Valor Econômico
Rejeição a Bolsonaro supera intenção de
votos em Lula no início oficial da campanha eleitoral
O aumento do auxílio emergencial e a
redução no preço dos combustíveis são aprovados pela população, a rejeição do
presidente da República diminui, a aprovação de seu governo sobe, mas sua
intenção de voto não cresce na mesma proporção. Este é o cenário das últimas
pesquisas no início oficial da campanha. Donde se conclui que não é só a
economia que define o voto de outubro. O núcleo duro da rejeição bolsonarista
resiste ao dinheiro que cai do helicóptero.
A rejeição de Bolsonaro, apesar de cadente,
é maior que o apoio à candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
tanto no Ipec quanto na Quaest. A despeito da gastança e da redução da pressão
inflacionária, a resiliência da rejeição se dá porque o voto tem mais a ver com
a expectativa de futuro do que com a avaliação do presente. Com o isolamento
demonstrado na posse no TSE, por exemplo, o presidente custa a convencer que
melhores dias virão.
Todo governante em disputa de reeleição melhora seu desempenho entre os mais pobres porque, com a máquina na mão, pode adotar políticas que os favorecem. Foi assim com todos os que disputaram a recondução de mandato. Não é assim com Bolsonaro. Ao se eleger em 2018, não liderava as pesquisas entre os mais pobres. Foi o único, na redemocratização, a conseguir ser eleito a despeito desse desempenho.
Na disputa pela reeleição, Bolsonaro
reprisa o feito. Apesar do aumento de 50% no Auxílio Brasil, o presidente não
conquista os mais pobres. Ou, pelo menos, ainda não conquista. No Ipec, tem 19%
na faixa até um salário mínimo e 29% entre um e dois SM (contra 60% e 44% de
Lula).
É bem verdade que o Auxílio Brasil mal
começou a ser pago. Mas corroboram para o ceticismo de seus dividendos
eleitorais tanto a contrapropaganda petista (“pega o dinheiro e vota 13”, “o
auxílio é que nem picolé, você chupa tudo e fica com o palito na mão”) quanto a
experiência recente com o benefício durante a pandemia. Sua descontinuidade no
início deste ano serviu de prévia para o que pode acontecer com seus
beneficiários em janeiro de 2023 quando a lei prevê sua interrupção.
Isso talvez explique o cruzamento do Ipec
mostrando o voto daqueles cujo núcleo familiar tem um beneficiário do auxílio e
o daqueles que não o têm. Pois no primeiro grupo (com auxílio) Bolsonaro pontua
pior do que no segundo (sem auxílio). Pela simples razão que o viés
determinante é a renda. Como os beneficiários são os mais pobres e estes
resistem mais a Bolsonaro, é a renda que determina o voto e não o auxílio.
A Quaest vai adiante e pergunta se as
pessoas sabem quem é o responsável pelo aumento do Auxílio Brasil e pela
redução do preço dos combustíveis. E lá está, sem tirar nem por, o devido
crédito a Bolsonaro. Na segunda pergunta, porém, o eleitor mostra que manja
tudo do negócio chamado campanha eleitoral. Seis em cada dez eleitores acham
que tudo o que o governo faz na economia é para ajudar a eleição de Bolsonaro.
O melhor respiro para o bolsonarismo na
última rodada de pesquisas é o desempenho cada vez melhor entre os evangélicos,
o que só reforça o tom de uma campanha mais voltada para o misticismo do que
para as entregas do governo. Mais Michelle, menos Jair.
Como a propaganda eleitoral na TV só começa
na próxima semana, ainda não dá para dizer o quanto a ofensiva para amenizar a
imagem do presidente lhe trará dividendos eleitorais. O que se sabe, por
enquanto, é que há uma barreira a ser ultrapassada por Bolsonaro que o dinheiro
não tem sido capaz de derrubar.
Isolado por opção
Ao definir o sistema eleitoral como objeto
do orgulho nacional, o ministro Alexandre de Moraes colocou o voto em urna
eletrônica no mesmo patamar da vacinação, dois atos cuja adesão distingue os
brasileiros. E assim como o presidente se desgraçou ao enfrentar a vacina,
também o fará se desafiar as urnas.
O comportamento de Bolsonaro na posse do
novo presidente do Tribunal Superior Eleitoral, no entanto, não sugere que a
cerimônia o tenha domesticado. O presidente não foi apenas emparedado pelas
instituições ali representadas. Ele fez questão de se mostrar isolado. O
comportamento explícito sugere que o troco virá em moedas de radicalismo.
Moraes deu respaldo institucional ao ato de
11 de agosto para antecipar a independência da democracia brasileira dos
achaques bolsonaristas no 7 de setembro - o que não significa que estes não
acontecerão. As imagens da posse de Moraes, quando as atenções estiveram
voltadas para Lula, também fotografado cumprimentando Moraes, já fizeram metade
do serviço.
O roteiro já está pronto. Assim como o ato
do Largo de São Francisco, a posse de Moraes também teve foi retratada pelo
bolsonarismo como de cunho “político-partidário”. Dessa forma, ao presidente, escanteado,
não restará alternativa senão buscar respaldo popular - e das Forças Armadas -
contra o “golpe da urna eletrônica”.
Na manhã seguinte à cerimônia, os grupos de
WhatsApp da “comunidade militar” amanheceram apinhados de mensagens sobre a
necessidade de adiamento das eleições em função das dúvidas surgidas no
código-fonte das urnas eletrônicas.
O caldo golpista foi temperado nas
mensagens pela associação feita pelos militares entre Lula e Gustavo Petro, o
novo presidente colombiano que, em sua reformulação da guerra às drogas, trocou
sete oficiais da cúpula das Forças Armadas.
Quem fala (mal) pelas Forças é o Ministério
da Defesa, mas o comandante do Exército, Marco Antonio Freire Gomes, achou por
bem soltar uma nota sobre o afastamento do coronel Ricardo Sant’Anna da
comissão que acompanha a fiscalização das urnas eletrônicas.
O coronel infringiu três portarias do
Exército, além do regulamento disciplinar da corporação e o estatuto dos
militares. Ainda assim, não recebeu nenhuma punição. Contrariando todas as
normas do Exército, o comandante, por meio da nota, limitou-se a respaldar o
coronel ao dizer que as posições pessoais dos oficiais não interferem no
desempenho de suas funções. Não apenas deixou de substituí-lo na comissão como
não o puniu.
A confirmação, no dia seguinte à posse de Moraes, pelo Comando Militar do Leste, do 7 de setembro em Copacabana, ainda que sem parada militar, é indício de que Bolsonaro não desistiu. E tem respaldo para novo show de horrores.
O pior é que tem plateia para aplaudir o show de horrores.
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