Folha de S. Paulo
Além de atacar urnas, presidente precisa
desafiar realidade de não ter maioria para continuar no cargo
Jair Bolsonaro abriu e encerrou seu
discurso a embaixadores reunidos no Palácio da Alvorada com vídeos de
passeios e motociatas pelo país. A exibição das imagens não foi acidental. Além
de apontar falsas vulnerabilidades no sistema de votação, o presidente trabalha
para desafiar a dura realidade de não ter, ao menos até agora, apoio da maioria
da população para continuar no poder.
Com essa venda casada, Bolsonaro tenta arrasar a noção básica da democracia de que a vontade popular deve ser expressa através do voto. Em sua trama contra as eleições, o presidente não quer apenas espalhar a ideia de que as urnas eletrônicas não são seguras o suficiente para esse processo, mas também sugerir que nenhum desfecho diferente de sua vitória seria legítimo.
É por isso que Bolsonaro invalida qualquer
sinal de preferência por seus adversários. Funciona assim com as pesquisas de
intenção de voto, manifestações de apoio a outros candidatos e, em última instância,
o resultado das urnas....
O presidente faz um esforço infantil para
substituir esses elementos por conceitos que ele mesmo estabelece. Na conversa
do Alvorada, ele quis convencer os embaixadores de que não há chance de adesão
majoritária a Lula. "Os senhores viram, no começo, vídeos passando. Eu
ando o Brasil todo, sou bem recebido em qualquer lugar, ando no meio do povo. O
outro lado, não", disse.
É evidente que Bolsonaro consegue reunir
muita gente nas ruas e ainda tem chances de subir nas pesquisas, mas só um
político muito preocupado em sofrer uma derrota nas urnas pode apelar para
bobagens como vídeos de campanha ou um
certo Datapovo.
Bolsonaro faz essa jogada porque nenhuma das supostas sugestões das Forças Armadas para aperfeiçoar as urnas e aumentar a transparência mudaria o resultado final de nenhuma eleição. Elas só vão servir para que o presidente grite que houve fraude e reivindique uma maioria para permanecer na Presidência. Vale tudo, menos ganhar no voto.
Ele copia o Mussolini e leva muito jeito nisso.
ResponderExcluir