O Globo
Milton Ribeiro e Pedro Guimarães têm mais
em comum do que a folha de serviços prestados ao bolsonarismo. Até caírem em
desgraça, os dois cultivavam a imagem de “cidadãos de bem”, defensores da moral
e dos bons costumes.
O ex-ministro da Educação desembarcou em
Brasília com credenciais de pastor. Vendia-se como homem de fé, temente a Deus
e à bancada evangélica. Com sua fala mansa, quase pastosa, gostava de discursar
em defesa da família. Desde que ela não contrariasse os padrões impostos pela
igreja.
O ex-presidente da Caixa encarnava outro
tipo de “cidadão de bem”: o rico que dá lições de patriotismo e meritocracia. O
executivo também se apresentava como guardião das mulheres. Numa reunião
ministerial, disse estar disposto a pegar em armas para defendê-las — mas só as
da própria família, é claro.
O “cidadão de bem” não cultiva a modéstia. Mira o espelho e enxerga um virtuoso. Pensa ter tantas virtudes que se julga acima da lei. Em entrevista, Ribeiro ligou a homossexualidade a “famílias desajustadas”. A declaração lhe rendeu uma denúncia por crime de homofobia.
Cinco meses depois, o pastor seria preso
sob suspeita de comandar um balcão de negócios no MEC. De acordo com as
investigações, o esquema cobrava pedágio para repassar verbas aos municípios.
Um prefeito relatou ter recebido pedido de propina em barras de ouro.
Na quarta-feira, foi a vez de Guimarães ser
despejado da Caixa. Em depoimentos ao Ministério Público Federal, funcionárias
o acusaram de cometer abusos em série. Relataram toques indesejados, abordagens
impróprias, convites indecentes.
O “cidadão de bem” se embrulha na bandeira,
brada contra o comunismo e estufa o peito para se dizer conservador. Na
verdade, só quer conservar o direito de ser machista, racista e homofóbico. Ele
sabe que os tempos mudaram, mas não teme ser punido. No Brasil de 2022, o mau
exemplo vem de cima.
Bibliofobia presidencial
Que Jair Bolsonaro detesta livros, não é
segredo nem para as traças do Alvorada. Mas a bibliofobia presidencial tem
ganhado contornos inéditos com a proximidade da eleição.
Na sexta-feira, a Biblioteca Nacional
concedeu a Ordem do Mérito do Livro a Daniel Silveira. O deputado não deve ler
nem a bula dos anabolizantes que consome.
Um dia antes, o capitão manifestou horror
com a possibilidade da vitória de Lula: “Vai recolher as armas, clube de tiro
vai virar biblioteca...”
Diplomacia do Cavalão
Às vésperas do bicentenário da
Independência, Bolsonaro fez uma grosseria com o presidente de Portugal:
cancelou, pela imprensa, um almoço marcado para segunda-feira.
O capitão retirou o convite ao descobrir
que Marcelo Rebelo de Sousa também se encontraria com Lula. O português nem
tentou simular incômodo: “É possível o almoço, tudo bem. Não é possível,
ninguém morre”.
Avesso à diplomacia, Bolsonaro já acumulava episódios de incivilidade com líderes eleitos de França, Alemanha, Noruega, Estados Unidos, Argentina, Chile e Bolívia. Agora acrescenta à lista mais um chefe de estado europeu.
Pois é,o Lula que era tachado de ser inculto,hoje virou defensor de livros e bibliotecas.
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