Folha de S. Paulo
Se aprovada em plebiscito, proposta
destruirá o governo de Gabriel Boric
"O Chile é um Estado social e
democrático de Direito. É plurinacional, intercultural, regional e
ecológico." A Constituição emanada da
Constituinte chilena é um retrato em 3 por 4 da nova esquerda:
a coleção completa de suas utopias, doutrinas e dogmas. Se for aprovada em
plebiscito, destruirá o governo de
esquerda de Gabriel Boric –
e qualquer governo que o suceder.
Nos seus infindáveis 388 artigos, não se
contenta em listar os direitos dos humanos, determinando até que o Estado
promova uma "educação baseada na empatia e respeito pelos animais"
(art. 131). Segundo o artigo 18, a "Natureza" torna-se um sujeito de
direitos, ao lado dos cidadãos e das nações
indígenas –mas, claro, o texto não define quem fala por ela.
A Constituinte nasceu da onda de protestos sociais de 2019 e 2020. Sob o impulso das ruas, formou-se uma maioria de ativistas de movimentos sociais e partidos de esquerda que não reflete a balança de forças real da sociedade chilena. Nas eleições do ano passado, Boric conseguiu apenas 26% dos votos no turno inicial, e a esquerda obteve 27% dos assentos na Câmara, contra 48% dos partidos de centro-direita e direita. O texto constitucional, porém, reflete um país imaginário, habitado exclusivamente pela esquerda pós-moderna.
A política identitária esparrama-se por
todas as esferas. A palavra "gênero" é mencionada 39 vezes.
Garante-se a "paridade de gênero" em todos os órgãos da administração
estatal, na direção das empresas públicas e, inclusive, nas organizações
políticas não estatais (artigos 2 e 163). A "paridade de gênero" aplica-se,
ainda, a todos os órgãos eleitos de representação popular, o que viola o
direito dos cidadãos de escolher livremente seus representantes.
De acordo com o artigo 312, os tribunais
"devem resolver com enfoque de gênero", uma regra subjetiva que ergue
o espectro da potencial inconstitucionalidade sobre qualquer decisão judicial.
O mesmo indefinido "enfoque" aplica-se ao "exercício das funções
públicas", o que possibilita judicializar os mais corriqueiros atos
administrativos.
O Estado de Direito, consagrado no artigo
inicial, é relativizado pela proclamação da plurinacionalidade. Os povos
indígenas são declarados "nações" e ganham direito à
"autonomia" e ao "autogoverno", o que inclui
"instituições jurisdicionais tradicionais" (art. 34). Daí decorre que
a proteção geral dos direitos individuais, civis e políticos não se
estende aos
indígenas.
A nova
Constituição ampara-se na crença implícita de que o Chile é um espaço
edênico de abundância ilimitada, de cujo céu jorra leite e mel. A seguridade
social pública deve proteger integralmente as pessoas do nascimento à morte,
inclusive nos casos de "redução dos meios de subsistência" (art. 45).
Estabelece-se um direito universal ao trabalho "de livre escolha" e
proíbe-se "todas as formas de precarização no emprego" (art. 46). O
seu elenco de direitos abrange "moradia digna" em "localização
apropriada", assegurada por ações estatais (art. 51).
Nem todos os direitos são acolhidos pelo
texto constitucional. Fica "proibida toda forma de lucro" nas
instituições de educação básica, média ou superior (artigos 36 e 37). O artigo
51 veta a especulação imobiliária "que ocorra em detrimento do interesse
público", um critério aberto às mais bizarras interpretações das maiorias
políticas de turno.
Uma nuvem de incerteza paira sobre o
plebiscito da nova Constituição. Sondagem recente registrou reprovação de 51%,
contra aprovação de 34%, Na hipótese de rejeição, o país ficará com a Constituição
herdada da ditadura de
Pinochet. Na hipótese oposta, o Chile rumará à
ingovernabilidade e se inviabilizará o mandato de Boric, um presidente de
esquerda que recusa tanto o autoritarismo quanto o populismo. De um modo ou do
outro, a nova esquerda cumprirá sua missão reacionária.
O preconceituoso colunista exagerou como nunca. Gosto de lê-lo, pois às vezes ele tem análises corretas e interessantes, mesmo contrárias à Esquerda e ideologicamente comprometidas. Algumas preocupações levantadas neste texto são até verdadeiras, mas a quantidade de bobagens que ele incluiu é surpreendente. Ele deve estar mesmo bem revoltado com os rumos da progressista constituição chilena!
ResponderExcluirEsse demetrio é um idiota de marca maior. Como o comentario acima, eu tambem o leio pq é bom ver o retrato da direita que sabe distinguir os talheres na mesa, mas isso nao diminui a leitura xucra de mundo. Quanto a coluna em si, a figura está preocupada não com a constituição nova do Chile, mas com a nova esquerda que ele odeia. The new left, essa esquerdinha foucaltiana e francesinha nao me agrada também, so que o colunista a odeia pq é um preconceituoso, já eu pq vejo nisso nada de esquerda. Aliás, marx se revira no tumulo quando intitulam esse movimento como nova esquerda. De esquerda nao tem nada.
ResponderExcluirPois é,e o colunista já foi militante de esquerda na juventude.E quem não foi?
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