Folha de S. Paulo
Desempenho de cotistas e não cotistas é
parecido na graduação
Deu na coluna de Mônica Bergamo que
coletivos da USP estão furibundos com o Departamento de Filosofia, cuja
pós-graduação ainda não adotou ações afirmativas em seu processo seletivo.
Não sou o maior fã das cotas raciais. Ainda estou preso a ideias que foram caras à esquerda no passado, como a de que as políticas públicas devem preferencialmente estar baseadas no princípio da universalidade e que, quando dirigidas a grupos específicos, devem seguir critérios objetivamente mensuráveis (algo que renda é, mas raça não). Reconheço, porém, que o "Zeitgeist" (espírito da época) se enamorou da reserva de vagas para minorias e gosto do resultado que essa política produz, ainda que faça restrições ao método. Definir o destino de uma pessoa com base em suas características fenotípicas é justamente o que torna o racismo um problema moral.
Há, contudo, um ponto que, para mim,
permanece enigmático, que é a pós-graduação. Os entusiastas das cotas celebram
com razão as várias pesquisas que mostraram que, na graduação, o desempenho dos
alunos cotistas é tão bom quanto o dos não cotistas, às vezes até um pouquinho
melhor. Diante desse diagnóstico, tenho dificuldades para entender por que a
reserva de vagas deveria se estender à pós-graduação. Se a performance dos
estudantes é semelhante, então uma prova de conhecimentos específicos da
disciplina, que são adquiridos na graduação, se torna um critério muito
razoável para presidir ao processo seletivo.
Até acho que podemos e devemos discutir
outros tipos de ação afirmativa, como uma reserva de bolsas de estudo.
Frequentemente, a dificuldade dos alunos de famílias pobres é mais manter-se
estudando, isto é, sem trabalhar para ajudar a pagar os boletos, do que o
processo seletivo.
Desconheço os motivos que levaram o pessoal
da filosofia, que, afinal, é a minha "alma mater", a não instituir
cotas raciais na pós, mas gostaria de acreditar que foi o apego à lógica.
O ruim de ser cotista é que sempre vai ter alguém te chamando... de cotista.
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