O Globo
Monarquismo é a doença infantil do
bolsonarismo; presidente tenta usar o coração do imperador em sua campanha à
reeleição
A ideia foi bizarra até para os padrões do
governo atual. A pretexto de festejar o bicentenário da Independência, Jair
Bolsonaro mandou trazer de Portugal o coração de Dom Pedro I. O órgão
desembarcou em Brasília na segunda-feira, mergulhado num pote de formol.
Pedro de Alcântara Francisco António João
Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano
Serafim de Bragança e Bourbon morreu em 1834. Seu corpo foi enterrado no
panteão real em Lisboa. O coração foi levado ao Porto, onde fica trancafiado
numa igreja.
O órgão descansou em paz durante 188 anos.
Agora saiu da urna de mogno para servir ao projeto político de Bolsonaro. À
revelia, o imperador foi transformado em cabo eleitoral do capitão.
A víscera subiu a rampa do Planalto com honras de chefe de Estado. Aviões da Esquadrilha da Fumaça desenharam um coração no céu de Brasília. A artilharia de campanha disparou 21 tiros de canhão. Criancinhas cantaram o hino e agitaram bandeiras do Brasil.
Tudo seria apenas mórbido se não envolvesse
o desperdício de dinheiro público. A Presidência e o Itamaraty ainda não
divulgaram os custos da operação.
O monarquismo é a doença infantil do
bolsonarismo. Nas manifestações da extrema direita, bandeiras do Império
costumam dividir espaço com cartazes golpistas e camisetas da seleção. Em 2018,
Bolsonaro quase escolheu como vice um descendente do imperador, que se
apresenta como “príncipe”. O cavalheiro se elegeu deputado e agora tenta o
segundo mandato pelo PL. Ontem desfilava sorridente pelo palácio presidencial.
Em discurso rápido, o capitão repetiu um
lema de sua campanha à reeleição: “Deus, pátria, família”. O slogan foi roubado
de Mussolini, que também explorava símbolos da monarquia para conseguir apoio
popular.
Ao importar o coração de Dom Pedro,
Bolsonaro se inspirou em outro tirano. Em 1972, Emílio Garrastazu Médici mandou
trazer os restos mortais do imperador para as comemorações do Sesquicentenário
da Independência. A ossada foi doada por Portugal, que também vivia sob uma
ditadura.
O general tinha mais prestígio do que o capitão. O coração embebido em formol foi apenas emprestado ao Brasil. Terá que ser devolvido no próximo dia 8, a três semanas da eleição.
O coração do Dom Pedro foi recebido pelo GENOCIDA SEM CORAÇÃO... Que DESgoverno é este?
ResponderExcluirGastando tempo e dinheiro com bobagem.
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