O Globo
Presidente trabalha mais contra sua
candidatura que a oposição, que erra ao lhe dar colher de chá
O ato golpista com os embaixadores na
segunda-feira e as pesquisas variadas que apontam um estreitamento da diferença
entre Lula e Jair Bolsonaro, tanto nacionalmente quanto nos colégios eleitorais
mais importantes para definir a eleição, mostram que, hoje, o caos provocado
pelo presidente é um entrave maior a suas chances de ser competitivo em outubro
que as estratégias da oposição.
Lula e o PT deram uma enorme colher de chá
para Bolsonaro se recuperar em diferentes momentos. Na fase mais aguda da
pandemia, quando ainda não havia vacina, e o auxílio emergencial deixou de ser
pago, e depois, quando ela saiu de sua fase mais aguda.
Enquanto o presidente armava, ao longo dos
últimos dois anos, o discurso golpista, com a participação ativa de altos
escalões das Forças Armadas, representado pelos dois últimos ministros da
Defesa, Lula e o PT preferiram não lhe dar o combate direto, duro, olho no
olho, na esperança de que ele seria contido e naufragaria sozinho.
A crença segundo a qual a eleição teria tudo para se decidir no primeiro turno — justamente por esse show de horrores que é o governo Bolsonaro, da emergência sanitária à destruição institucional, passando pela devastação ambiental e pelo desmonte da Educação — levou a um clima de “vamos ganhar a eleição, e amanhã a gente vê o estrago”.
Isso não prepara o campo oposicionista nem
para resistir à já anunciada deliberação de tentar colocar a eleição em xeque
nem para a hipótese, ainda remota, porém não mais inimaginável, de que
Bolsonaro chegue competitivo ao segundo turno e de que o resultado do pleito se
torne imprevisível.
Lula e o PT não levaram em conta o que
Maurício Moura, diretor do Ideia, chama de “antipetismo de chegada”, que se
manifesta sempre mais próximo das eleições e que o bolsonarismo está de forma
sistemática insuflando nos últimos meses.
A mais recente estratégia para açular esse
fenômeno é jogar holofotes sobre o caos econômico da Argentina sob o governo de
esquerda de Alberto Fernández e Cristina Kirchner para gerar um “efeito Orloff”
no eleitor brasileiro.
Não há no lulopetismo uma reação organizada
a esse discurso, que teria de vir na forma de compromissos de Lula e Geraldo
Alckmin (sim, o vice é importante nesse roteiro) com a governabilidade e com a
previsibilidade caso vençam a eleição.
Mais: a retórica revanchista cada dia mais
presente nos apoiadores de Lula, que não aceitam nada diferente da capitulação
absoluta dos que foram críticos aos governos do PT e da conversão irrestrita
até de cabos eleitorais decisivos como a cantora Anitta — atacada por dizer que
vota no ex-presidente, mas não é petista —, mostra um salto alto perigoso.
Ainda mais quando, do outro lado, está um
presidente no cargo, que não conhece limites e que acaba de ganhar da própria
oposição R$ 41 bilhões para gastar na boca da urna.
Numa eleição que se traduz numa disputa
entre quem tem a menor rejeição, estancá-la é tão urgente quanto angariar mais
votos. Mesmo porque a pregação de voto útil para resolver a eleição em 2 de
outubro parece já próxima do limite de resultado para Lula.
Os últimos levantamentos jogam luz sobre a
importância que a disputa em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas terá para o
resultado nacional.
Isso também é um revés importante para
Bolsonaro, pois nesse eleitorado urbano o truque de aumentar o Auxílio Brasil
de forma eleitoreira surte menos efeito que entre os mais desassistidos.
Para frear a queda na distância das intenções de voto, Lula e Alckmin têm de se concentrar nessas batalhas, e isso passa por organizar os palanques e por não subestimar o bolsonarismo enquanto fenômeno capaz de catalisar o sentimento antipetista que não morreu, só foi, por ora, substituído por uma aversão maior a um presidente que investe no caos como plataforma — e que, graças a isso, é hoje mais tóxico para si que seus opositores.
O ser humano é um blefe,Bolsonaro devia ser o último dos candidatos competitivos.
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