O Estado de S. Paulo
Bolsonaro vai usar tática semelhante à de Orbán: congestionar o debate com temas que lhe são favoráveis
“As pesquisas eleitorais se sofisticaram e,
hoje em dia, não mostram só o resultado do jogo. Elas analisam o esquema tático
e revelam quem está fazendo as jogadas certas ou tomando as decisões erradas.”
A metáfora futebolística, tão ao gosto de Lula e Bolsonaro, líderes da corrida
presidencial, foi cunhada por Felipe Nunes. Diretor do instituto Quaest, o
atleticano Nunes – entrevistado no minipodcast da semana – é um craque em
analisar as nuances que se escondem por trás dos números.
Na semana que marcou o início oficial da
campanha eleitoral, três dos principais institutos – Ipec, Datafolha e o
próprio Quaest – divulgaram levantamentos. Lula e Bolsonaro encontraram motivos
para comemorar. Lula festejou o placar, que há meses não se mexe. Segundo o
agregador do Estadão, o petista segue ganhando de goleada desde abril, com
vantagem que varia entre 12 e 16 pontos.
Bolsonaro não cresceu, como esperava, entre os que recebem auxílio emergencial, mas pode comemorar um gol. Os institutos rastrearam seu avanço entre os evangélicos. Onde há três meses havia um empate técnico, Bolsonaro abriu 24 pontos de vantagem sobre Lula, em números do Quaest. “Trata-se de um público que foi decisivo para eleger o presidente em 2018, e ele está conseguindo atraí-lo de volta”, diz Nunes.
Ao que tudo indica, Bolsonaro vai usar
tática semelhante à consagrada pelo primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán – a
quem visitou neste ano em Budapeste e chama de “irmão”: congestionar o debate
eleitoral com temas que lhe são favoráveis. Ele quer que o embate contra os
adversários Tebet, Lula e Ciro se dê em seu próprio campo.
Firme na “tática húngara”, o presidente
carregou na pegada religiosa na abertura de sua campanha, em Juiz de Fora (MG).
A centroavante Michelle Bolsonaro foi escalada para levantar a arquibancada e
para seduzir uma parte do eleitorado que rejeita Bolsonaro – as mulheres.
Pesquisas Quaest mostram, no entanto, que
há um flanco na “tática húngara”, justamente no público cortejado por Michelle.
Grande parte do eleitorado evangélico, especialmente o feminino, rejeita
fortemente o discurso favorável à liberação das armas, uma das obsessões do
bolsonarismo. “É possível que os candidatos de oposição já estejam se
preparando para explorar essa fraqueza”, diz Nunes.
As imagens de revólveres, balas e clubes de
tiro publicadas nas redes sociais eletrizam os seguidores habituais do
presidente, mas podem ser um gol contra. No passado, a Hungria apresentou times
memoráveis em Copas do Mundo, mas sempre acabou, no máximo, com o
vice-campeonato. •
É,o colunista sabe das coisas.
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