O Globo
Europa paga o preço pela dependência do gás
russo, mas a Rússia corre risco de virar um país de segunda classe no comércio
mundial
Essa é a grande pergunta que tem sido feita a respeito da guerra da Ucrânia. A resposta parece sim, porque afinal a Europa pode entrar em recessão, e alguns países se preparam para racionar energia quando chegar o inverno. Mas não é isso que pensa um grande especialista no tema, o economista Jeffrey Schott, pesquisador sênior do Peterson Institute. Olhando além da conjuntura, ele acha que a Rússia terá problemas duradouros por causa da guerra. Se por um lado os europeus podem entrar em recessão no curto prazo, pelo aumento dos preços da energia, por outro, a economia da Rússia está sendo corroída por dentro e isso terá impacto de longo prazo sobre o futuro do país.
Schott trabalhava no governo Reagan quando
tentou impedir que países europeus fechassem acordo para a construção do
primeiro gasoduto ligando a União Soviética à Europa. Hoje, está num dos mais
influentes think tanks americanos, em Washington, de onde conversou por
videoconferência com o colunista Alvaro Gribel. Ele se lembra dos alertas que
fez nos anos 1980 e diz que só agora os líderes europeus entenderam o erro da
decisão. Mesmo assim, é enfático em negar que Putin esteja vencendo a guerra
econômica, apesar de toda a aparência. O rublo está voltando a se valorizar e o
Banco Central da Rússia já cortou os juros. Ao mesmo tempo, os europeus se
debatem com o aumento da inflação e o risco de falta de gás, que pode levar o
continente a uma severa restrição no próximo inverno. Por isso, o mercado tem
dito que a Rússia está sim vencendo a guerra. Ele discorda.
— As sanções falharam em impedir o início e
a escalada da guerra. Mas elas não têm apenas esse objetivo e estão causando
danos severos à Rússia, principalmente pelo bloqueio a produtos de alta
tecnologia que são produzidos apenas no Ocidente. Isso afeta todos os tipos de
atividades da sociedade russa e da sua economia — explicou.
Schott é especialista em sanções
econômicas. Ele não nega os impactos reversos sobre a Europa, mas pondera que
os europeus estão fazendo uma mudança permanente na sua matriz energética e,
mesmo que a guerra chegue ao fim, a decisão para diminuir a dependência da
Rússia já está tomada.
A valorização do rublo tem pouquíssimo
significado econômico, segundo o economista, porque, na prática, ninguém pode
comprar ou vender a moeda russa no sistema financeiro. Ele elogia a condução do
BC russo pela economista Elvira Nabiullina e diz que a Rússia executa um severo
controle de capitais interno, ao mesmo tempo em que se beneficia das
exportações de petróleo e gás.
— Sobre a valorização do rublo, a questão é
o que você pode comprar. Algumas coisas, desde que esteja na Rússia e ache algo
por lá. Se você não consegue comprar produtos no Ocidente, então não consegue
investir. O que vai fazer? — questiona.
O economista Martin Chorzempa, também do
Peterson, publicou artigo no site do instituto mostrando os efeitos das sanções
sobre o comércio externo da Rússia. O que chama atenção é que o impacto é
generalizado, ou seja, não está restrito a países que se comprometeram com as
medidas e atinge também fortes parceiros comerciais, como a China. Desde o
início da invasão, a queda das exportações para a Rússia de países que
anunciaram as sanções chega a 60%. Entre países que não adotaram medidas
formais, o recuo é de 40%, com queda de 38% da China, na comparação com o mesmo
período do ano anterior.
Schott explica que a postura dos chineses é
de total pragmatismo. No curto prazo, vão tirar proveito da fragilidade da
Rússia para comprar óleo e gás com desconto, o que de fato estão fazendo. As
importações da China vindas da Rússia atingiram recorde histórico e 80% dos
produtos são da área de energia. Mas ele diz que a própria postura de Putin com
os europeus já serve de alerta para que os chineses não queiram ficar
dependentes no setor energético da Rússia.
— Os chineses não vão ficar dependentes da
energia russa, como os europeus. Se estão comprando mais óleo agora é para se
aproveitar dos preços com descontos, mas não vão substituir a Europa pela
Rússia. A mesma coisa vale para a Índia — explicou Schott.
A Europa está pagando pelo erro de ter se
tornado tão dependente do gás russo e pode entrar em recessão. Mas isso no
curto prazo. A Rússia corre o risco mais permanente de se tornar um país de
segunda classe no comércio internacional.
Até onde isso é verdade ou simplesmente wishful thinking só o futuro nos dirá. Mas se eu for aqui dar meu pitaco depois de tanta campanha anti Russia e da mesma se tornar o país mais sancionado do mundo e não ter sofrido economicamente como desejavam os especialistas de washington é que isso mais uma vez é balela e que a europa nunca vai trocar o gás russo por qualquer outro. A matemática é simples. Quem vai querer pagar mais caro e destruir a industria nacional dependente de gás para comprar e produzir produtos mais caros que outros paises. Na verdade a europa vai virar a América Latina se ficar sendo tão vassalo dos yankes.
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