O Globo
Jair Bolsonaro viverá agora um bom momento
de sua campanha eleitoral. Haverá deflação em julho, e talvez agosto, a
projeção do PIB está sendo revista para cima, está em curso uma farta
distribuição de dinheiro público às vésperas das eleições. Tudo foi feito
passando por cima do estatuto da Petrobras, da autonomia tributária dos
estados, das leis eleitorais, das normas fiscais. O Congresso se comportou como
um puxadinho do Planalto e armou o palanque no qual ele, na sexta-feira, acenou
aos que resistem mais aos seus apelos: mulheres, pobres e nordestinos. Num erro
histórico, a oposição votou a favor de que Bolsonaro quebre leis eleitorais em
proveito próprio às vésperas das eleições.
A inflação sempre tira voto do governante quando sobe. E quando acontece o contrário e ela cai? A mudança de humor do eleitorado não é automática, depende de muitos fatores, e tem a ver com a sensação de conforto econômico que nem sempre se consegue ter num momento de queda da renda como agora. Mesmo assim, ele pode subir alguns pontos, e isso ser suficiente para levar a disputa ao segundo turno.
O cientista político Felipe Nunes, da
Quaest, conta que a economia é a principal preocupação do eleitorado, com 44%.
E dentro da economia, mostra a pesquisa Genial/Quaest, a inflação é a principal
preocupação. Aliás, saiu de 2%, em julho do ano passado, para 23%, em junho de
2022, os que diziam espontaneamente que a inflação é o principal problema. Em
julho, caiu para 19%. Exatamente nesse período houve uma escalada que levou o
índice a ficar em dois dígitos desde setembro. Agora haverá deflação mensal e
desinflação anual. Tudo foi feito com medidas artificiais. Mas já houve uma
ligeira oscilação positiva.
— De novembro a maio, quando chegou o
Auxílio Brasil, nada aconteceu. O governo tinha expectativa de haver o mesmo
que houve em 2020, quando veio o auxílio emergencial e a rejeição ao governo
caiu. Nesse período, tanto os que recebem o auxílio quanto os que não recebem
não mudaram o voto. É uma linha reta. Mas de junho para julho caiu ligeiramente
a diferença.
Em um mês, Bolsonaro subiu de 21% para 25%
nesse grupo dos que recebem auxílio, e caiu de 60% para 58% a intenção de voto
em Lula. A vantagem de Lula ainda é acachapante, mas foi nesse grupo dos mais
pobres que Bolsonaro mirou ao elevar o Auxílio Brasil apenas no período
eleitoral.
— O governo gerou expectativa de que algo
melhor pode vir. Mas essa expectativa vira frustração ou euforia? Só o tempo
dirá — disse Nunes.
Além disso, caiu o número dos que acham que é Bolsonaro o culpado pela alta dos
combustíveis e subiu os que culpam a Petrobras. A mentira repetida pelo
presidente, as acusações à Petrobras, têm dado certo.
É preciso olhar também para a inflação de
alimentos. A série do último ano e meio mostra que no começo de 2021 estava em
15%, oscilou no alto, e em agosto do ano passado estava em 14%. Ela então caiu
a 8% no começo deste ano e depois voltou a subir. Hoje está em torno de 14%
novamente. O leite subiu 25,4%, quase o mesmo que a gasolina, que foi 26%. O
que afeta os mais pobres é a inflação de alimentos, o que está caindo é
gasolina na bomba e conta de luz, que atingem os que têm mais renda.
Esse é um momento crucial da campanha. A
rejeição a Bolsonaro é monumental, lembra Nunes, de 59%, 20 pontos percentuais
acima da rejeição de Fernando Henrique, Lula e Dilma nas disputas de reeleição.
Várias pesquisas mostram a possibilidade real de Lula vencer no primeiro turno.
Bolsonaro jogou toda a força da máquina, eliminou impostos, tomou recursos dos
estados, distribuirá dinheiro para caminhoneiro — em agosto o benefício será
dobrado — taxistas e os mais pobres.
Felipe Nunes explica que nas eleições o
candidato avança quando consegue tomar o discurso do outro. Bolsonaro tenta
convencer os pobres de que sabe fazer política social. No palanque instalado na
mesa do Congresso, na promulgação da PEC que permitiu despesas eleitoreiras,
ele disse que o auxílio emergencial gastou 15 vezes mais que o Bolsa Família. O
ministro da Economia, Paulo Guedes, havia dito naquela reunião ministerial de
2020 o seguinte: “Vamos fazer o discurso da desigualdade, vamos gastar mais,
vamos eleger o presidente”. E é exatamente o que o governo está tentado fazendo
agora. Economia e política andam sempre juntas.
E eu estou na torcida para que não se reeleja.
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