Valor Econômico
Lula demonstrou nervosismo e Bolsonaro,
descontrole
Com um Lula nervoso de um lado e um
Bolsonaro descontrolado do outro, sobrou para Simone brilhar no debate da TV
Bandeirantes e a Ciro defender seu quinhão contra o voto útil. Se o presidente
conseguiu inúmeras cenas em que chama o ex-presidente de “presidiário” para
impulsionar suas redes também vai ter que se esforçar para neutralizar a
exploração de seus ataques às mulheres. Se Lula pretendia se mostrar mais
“presidencial” do que aquele que está na cadeira, com tratamento mais
respeitoso a todos, principalmente às mulheres, acabou por revelar falta de
foco ao se defender do previsível ataque bolsonarista.
Indagado pelo presidente da República sobre
corrupção na Petrobras, o ex-presidente valeu-se da mesma “colinha”, a exemplo
do que fez no “Jornal Nacional”, para citar as medidas anticorrupção que seu
governo tomou. Neste momento, optou por não revidar com os casos de corrupção
neste governo. Atrapalhou-se ainda no manejo do tempo. A pretexto de deixar
mais tempo para a tréplica, deixou respostas pela metade.
Lula recuperou-se do meio para fim do debate, ao revidar um ataque de Ciro.
Deslizou ao incluir o ex-governador Mario Covas, morto em 2001, no rol de personagens que, a exemplo de Roberto Requião e Ciro Gomes, respeita, mas logo mostrou boa forma frente ao candidato do PDT. “Você tem um coração mais mole que a língua, só espero que não vá para Paris”, disse, numa referência ao 2º turno de 2018, quando o candidato do PDT viajou antes de votar em Fernando Haddad.
Mostrou presença de espírito frente a uma
pergunta da senadora Soraya Tronicke, ao lembrar que a proposta de imposto
único de seu vice, Marcos Cintra, já está na praça há 30 anos, e que se ela não
lembrava de seu governo, a empregada, o jardineiro e o motorista da senadora
certamente o fariam.
Lula só arrumaria uma boa resposta para as
provocações de Bolsonaro sobre corrupção nas considerações finais, ao dizer que
foi preso para que seu adversário se elegesse presidente da República. Até ali,
porém, Bolsonaro já tinha produzido as cenas de que precisava para editar o
debate como um embate contra a corrupção petista que o elegeu em 2018.
Seu desempenho ao longo do debate, porém,
foi o inverso do de Lula. O presidente começou bem o embate defendendo seu
governo, com menções ao Auxílio Emergencial e à redução no preço dos combustíveis,
mas perdeu as estribeiras ao atacar a jornalista Vera Magalhães e a Simone
Tebet. A jornalista havia citado o descaso do governo com as vacinas para a
Covid antes de perguntar ao candidato do PDT sobre sua política de vacinação.
A senadora havia feito a mesma crítica,
cavalgando sua participação na CPI da pandemia. Agressivo, Bolsonaro disse que
ambas eram “uma vergonha” - para o jornalismo brasileiro e para o Senado
Federal. “Não tenho medo de você”, reagiu a candidata do MDB. Soraya Tronicke,
do União Brasil, que não havia sido atacada pelo presidente, pegou a deixa e
foi pra cima: “Tem candidato que é Tchutchuca com os homens e tigrão com as
mulheres”.
Simone voltaria ao tema com a melhor
pergunta do debate. Depois de listar a defesa que Bolsonaro fizera de um
suplente (Talvane Albuquerque) que matou uma deputada (Ceci Cunha) para
tomar-lhe a vaga, votou contra os direitos das domésticas, ameaça jornalistas e
é misógino, perguntou: “Por que o senhor tem tanta raiva das mulheres?”. Ao
responder, Bolsonaro ainda apelou para a atuação de Michelle, mas insistiu no
erro ao dizer que as mulheres se vitimizam. “Chega de mimimi”, afirmou,
repetindo a frase que marcou seu desprezo pelas vítimas da pandemia.
Bolsonaro ainda amargaria um confronto
desfavorável com Ciro quando, na tentativa de remediar sua agressividade contra
as mulheres, atacou uma frase usada pelo candidato do PDT na campanha de 2002.
Naquele ano, quando Ciro era casado com a atriz Patricia Pillar, foi indagado
sobre o papel dela na campanha, e respondeu: “Dormir comigo”. Ao retrucar o
presidente, Ciro ressuscitou a verve que lhe deu fama. Lembrou a
insensibilidade de um presidente que simulou sufocamento de paciente da covid e
disse que não é coveiro e foi pra cima: “Cometi uma infelicidade com uma mulher
extraordinária. Você corrompeu suas ex-esposas e seus filhos. Só trago isso
porque sua falta de caráter trouxe um assunto de 20 anos atrás. Cometi o erro
de alguém criado numa cultura machista. Eu aprendi. Você não aprende nunca”.
Apesar de ter dois candidatos nanicos, como
Felipe d’Avila e Soraya, que, aqui e ali, alfinetaram Lula, Bolsonaro não
contou com dobradinha como Lula fez com Simone. O dueto só foi completo porque
Lula, depois de elogiar a participação de “vossa excelência” na CPI da
Pandemia, perguntou à senadora se houve corrupção na gestão do governo na
pandemia. A pergunta deu oportunidade para Simone falar de sua atuação na CPI.
Ela mencionou o “caso escabroso” da Covaxin, mas limitou-se a dizer que
“tentaram” pagar U$ 45 milhões em paraíso fiscal. E lembrou a Lula que a
corrupção não nasceu no governo Bolsonaro. “É fruto de governos passados, como
o de vossa excelência”.
E se Simone Tebet fosse presidente também teria corrupção em seu governo,simples assim.
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