sexta-feira, 22 de julho de 2022

Reinaldo Azevedo - Também o capital contra o golpe

Folha de S. Paulo

Nada fora, acima ou contra as urnas, de acordo com a Constituição

Cobrei neste espaço, na semana passada, que o capital dissesse aos brasileiros se a democracia é um valor universal e inegociável ou se está disposto a flertar com um golpe de Estado. Algo se move. No dia 11 de agosto, a Faculdade de Direito da USP —as históricas Arcadas da São Francisco— reeditarão, em novo contexto, a célebre "Carta aos Brasileiros", de 1977, lida, então, por Goffredo da Silva Telles Jr., em repúdio à ditadura e em defesa do estado democrático e de direito.

Desta feita, trata-se de defender a liberdade já conquistada para que possamos transformá-la em qualidade de vida para os mais pobres, esconjurando as ameaças golpistas feitas pelo presidente da República. Diz a nova carta, de que sou um dos signatários: "Nossa consciência cívica é muito maior do que imaginam os adversários da democracia. Sabemos deixar de lado divergências menores em prol de algo muito maior: a defesa da ordem democrática."

O texto traz, de saída, a assinatura de juristas, jornalistas, artistas e representantes da sociedade civil e ficará aberto à adesão de quantos queiram endossá-lo. Mas e o capital? No mesmo dia, um outro manifesto em defesa das instituições e do cumprimento da vontade do eleitor virá à luz, este encabeçado por entidades empresariais dos mais diversos setores.

A quem interessam golpe e ditadura senão a bucaneiros que vestem a pele de empresários para que possam exercer, sem temor nem perigo, suas atividades criminosas? No mundo civilizado, a tolerância com a divergência não inclui os que pretendem se impor pela violência, pelas armas, pela truculência.

É uma sandice que vivamos a nos indagar se Bolsonaro pretende dar um golpe antes ou depois da eleição. Ou em que momento ele imagina pôr para funcionar o seu "dispositivo militar". O último que apostou na existência de um, diga-se, estava em campo ideológico oposto ao do atual presidente: João Goulart. Se não tivesse deixado o Brasil, teria ido para a cadeia. "Dispositivos militares" não costumam se mexer para perder.

Quem seria o Amaury Kruel da hora a deixar o presidente na mão? Nota à margem e a tempo: a ironia não associa Goulart, a vítima de 1964, a Bolsonaro, o vilão de 2022. Um foi golpeado. O outro quer golpear. Apenas relativizo a fidelidade de "dispositivos militares" quando estes percebem que a vaca já foi para o brejo. Cuidado com a cadeia, presidente!

O "capitão" submete as Forças Armadas a um ridículo ímpar. E é neste ponto que um realista dirigiria a seguinte pergunta ao escriba, movido por galhofa e melancolia: "Desde quando militares dependem de prestígio, Reinaldo? Dependem de armas." Fato. Mas as Forças Armadas dependem de prestígio ou viram sucata. Uma quartelada as condenaria à obsolescência.

O que se viu depois da patuscada golpista de segunda (18), com os embaixadores estrangeiros, foi um tsunami de reações contrárias e de indignação. Bolsonaro superou, com seu ato destrambelhado, mesmo a imaginação mais pessimista. Os servidores da Polícia Federal, incluindo delegados, não topam brincar com o golpista bufão. Até os lotados na Abin vieram a público para atestar a higidez do sistema eleitoral.

Certamente preocupados com o movimento buliçoso de golpistas, os EUA se pronunciaram duas vezes em dois dias. Na terça, por intermédio de nota da embaixada no Brasil; na quarta, com mensagem oficial do Departamento de Estado. A mensagem é única: só a obediência ao que dizem as urnas é aceitável.

"E se os militares criassem a sua própria versão nem-nem? Nem Bolsonaro nem Lula?" O único juiz é o eleitor. Nada fora das urnas. Nada acima das urnas. Nada contra as urnas. É um lema antifascitoide. Até porque a vontade do eleitor está subordinada a cláusulas pétreas da Constituição, que não abriga a liberdade para promover golpes e autogolpes, ainda que com a roupagem de movimento civil.

É o que diremos os democratas no dia 11 de agosto. E, desta feita, em companhia da parcela do capital, que é majoritária, que acata o regime de liberdades como valor inegociável.

3 comentários:

  1. Só que o dito cujo não tem talento, valor ou neurônio para dar um golpe. Incita para ver alguns idiotas tomam a iniciativa. Esperar algo dessa natureza de um cara que nunca trabalhou na vida? Golpe exige tempo e energia , inteligência e foco e principalmente liderança. Coisa que o distinto absolutamente não tem.

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  2. Insufla para ver se pega mas à mediocridade não deixa.

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  3. Eu tenho medo do golpe dar certo.

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