Valor Econômico
Atual cenário externo e doméstico indica
que o país flertará novamente com um crescimento magro, após o “voo de galinha”
deste ano
Uma onda de pessimismo sobre os rumos da
economia tem contaminado uma parte do PIB industrial. Muitos concordam que “o
pacote de bondades” do presidente Jair Bolsonaro (PL) terá um efeito positivo
neste segundo semestre, com a injeção de dinheiro novo no mercado, mas a maior
preocupação do setor privado é com a forte ressaca que virá em 2023.
Para a indústria, ainda é cedo para se
falar em uma recessão, mas o atual cenário externo e doméstico indica que o
país flertará novamente com um crescimento magro, após o “voo de galinha” deste
ano.
No corredor financeiro da Faria Lima,
diversos bancos revisaram para cima as projeções do Produto Interno Bruto (PIB)
deste ano. As novas estimativas já refletem o impacto da proposta de emenda
constitucional (PEC), que teve seu texto-base aprovado ontem em segundo turno
na Câmara dos Deputados. A “PEC das Bondades” aumenta, até dezembro, o Auxílio
Brasil de R$ 400 para R$ 600, dobra o valor do vale-gás, cria subsídio de R$ 1
mil para caminhoneiros, além do auxílio-taxista. O custo é de R$ 41,25 bilhões
fora do teto de gastos.
Nas novas projeções, as instituições financeiras estimam um crescimento de 1,6% a 2,4%, ante estimativas anteriores, que previam uma expansão mais baixa, de até 0,8%. No entanto, essas mesmas casas mantiveram e, algumas até reduziram, as expectativas sobre 2023. Em seus relatórios, os bancos vão de uma retração de 0,2% do PIB a uma retomada mais modesta, de até 0,7%.
“É claro que o pacote de bondades terá
efeito na economia nos próximos meses, mas é desastroso imaginar como Brasil
faz esse tipo de concessão em ano eleitoral. É difícil fazer projeções para o
Brasil. O ano de 2023 vai ser muito duro para qualquer governo que for
responsável. Se continuar esse populismo fiscal, vamos enterrar esse país e
iremos no mesmo caminho da Argentina”, disse o empresário Pedro Passos,
acionista da Natura, à coluna.
Passos faz parte de um grupo de empresários
que apoia a candidatura à Presidência da senadora sul-matogrossense Simone
Tebet (MDB) para fazer frente à atual polarização entre o ex-presidente petista
Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro (PL).
Diante das incertezas no cenário externo,
com aumento da taxa de juros e inflação em alta, em meio à guerra entre Rússia
e Ucrânia, a grande incógnita é saber qual será o tamanho da recessão global e
seus impactos para o país.
O consenso entre o empresariado é que o
país vai pagar uma fatura muito alta - o desânimo é tanto que, para uma parte
das indústrias, se o país tiver um crescimento baixo em 2023 já está saindo no
lucro.
Para os empresários e executivos que ainda
apostam na terceira via, a leitura é de que o ex-presidente Lula, líder nas
intenções de votos, não levará adiante uma agenda econômica reformista mais
robusta. Em reuniões com o setor privado nas últimas semanas, Lula tem feito um
discurso mais moderado, tentando quebrar a resistência do mercado e diz que vai
levar o país novamente ao crescimento. O ex-governador de São Paulo, Geraldo
Alckmin (PSB), cotado para ser vice-presidente em sua chapa, tem participado
desses encontros e virou uma espécie de fiador do ex-presidente.
Na outra ponta, está Bolsonaro. Vice-líder
nas intenções de voto, o atual presidente tem sido visto como um
intervencionista. Com as trocas sucessivas no comando da Petrobras e ameaças de
controle dos preços dos combustíveis, há muita insegurança no mercado de como
Bolsonaro deverá conduzir o segundo mandato, caso seja reeleito.
O executivo Fábio Barbosa, ex-Federação
Brasileira de Bancos (Febraban) e ex- Santander, não vê espaço para a adoção de
políticas contracíclicas no futuro governo, a exemplo do que ocorreu na crise
financeira global de 2008. “Há um conformismo generalizado de que a economia
vai continuar andando muito devagar.”
A pouco menos de três meses das eleições,
são muitas as dúvidas. Os efeitos perversos da “PEC das Bondades” sobre a
economia já são uma herança maldita que o futuro governo terá,
independentemente de quem ganhar as eleições.
A herança agora é maldita com todas as letras.Nem todo petista excomungou o governo FHC,a Dilma,por exemplo,o elogiou publicamente.
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