O Estado de S. Paulo
Indianos, africanos, escandinavos.
Brasileiros, ucranianos, cabo-verdianos. Todas as cores, sabores e gêneros.
Quem vai a Lisboa não se impressiona apenas com a mistura de vários estilos
arquitetônicos espalhada em colinas às margens do Rio Tejo. O que chama a
atenção é a riqueza humana – que se traduz em vibração musical, cultural e
gastronômica.
Lisboa conseguiu sua melhor classificação de sempre – o terceiro lugar – no ranking de qualidade de vida da revista britânica Monocle. A lista se destaca por ir além de índices como cobertura verde e números de segurança pública – quesitos em que, por acaso, Lisboa pontua bem. “Olhamos também para questões imateriais, o chamado ‘soft power’”, diz a jornalista portuguesa Carlota Rebelo, da Monocle, entrevistada no minipodcast da semana.
Rebelo trabalha há oito anos na Monocle, em
áreas ligadas à cultura e ao urbanismo. Ela explica que ter uma praia perto da
cidade e restaurantes abertos até tarde compõem o que ela chama de “soft
power”. O principal, no entanto, é atrair gente criativa de várias culturas.
“Somam-se também os portugueses jovens que haviam ido para outros lugares da
Europa e, com a possibilidade de trabalhar remotamente, voltaram a Portugal”,
diz Rebelo. “Com isso, novas ideias e novos negócios surgiram por toda Lisboa.”
Lisboa é também resultado de uma sucessão
de políticas públicas bem-sucedidas em diversos níveis de governo. Os
social-democratas fizeram o ajuste fiscal que deu equilíbrio às contas
públicas. Os socialistas, que chegaram posteriormente ao poder, criaram
políticas a favor da integração e contra a gentrificação.
Ainda há dificuldades burocráticas para
quem opta por morar em terras lusitanas – mas, na contramão do nacionalismo
tacanho que pipoca em várias nações europeias, Portugal é cada vez mais um país
de imigrantes. Num evento comemorativo dos 200 anos da Independência do Brasil,
o presidente Marcelo Rebelo de Sousa saudou o contingente de mais de 200 mil
brasileiros como o melhor efeito da interação histórica, frequentemente
violenta, entre os dois países.
O Brasil é um país multicultural, mais até que Portugal, mas com imensa exclusão social. Como fazer com que nossa enorme riqueza humana se traduza em cidadania, prosperidade – e metrópoles vibrantes e criativas? Dezenas de políticos e juristas brasileiros estiveram em Lisboa nas duas últimas semanas, participando da temporada de simpósios e debates de verão. Que voltem com ideias concretas para o Brasil. Lisboa pode ser uma inspiração para nós – e não apenas um sonho feliz de cidade.
Meu circunvizinho foi morar em Portugal.
ResponderExcluir