sexta-feira, 22 de julho de 2022

Vera Magalhães - Bolsonaro é seu maior entrave eleitoral

O Globo

Presidente trabalha mais contra sua candidatura que a oposição, que erra ao lhe dar colher de chá

O ato golpista com os embaixadores na segunda-feira e as pesquisas variadas que apontam um estreitamento da diferença entre Lula e Jair Bolsonaro, tanto nacionalmente quanto nos colégios eleitorais mais importantes para definir a eleição, mostram que, hoje, o caos provocado pelo presidente é um entrave maior a suas chances de ser competitivo em outubro que as estratégias da oposição.

Lula e o PT deram uma enorme colher de chá para Bolsonaro se recuperar em diferentes momentos. Na fase mais aguda da pandemia, quando ainda não havia vacina, e o auxílio emergencial deixou de ser pago, e depois, quando ela saiu de sua fase mais aguda.

Enquanto o presidente armava, ao longo dos últimos dois anos, o discurso golpista, com a participação ativa de altos escalões das Forças Armadas, representado pelos dois últimos ministros da Defesa, Lula e o PT preferiram não lhe dar o combate direto, duro, olho no olho, na esperança de que ele seria contido e naufragaria sozinho.

A crença segundo a qual a eleição teria tudo para se decidir no primeiro turno — justamente por esse show de horrores que é o governo Bolsonaro, da emergência sanitária à destruição institucional, passando pela devastação ambiental e pelo desmonte da Educação — levou a um clima de “vamos ganhar a eleição, e amanhã a gente vê o estrago”.

Isso não prepara o campo oposicionista nem para resistir à já anunciada deliberação de tentar colocar a eleição em xeque nem para a hipótese, ainda remota, porém não mais inimaginável, de que Bolsonaro chegue competitivo ao segundo turno e de que o resultado do pleito se torne imprevisível.

Lula e o PT não levaram em conta o que Maurício Moura, diretor do Ideia, chama de “antipetismo de chegada”, que se manifesta sempre mais próximo das eleições e que o bolsonarismo está de forma sistemática insuflando nos últimos meses.

A mais recente estratégia para açular esse fenômeno é jogar holofotes sobre o caos econômico da Argentina sob o governo de esquerda de Alberto Fernández e Cristina Kirchner para gerar um “efeito Orloff” no eleitor brasileiro.

Não há no lulopetismo uma reação organizada a esse discurso, que teria de vir na forma de compromissos de Lula e Geraldo Alckmin (sim, o vice é importante nesse roteiro) com a governabilidade e com a previsibilidade caso vençam a eleição.

Mais: a retórica revanchista cada dia mais presente nos apoiadores de Lula, que não aceitam nada diferente da capitulação absoluta dos que foram críticos aos governos do PT e da conversão irrestrita até de cabos eleitorais decisivos como a cantora Anitta — atacada por dizer que vota no ex-presidente, mas não é petista —, mostra um salto alto perigoso.

Ainda mais quando, do outro lado, está um presidente no cargo, que não conhece limites e que acaba de ganhar da própria oposição R$ 41 bilhões para gastar na boca da urna.

Numa eleição que se traduz numa disputa entre quem tem a menor rejeição, estancá-la é tão urgente quanto angariar mais votos. Mesmo porque a pregação de voto útil para resolver a eleição em 2 de outubro parece já próxima do limite de resultado para Lula.

Os últimos levantamentos jogam luz sobre a importância que a disputa em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas terá para o resultado nacional.

Isso também é um revés importante para Bolsonaro, pois nesse eleitorado urbano o truque de aumentar o Auxílio Brasil de forma eleitoreira surte menos efeito que entre os mais desassistidos.

Para frear a queda na distância das intenções de voto, Lula e Alckmin têm de se concentrar nessas batalhas, e isso passa por organizar os palanques e por não subestimar o bolsonarismo enquanto fenômeno capaz de catalisar o sentimento antipetista que não morreu, só foi, por ora, substituído por uma aversão maior a um presidente que investe no caos como plataforma — e que, graças a isso, é hoje mais tóxico para si que seus opositores.

Um comentário:

  1. O ser humano é um blefe,Bolsonaro devia ser o último dos candidatos competitivos.

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