sexta-feira, 19 de agosto de 2022

Bruno Boghossian - Lula deixou de jogar parado

Folha de S. Paulo

Ataque conservador e dinheiro público aumentam tração do presidente e forçam reação do petista

Lula continua à frente nas pesquisas de intenção de voto, mas teve que fazer alguns movimentos para correr atrás de Jair Bolsonaro. Nos últimos dias, o petista testou um discurso para conter o domínio do presidente sobre o eleitorado evangélico, começou a erguer barreiras para limitar os dividendos eleitorais do Auxílio Brasil e ensaiou uma estratégia de reação na campanha digital.

Depois de meses em posição confortável, o ex-presidente sabe que não é mais possível jogar parado. Lula acumulou capital eleitoral, mas a máquina do governo, o arsenal retórico de Bolsonaro e a dinâmica das próximas semanas de campanhas devem fazer com que a disputa fique mais apertada até outubro.

O avanço acelerado do presidente entre os evangélicos foi um dos fatores que ligaram o alerta do PT. O partido acreditava que a economia cambaleante seria suficiente para manter parte dos fiéis afastada de Bolsonaro, mas passou a temer um aumento dos índices de rejeição a Lula nesse grupo do eleitorado.

Os petistas perceberam que teriam um prejuízo grande se deixassem Bolsonaro falando sozinho com esse público. A resposta, no entanto, pareceu fruto de improviso. O ex-presidente soltou a acusação de que o adversário é "possuído pelo demônio", enquanto sua campanha lançou o questionável slogan "Deus usa Lula".

Além de frear a recuperação de Bolsonaro entre os evangélicos, o petista também se mexeu para tentar manter o controle de seu principal bastião: o eleitorado de baixa renda. Ao lançar uma operação nas redes com o novo aliado André Janones, o ex-presidente espera frear o impulso que o Auxílio Brasil turbinado pode dar à campanha rival.

Os ataques pelo flanco conservador e o dinheiro despejado na arena eleitoral aumentaram o poder de Bolsonaro de influenciar o debate nesta etapa da disputa. Como líder nas pesquisas, Lula teria a oportunidade de ditar o tom da campanha, mas a máquina do presidente força o petista a gastar alguma energia para resistir a suas ofensivas.

 

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