O Globo
A exacerbação da retórica radicalizada do
presidente Bolsonaro à medida que se aproximam as eleições, com indicações de
dificuldades quase intransponíveis para sua reeleição, demonstra que ele não
está aceitando a derrota e prepara o terreno para uma subversão do resultado.
Informações não desmentidas de que a recente reunião ministerial, além da
ilegalidade de ter tratado da campanha eleitoral, foi uma exaltação a um golpe
de Estado com ares de legalidade, fazem com que o sinal de alerta tenha sido
ligado em diversas instituições democráticas, e provocou a denúncia do
Observatório para Monitoramento dos Riscos Eleitorais no Brasil à Comissão
Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA).
Bolsonaro ameaçou as eleições novamente na reunião ministerial no Planalto. O
caso é mais sério porque o general Braga Netto, ex-ministro da Defesa, estava
presente, e o atual ministro da pasta, general Paulo Sergio, respaldou as
ameaças, ao afirmar que o TSE não respondeu às demandas das Forças Armadas. O
primeiro absurdo é fazer reunião ministerial para tratar de eleições durante o
expediente dentro do Palácio do Planalto, e pedir aos ministros que participem
da campanha.
Os relatos indicam que o presidente disse que, se as informações pedidas pelas
Forças Armadas não forem dadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ele
não participará da eleição. Isso é diferente de “não vai ter eleição”, como
vinha ameaçando. Pode desistir, se sentir que vai perder já no primeiro
turno? Não parece de seu feitio, o que aumenta a possibilidade de que pode
tentar decretar um estado de sítio, ou medida semelhante. O que passa pela
cabeça dele não pode ser coisa boa, porque está batendo com muita persistência
nas urnas eletrônicas, e nos dias mais recentes tem claramente estimulado uma
reação de seus seguidores: “Vocês sabem o que têm que fazer”, disse Bolsonaro
nada enigmático.
Ele não tem escrúpulo, vai avançando sobre as leis e sobre os limites, e os tribunais
ficam numa situação difícil porque, se impugnarem sua candidatura, o que
já merecia ter acontecido, tantas são as ilegalidades que comete, irão provocar
uma grande reação – que é o que ele quer -, e, se não fizerem nada, permitem o
avanço sobre a democracia. Como o Congresso tem a maioria governista e está
fazendo manobras para aprovar benesses sociais para ajudá-lo, não há medida de
contenção à vista.
Como estamos antevendo uma tentativa antidemocrática de contestação dos
resultados da eleição presidencial como a levada adiante pelo então presidente
Donald Trump com a invasão do Capitólio em Washington, seria bom também
relembrar episódios edificantes das Forças Armadas dos Estados Unidos na
contenção dessa tentativa de golpe. A principal autoridade militar dos EUA, o
chefe do Estado-Maior Conjunto, general Mark Milley, tão preocupado estava em
que o então presidente e seus aliados tentassem um golpe que se uniu a outras
autoridades com o objetivo de parar Trump.
Não foi apenas o comunicado oficial colocando de prontidão as Forças Armadas
para defender a democracia. O livro dos repórteres do “The Washington Post”
Carol Leonnig e Philip Rucker, ganhadores do Prêmio Pulitzer, intitulado “I
Alone Can Fix It” - ( “Só eu posso resolver”) em tradução livre, uma frase
usada por Trump que os autores ironizam, descreve como Milley e os outros
membros do Estado-Maior tomaram a decisão de renunciar para não cumprir ordens
que considerassem “ilegais, perigosas ou imprudentes”.
A obra conta os bastidores do último ano do “catastrófico” governo de um Trump
desequilibrado após perder a eleição de 2020. Milley conversou com autoridades
e políticos, e garantiu que Trump e seus aliados não conseguiriam fazer nada
sem os militares: “Eles podem tentar, mas não vão conseguir. (…) Não dá para
fazer isso sem a CIA e o FBI. Nós somos os caras com as armas”.
Ele acreditava que Trump estava fomentando uma agitação com o intuito de
invocar a Lei de Insurreição e convocar os militares. Após a insurreição de 6
de janeiro, o livro diz que Milley fez teleconferências diárias com Mark
Meadows, chefe de gabinete de Trump, e o então secretário de Estado Mike
Pompeo., assim como com a presidente do Congresso, Nancy Pelosi. Quando Trump
demitiu o secretário de Defesa Mark Esper em novembro, Pelosi foi um dos vários
congressistas que ligaram para o general Milley. “Estamos todos confiando em
você”, disse. “Lembre-se de seu juramento”.
Após a insurreição de 6 de janeiro, Pelosi disse ao general que estava
preocupada com a possibilidade de que Trump , que ela considerava louco, usasse
armas nucleares durante seus últimos dias no cargo. Ele a tranquilizou:
“Seguiremos apenas ordens legais. Só faremos coisas que sejam legais, éticas e
morais”.
Por que não relembramos esses episódios de resistência democrática de
militares, ou ainda o julgamento a que está sendo submetido Donald Trump pelo
Congresso dos Estados Unidos, para exorcizar essas ameaças ? A frase
famosa “Ainda temos juízes em Berlim”, que enaltece a independência do
judiciário a favor de um camponês que estava sendo ameaçado pelo rei Frederico
II, merece uma repetição: “ Ainda temos militares em Brasília?”.
O problema é o que os generais brasileiros acreditam ser atos ou decisões "legais, éticas e morais"... O que podemos esperar de Braga Netto, Pazuello, Mourão, Paulo Sérgio, Heleno e outros cúmplices de Bolsonaro? Será que há entre os outros generais da ativa gente melhor do que esta corja que compõe o DESgoverno Bolsonaro e participa da pilhagem das instituições públicas?
ResponderExcluirTive decepação tremenda com Heleno, ele não quis fazer para o Brasil o que fez pelo Haiti. Pensava que ele amava Amazônia e os índios,ledo engano. Ele só ama a si próprio. Falta Brasileiros com M maiúsculo no nosso país.
ResponderExcluirSinceramente? Quem é digno de uma medalha hoje em dia? Se houvesse o Projeto Rondon o Brasil estaria melhor que nas mãos dos militares que só querem participar da política suja do nosso País.
Quero dizer, H maiúsculo e não M.
ResponderExcluirFalta brasileiro com B maiúsculo,eu diria.
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