Folha de S. Paulo
Petista se enrola ao falar de corrupção;
presidente perde a linha com mulheres e economia
O
altamente antecipado debate entre presidenciáveis não destruiu nenhuma
candidatura na pista para a eleição de outubro, mas demonstrou pontos de
fragilidade a serem explorados pelos principais rivais da disputa, Luiz Inácio Lula da
Silva (PT) e Jair
Bolsonaro (PL).
Havia tensão no ar, mas também um
indisfarçável cheiro de antiguidade política. Lula parecia fora de forma, dado que
seu último encontro do tipo havia sido contra seu atual vice, Geraldo Alckmin,
seu adversário então tucano no longíquo 2006.
Fixou-se em falar do passado, o que seria
algo natural para quem passou oito anos no poder. Mas assim perde a
oportunidade de buscar os pontos que lhe faltam para uma vitória em primeiro
turno, a serem pescados apenas no lago dos eleitores centristas.
Pior, o petista enrolou-se acerca do tema da corrupção. Na entrevista concedida ao Jornal Nacional na semana passada, Lula havia ensaiado um mea culpa retórico, mas no debate apenas balbuciou seu caminho para tentar fugir da pergunta.
Por fim, defendeu Dilma
Rousseff (PT) e seu governo, derrubado no que Lula disse ter sido um
golpe em 2016. Novamente, aliena-se aí a classe média cujo
antipetismo foi um dos motores da ascensão de Bolsonaro em 2018. Não é
o mesmo fenômeno, claro, até porque Lula
está à frente nas pesquisas, mas poderá ter impacto decisivo na
primeira rodada da eleição.
Já Bolsonaro, que só participou
de dois encontros do gênero antes da facada que sofreu em 2018, encarnou
o candidato de quatro anos atrás com a avalanche de frases lacradoras e a mitomania
usual.
O presidente
da República falou para seus convertidos, mas também para essas
franjas: seu principal crescimento na mais recente pesquisa do Datafolha foi
justamente na dita baixa classe média. Encaixou golpes ideais para uso
intensivo em redes sociais, quando chamou Lula de
mentiroso e ex-presidiário, além de associar o petista a aliados na esquerda
latino-americana.
Poderia cantar uma vitória por pontos se
não tivesse sido ele mesmo, agredindo
verbalmente uma jornalista e sendo rude com as duas candidatas mulheres
presentes. Ele já enfrenta dificuldades no majoritário eleitorado feminino,
e sua posição será cobrada.
Também foi
mal ao lidar como tema central desta campanha, a carestia. Enumerou
dados de forma claramente decorada, sem a construção de uma mensagem central
facilmente assimilável. Lula, por sua vez, curiosamente não insistiu no tema
—coube a Ciro
Gomes (PDT) lembrar que o presidente havia
dito que não se passa fome no Brasil.
O pedetista pontificou, logo ele conhecido
pelo gênio esquentado, cenas de temperança ante os rivais. Deu a Lula um mau
momento, quando disse que o petista havia se corrompido. Sua intenção de voto,
abaixo dos 10%, é um dos obstáculos centrais à pretensão petista de vencer de
vez em 2 de outubro.
Por fim, Simone Tebet (MDB), Soraya Thronicke (União Brasil) e Felipe D'Ávila (Novo) ocuparam o papel lateral esperado, com maior destaque às candidatas quando o tema de seu gênero esteve em destaque.
Não vi o debate,talvez eu procure os melhores e piores momentos.
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