Sob essa sinistra orientação, nega-se a
lisura do processo eleitoral realizado por urnas eletrônicas, prática usual bem-sucedida
entre nós, coincidente com várias pesquisas eleitorais que apontam a vitória
oposicionista por larga margem de votos, e se urde no preparo do que em
linguagem popular significa melar a apuração eleitoral, possivelmente com o
concurso de ações criminosas por parte de esbirros milicianos. O golpe está
sobre a mesa disponível para o uso.
O cometimento desse ultraje que se premedita é de gravidade inaudita, e, caso ocorra, poderá suscitar um amplo movimento de indignação, nacional e extramuros. Na eventualidade, é preciso atentar para os cálculos dos estrategistas do golpe que contam com um tumulto superveniente para desferir o movimento desde sempre desejado, a restauração, remodelada, aqui e ali, do regime do AI-5.
Faz tempo que os democratas brasileiros
aprenderam serem as eleições sua forma superior de luta e desse terreno não se
afastarão a qualquer pretexto. Nesse sentido, as provocações de que são alvo
devem ser ignoradas, levantando contra elas as instituições que afiançam a
defesa do Estado democrático de Direito, ao tempo em que ampliam suas alianças
nos limites do possível, admitindo sem restrições mesmo antigos aderentes do
bolsonarismo e que dele se descolam.
Se porventura um ato de força vier a
frustrar a conclusão do processo eleitoral por uma intervenção ensandecida do
voluntarismo político, ele não terá como encontrar sustentação no mundo das
coisas reais, estamos bem distantes das
circunstâncias presentes à época do golpe de 1964, não somos peças importantes
num cenário de guerra fria como dantes, aliás é diversa a clivagem entre as
superpotências desde a emergência da China, a floresta amazônica brasileira não ocupava papel de centralidade na agenda mundial
do meio ambiente atual, e sobretudo ainda não tinham aflorado com a força de
hoje movimentos sociais como os de gênero, dos
negros e dos indígenas, trazendo uma demografia política mais plural e
democrática, que já se reflete nas pesquisas eleitorais.
Ainda há tempo a fim de arregimentar um
vigoroso sistema de defesa que impeça a efetivação da trama do golpe, para que
importa a mobilização da opinião pública internacional e das organizações
mundiais afetas à defesa dos ideais civilizatórios, a que não deve faltar
manifestações massivas populares. Em Roma os gansos do Capitólio grasnavam em
advertência a perigos que ameaçassem a república, o desacato infligido a nossa
democracia por esse projeto mal ajambrado de um governo tirânico de Bolsonaro
perante embaixadores de países amigos, finalmente desatou a voz dos que ainda
permaneciam em silêncio. A salvação da nossa república está em traduzir o que
ainda é um alarido num clamor público cuja máxima potência sirva de advertência
a seus inimigos para que recuem dos seus projetos temerários.
*Luiz Werneck Vianna, Sociólogo, PUC Rio
Advertência supimpa!
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