O Estado de S. Paulo
General enxerga a destruição da democracia
e da moral pública no orçamento secreto
O primeiro-ministro inglês, Neville
Chamberlain, e o colega francês, Édouard Daladier, foram a Munique, em 1938,
encontrar Mussolini e Hitler. Queriam apaziguar o alemão. Entregaram um aliado
– a Checoslováquia – a Hitler, pois existiriam milhões de razões para a paz e
nenhuma para a guerra. Na Inglaterra, Winston Churchill pensava diferente.
“Entre a desonra e a guerra, eles escolheram a desonra. E terão a guerra.”
No Brasil de Jair Bolsonaro, os militares que o apoiam vivem um dilema. Quem mostra é um dos que se distanciaram do presidente. “O orçamento secreto é imoral, a começar do nome. Não tem cabimento, não tem critério ou transparência. É vergonhoso”, disse o general Santos Cruz, que deve desistir da candidatura à Presidência pelo Podemos e disputar uma vaga no Congresso. Ele comentava a confissão do colega de partido, o senador Marcos do Val (ES), que recebeu R$ 50 milhões em emendas para apoiar Rodrigo Pacheco (PSD-MG), no Senado.
“O
problema não se resume a R$ 50 milhões para um parlamentar. São bilhões para
alguns. É um mensalão de última geração, um mensalão orçamentário. É imoral. Só
não é crime porque se legalizou a imoralidade”, afirmou Cruz. A manobra que
conduz milhões para parlamentares foi a forma de o governo Bolsonaro – um
consórcio entre generais e expoentes do Centrão – domesticar o Congresso, cuja
rebeldia irritava o general Augusto Heleno.
“O problema é o Brasil perder a capacidade
de indignação. Um país anestesiado. Um governo e os Poderes que banalizaram
absurdos, fanfarronices, covardias, manipulações da opinião pública e
desrespeitos à população.” O general vê um ambiente de destruição da
democracia. “É a falta de vergonha.”
A confissão de Marcos do Val ao Estadão parece
coisa do passado, envelhecida, diante da rapidez com que as tragédias se
empilham sobre os restos da moralidade e da ordem pública no Brasil. A morte de
Marcelo Arruda, tesoureiro do PT, em Foz do Iguaçu, não o surpreendeu.
A desumanidade e o arbítrio estavam presentes
nos assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, na
destruição da Amazônia e nos 675 mil mortos pela covid-19 por um governo que
escolheu a cloroquina e desprezou a vacina. O negacionismo escondeu o ouro dos
pastores da Educação, quis impor o voto impresso, aparelhou com militares a
Esplanada e aprovou a PEC Kamikaze.
Em 1939, Churchill se mostrou correto: a
2.ª Guerra começou e devastou a Europa. No Brasil de Bolsonaro, o
primeiro-ministro britânico diria que, entre o arbítrio e a corrupção, os
generais do Planalto escolheram o arbítrio. E tiveram a corrupção.
O governo Bozo tem tudo que não presta.
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