loroteiro de primeira.
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