O Globo
Um chefe de Estado convoca diplomatas de
todo o mundo para enxovalhar a imagem do próprio país. Aconteceu no Brasil de
Jair Bolsonaro, com a cumplicidade de generais e a conivência do Itamaraty.
Os embaixadores que foram ao Palácio da
Alvorada assistiram a um espetáculo de autoavacalhação. Num longo monólogo, o
presidente mentiu sobre a urna eletrônica, atacou ministros do Supremo e
sugeriu ter apoio das Forças Armadas para melar a eleição. Reduziu o Brasil a
uma república de bananas, onde o voto popular conta menos que a opinião dos
quartéis.
Diante da plateia estrangeira, o capitão cometeu uma série de crimes de responsabilidade. Atentou contra o livre exercício do Poder Judiciário, ameaçou a execução da lei eleitoral, incitou militares à indisciplina. Todos os delitos estão tipificados na lei do impeachment, que virou letra morta nos últimos quatro anos.
Bolsonaro pisoteia a Constituição porque
não tem medo de ser punido. Sabe que Augusto Aras e Arthur Lira estão de
plantão para protegê-lo. O procurador-geral da República silenciou sobre as
novas ameaças à democracia. O chefão da Câmara só apareceu nas redes para
comentar a pré-campanha em Arapiraca.
O presidente atacou o sistema eleitoral na
presença de seus generais de estimação. Estavam no Alvorada três ministros que
integraram o Alto-Comando do Exército: Paulo Sérgio Nogueira, Augusto Heleno e
Luiz Eduardo Ramos. Completava o quarteto o ex-ministro Braga Netto, candidato
a vice-presidente na chapa governista.
O comício do Alvorada também marcou um novo
episódio de aviltamento do Ministério das Relações Exteriores. Os embaixadores
foram recebidos pelo chanceler Carlos Alberto França, que já havia participado
de manifestações golpistas ao lado do chefe.
O ex-ministro Ernesto Araújo era
transparente: queria transformar o Brasil em pária na comunidade internacional.
Seu sucessor é menos caricato, mas está a serviço da mesma agenda de destruição
do Itamaraty.
Ernesto Araújo tinha orgulho do Brasil ter se tornado um pária.
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