O Globo
As consequências disso devem ser muito
persistentes, tanto para eles, quanto para o país
Eu saí da universidade e entrei no mercado
de trabalho no começo de 2011. O momento do país era tão diferente que parecia
outra realidade. Eu e meus colegas estávamos otimistas. O futuro parecia um
oceano de possibilidades. Muitos nos aventuramos em outra cidade ou mesmo fora
do país.
Sem que soubéssemos, o Brasil estava no
começo do ocaso de um ciclo de estabilidade econômica e crescimento com
distribuição de renda. Essa mudança de ciclo marca uma diferença muito grande
com relação à geração imediatamente posterior à minha.
Parte da chamada “Geração Z”, nascida entre
1995 e 2005, também já entrou no mercado de trabalho. Quem virou adulto entre
2015 e 2020 já viveu duas das piores crises econômicas da história do Brasil. O
Brasil que eles encontraram é muito diferente do que eu encontrei.
Primeiro, eles enfrentaram a Crise da Nova Matriz Econômica (2014-16), durante o governo Dilma Rousseff.
A partir de 2011, o país entraria em um
ciclo de paulatino descontrole da inflação, excesso de subsídios, distorções
microeconômicas e deterioração fiscal. O processo culminaria em uma queda nos
níveis de investimento e confiança de empresários e consumidores; explosão nos
juros futuros após a descoberta de fraudes fiscais; e uma grande crise
econômica.
Não foi qualquer crise. A Crise da Nova
Matriz Econômica registra o pior biênio de crescimento da renda nacional no
Brasil desde 1900, quando começa a série histórica. Renda, emprego e
oportunidades colapsaram.
Alguns anos depois de uma crise dessas
proporções, a mesma geração teve de encarar a Crise do Coronavírus — ocorrida
por causa da pandemia e alongada pela má gestão sanitária do governo Bolsonaro.
Nela, o número de empregos chegou a cair em
10% para homens e 16% para mulheres. Os trabalhadores mais afetados por essa
volatilidade tendem a ser aqueles com menor experiência de trabalho —
justamente os mais jovens.
Embora o nível de emprego tenha retornado
àquele anterior à pandemia, a renda real média ainda não recuperou as perdas.
Esses jovens, primeiro afetados pelo desemprego, agora veem a inflação corroer
seu poder de compra.
Mas quais são os efeitos de longo prazo de
virar adulto em grandes recessões, como ocorre com essa geração? A literatura
científica indica alguns padrões persistentes.
Os economistas Hannes Schwandt e Till von
Wachter analisaram os efeitos das condições econômicas quando da entrada das
pessoas no mercado de trabalho.
Eles demonstram que os efeitos negativos
sobre a renda de entrar no mercado de trabalho durante crises econômicas são
persistentes — duram mais de uma década. A lógica é que se você entra no
mercado de trabalho durante uma crise, talvez aceite um emprego de pior
qualidade — e, por custos de mudança e inércia, fique “preso” a esse emprego
até ter a chance de buscar outro.
Já Brian Bell, Anna Bindler e Stephen
Machin estudaram um tema de particular importância para o Brasil: os efeitos de
recessões sobre a capacidade do crime organizado de recrutar pessoas. Em
teoria, condições econômicas adversas reduzem o custo de oportunidade de
ingressar no crime — e podem induzir muitos jovens a seguir esse caminho.
Os pesquisadores compararam gerações que
terminaram o Ensino Médio durante crises econômicas regionais nos Estados
Unidos e no Reino Unido com aquelas que se graduaram durante as bonanças. Com
isso, demonstraram empiricamente a previsão teórica.
Além disso, embora a maior probabilidade de
cometer um crime seja mais acentuada entre os mais jovens, a diferença persiste
por 15 anos após a formatura.
Por último, a experiência da crise
econômica no ingresso do mercado de trabalho pode alterar as crenças das
pessoas. Paola Giuliano e Antonio Spilimbergo estudaram os efeitos de crises
macroeconômicas sobre as crenças. Eles demonstram que indivíduos que
experienciam recessões durante a juventude: (a) tendem a acreditar que o sucesso
na vida depende mais de sorte do que de esforço; (b) são mais propensos a
apoiar programas de redistribuição de renda; e (c) têm menos confiança nas
instituições públicas.
Eu escapei por pouco do infortúnio da
Geração Z brasileira: não enfrentei duas das piores crises econômicas ao entrar
no mercado de trabalho. A Geração Z é uma Geração Zombada pelos erros de gestão
dos políticos brasileiros. E as consequências disso devem ser muito
persistentes, tanto para eles, quanto para o país.
A Geração Z que escolha os dirigentes certos,os menos piores.
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