domingo, 7 de agosto de 2022

Janio de Freitas - Nova era dos descobrimentos

Folha de S. Paulo

Manifestos em defesa da democracia não se dirigem só a Bolsonaro

A impossibilidade de uma ideia sadia de Bolsonaro denuncia, por si só, algum propósito maléfico em sua ordem que transfere o desfile de 7 de Setembro para Copacabana, avenida Atlântica. A passagem das tropas, sem a largura usual nesses velhos exibicionismos, será abaixo de um paredão de altos edifícios de onde podem sair muitas coisas. Um rojão, por exemplo, dos usados nos estádios, em mãos bolsonarista e apontado para baixo —pânico, reações armadas, ninguém dirá o que pode vir.

Talvez seja um exemplo brando. Bolsonaro tem convocado seus seguidores, também os de outros estados, para uma concentração de dimensões excepcionais, ocupando não só os calçadões da avenida Atlântica. Impossível prever o que será de Copacabana, se efetivado o plano. Uma dedução, aliás, se oferece: será um lugar onde, morador ou visitante, não se deve estar naquele dia.

O ministro da Defesa, os comandantes de Exército, Aeronáutica e Marinha e os comandos regionais não ousaram ponderação alguma. O que faz supor nem terem considerado os problemas no 7 de Setembro politizado por conveniência de Bolsonaro. É um modo de se mostrarem engajados também nos propósitos da localização do desfile e da concentração de bolsonaristas, a que Bolsonaro se refere como "a última manifestação de 7 de Setembro". Sem esclarecer se concluiu não haver independência a comemorar ou se vai acabar com ela.

Compreende-se o que se passa na Defesa. A procura ao menos de um parafuso mal apertado, para dar como prova contra o sistema eleitoral, pôs em suspense o general-ministro Paulo Sérgio Nogueira e subordinados. Mais agora, em que uma patrulha avançada escarafuncha as urnas, como exigido ao TSE em ofício com um quase insultuoso carimbo de "urgentíssimo", para a inspeção já possibilitada desde outubro do ano passado. É provável que, no íntimo, parte dos paisanos esteja às gargalhadas com os vexames fardados e, outros, roguem para que eles parem de ridicularizar as caras Forças Armadas. Os primeiros, com razão. Os outros, idem.

Em alguma altura do futuro, será percebido pelos militares que os manifestos em defesa das eleições, do Judiciário e da democracia não se dirigem só a Bolsonaro e seu círculo de milicianos de palácio. É notório o embaraço dos comandos com a expressão de classes sociais e setores a que os militares sempre se associaram, e agora a eles se contrapõem. Ainda que não compreendida, a descoberta do fenômeno é sentida, entra olhos adentro. Não se sabe se bate em granito ou em outra massa cinzenta. E essa é a questão.

Uma "Carta aos Brasileiros" subscrita por 104 associações e sindicatos empresariais, algumas entidades civis, e encabeçada pela Fiesp é, em qualquer circunstância, documento de força. Atos semelhantes só houve quando ditaduras já despencavam, em 45 a de Getúlio, em 85 a dos militares. A maioria dos que se expressaram então, como representantes das classes confortáveis, logo mostrou terem sido atitudes momentâneas. Não haviam aprendido nada. Nos dois casos, o reacionarismo logo se sobrepôs, como golpismo antes, como controle por qualquer meio já na primeira eleição presidencial.

A quase unanimidade dos aderentes à carta da renovada Fiesp tem muito a aprender com seu percurso recente. Não pode obscurecer sua parte na responsabilidade pela entrega do país a um desqualificado absoluto. Sua carta vem desse erro. A expectativa mais profunda criada pelas adesões é quanto à sua continuidade sob aquele texto democrata. Se as assinaturas resultam de descobertas honestas e duradouras, o Brasil amanhã será outro. Se são momentâneas, o Brasil continuará como o país dos que não aprendem. E, sem tardar, o país dos miseráveis.

"20% dos brasileiros compram soro de leite e sobras de carne" (O Globo); "Um em cada três brasileiros teve comida insuficiente em casa nos últimos meses" (Folha); "Menino de 11 anos liga ao 190 da polícia e pede comida: sua família não come há três dias", em Belo Horizonte.

Muy amigos

Pela seriedade desde sempre, o trabalho, a coerência e o bom senso, Alessandro Molon é o melhor congressista do Rio. O PSB, seu partido, e o PT decidiram impedi-lo de candidatar-se ao Senado, como o Rio precisa. O PSB chega à sordidez de negar-lhe o direito ao fundo eleitoral. Os dois partidos combinaram de fazer candidato o petista André Ceciliano, elogiado como presidente da Assembleia. Facilitam a reeleição do ex-jogador Romário, o lamentável.

A federação dos bancos abre-se ao país, o PSB e o PT fecham-se ao Rio carent

 

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