O Estado de S. Paulo
Em geral o presidente tornou pior o que já existia na política, mas trouxe duas contribuições pessoais
A obra de destruição presidida por
Bolsonaro está quase completa, e falta apenas provocar a “convulsão social” – a
caminho, que ninguém se iluda – por conta da provável derrota eleitoral. Essa
obra se compõe da dissolução da institucionalidade e da formidável expansão do
patrimonialismo, com suas velhas marcas de corrupção. Só teve dois aspectos
originais.
Bolsonaro não foi muito criativo. O empenho em atacar a imprensa, por exemplo, é parte de um fenômeno mais amplo do desgaste da mídia profissional em seu papel tradicional como guardiã da veracidade objetiva dos fatos. Daí o destaque alcançado por fake news, e a presença desproporcional no debate público brasileiro de celebridades projetadas por redes sociais.
O atual presidente já encontrou o STF como
uma instância política e não foi o iniciador do desequilíbrio entre os Poderes,
um processo de longo curso. É discussão do tipo ovo ou a galinha determinar se
o STF assumiu o presente protagonismo político por deliberada vontade de seus
integrantes ou se ocupou o vazio deixado por outros Poderes (especialmente o
Legislativo). Não importa quem tem razão, no embate aprofundou-se o enorme e
destrutivo desarranjo institucional.
Bolsonaro também nada exibiu de original na
sanha de demonização do adversário político, uma marca sobretudo petista no
período pós-ditadura militar. Usou as mesmas ferramentas profissionais e os
métodos de seus adversários, embora a belicosidade e a boçalidade bolsonaristas
tenham “estilo” próprio. É um populista autoritário de feições convencionais,
sem preocupação em manter coerência entre palavras e ações, ou cumprir
promessas eleitorais.
Mas trouxe duas relevantes contribuições
originais à obra destrutiva. A primeira foi o emporcalhamento da credibilidade
das Forças Armadas. Conscientes disso ou não, ao emprestarem ao governo
Bolsonaro o prestígio pacientemente reconquistado, os comandantes militares
margearam o abismo da aventura política e danificaram a imagem da própria
instituição. Não adianta reiterar que generais fardados ou de pijama, dentro ou
fora do governo, são indivíduos falando em nome próprio, que não representam as
Forças Armadas. O público não faz essa distinção.
A segunda “contribuição” foi o
emporcalhamento da imagem externa do Brasil. Bolsonaro já trilhava esse caminho
subordinando-se a Trump e nas posturas públicas em relação a meio ambiente,
entre outras. Mas não há memória de um chefe de Estado que tivesse convocado ao
palácio onde mora embaixadores do mundo inteiro para falar mal do próprio país.
Bolsonaro garantiu lugar original na história. •
Não vai ter clima a população não está na fase de protestos. Tem muita gente que fica calada, mas esse sujeito não inspira simpatias.
ResponderExcluirO silêncio anterior desta mesma mídia que se arvora do apanágio da verdade, Falhou grandemente e agora o emporcalhamento é resultado de uma ferramenta ruim, mas a que temos pois nunca houe imparcialidade da mídia. Bye bye mes caros
ResponderExcluirOs bolsonaristas são mais violentos e paranoicos que os petistas.
ResponderExcluir