segunda-feira, 29 de agosto de 2022

Maria Cristina Fernandes - No apagão dos líderes, Tebet brilha

Valor Econômico

Lula demonstrou nervosismo e Bolsonaro, descontrole

Com um Lula nervoso de um lado e um Bolsonaro descontrolado do outro, sobrou para Simone brilhar no debate da TV Bandeirantes e a Ciro defender seu quinhão contra o voto útil. Se o presidente conseguiu inúmeras cenas em que chama o ex-presidente de “presidiário” para impulsionar suas redes também vai ter que se esforçar para neutralizar a exploração de seus ataques às mulheres. Se Lula pretendia se mostrar mais “presidencial” do que aquele que está na cadeira, com tratamento mais respeitoso a todos, principalmente às mulheres, acabou por revelar falta de foco ao se defender do previsível ataque bolsonarista.

Indagado pelo presidente da República sobre corrupção na Petrobras, o ex-presidente valeu-se da mesma “colinha”, a exemplo do que fez no “Jornal Nacional”, para citar as medidas anticorrupção que seu governo tomou. Neste momento, optou por não revidar com os casos de corrupção neste governo. Atrapalhou-se ainda no manejo do tempo. A pretexto de deixar mais tempo para a tréplica, deixou respostas pela metade.

Lula recuperou-se do meio para fim do debate, ao revidar um ataque de Ciro.

Deslizou ao incluir o ex-governador Mario Covas, morto em 2001, no rol de personagens que, a exemplo de Roberto Requião e Ciro Gomes, respeita, mas logo mostrou boa forma frente ao candidato do PDT. “Você tem um coração mais mole que a língua, só espero que não vá para Paris”, disse, numa referência ao 2º turno de 2018, quando o candidato do PDT viajou antes de votar em Fernando Haddad.

Mostrou presença de espírito frente a uma pergunta da senadora Soraya Tronicke, ao lembrar que a proposta de imposto único de seu vice, Marcos Cintra, já está na praça há 30 anos, e que se ela não lembrava de seu governo, a empregada, o jardineiro e o motorista da senadora certamente o fariam.

Lula só arrumaria uma boa resposta para as provocações de Bolsonaro sobre corrupção nas considerações finais, ao dizer que foi preso para que seu adversário se elegesse presidente da República. Até ali, porém, Bolsonaro já tinha produzido as cenas de que precisava para editar o debate como um embate contra a corrupção petista que o elegeu em 2018.

Seu desempenho ao longo do debate, porém, foi o inverso do de Lula. O presidente começou bem o embate defendendo seu governo, com menções ao Auxílio Emergencial e à redução no preço dos combustíveis, mas perdeu as estribeiras ao atacar a jornalista Vera Magalhães e a Simone Tebet. A jornalista havia citado o descaso do governo com as vacinas para a Covid antes de perguntar ao candidato do PDT sobre sua política de vacinação.

A senadora havia feito a mesma crítica, cavalgando sua participação na CPI da pandemia. Agressivo, Bolsonaro disse que ambas eram “uma vergonha” - para o jornalismo brasileiro e para o Senado Federal. “Não tenho medo de você”, reagiu a candidata do MDB. Soraya Tronicke, do União Brasil, que não havia sido atacada pelo presidente, pegou a deixa e foi pra cima: “Tem candidato que é Tchutchuca com os homens e tigrão com as mulheres”.

Simone voltaria ao tema com a melhor pergunta do debate. Depois de listar a defesa que Bolsonaro fizera de um suplente (Talvane Albuquerque) que matou uma deputada (Ceci Cunha) para tomar-lhe a vaga, votou contra os direitos das domésticas, ameaça jornalistas e é misógino, perguntou: “Por que o senhor tem tanta raiva das mulheres?”. Ao responder, Bolsonaro ainda apelou para a atuação de Michelle, mas insistiu no erro ao dizer que as mulheres se vitimizam. “Chega de mimimi”, afirmou, repetindo a frase que marcou seu desprezo pelas vítimas da pandemia.

Bolsonaro ainda amargaria um confronto desfavorável com Ciro quando, na tentativa de remediar sua agressividade contra as mulheres, atacou uma frase usada pelo candidato do PDT na campanha de 2002. Naquele ano, quando Ciro era casado com a atriz Patricia Pillar, foi indagado sobre o papel dela na campanha, e respondeu: “Dormir comigo”. Ao retrucar o presidente, Ciro ressuscitou a verve que lhe deu fama. Lembrou a insensibilidade de um presidente que simulou sufocamento de paciente da covid e disse que não é coveiro e foi pra cima: “Cometi uma infelicidade com uma mulher extraordinária. Você corrompeu suas ex-esposas e seus filhos. Só trago isso porque sua falta de caráter trouxe um assunto de 20 anos atrás. Cometi o erro de alguém criado numa cultura machista. Eu aprendi. Você não aprende nunca”.

Apesar de ter dois candidatos nanicos, como Felipe d’Avila e Soraya, que, aqui e ali, alfinetaram Lula, Bolsonaro não contou com dobradinha como Lula fez com Simone. O dueto só foi completo porque Lula, depois de elogiar a participação de “vossa excelência” na CPI da Pandemia, perguntou à senadora se houve corrupção na gestão do governo na pandemia. A pergunta deu oportunidade para Simone falar de sua atuação na CPI. Ela mencionou o “caso escabroso” da Covaxin, mas limitou-se a dizer que “tentaram” pagar U$ 45 milhões em paraíso fiscal. E lembrou a Lula que a corrupção não nasceu no governo Bolsonaro. “É fruto de governos passados, como o de vossa excelência”.

 

Um comentário:

  1. E se Simone Tebet fosse presidente também teria corrupção em seu governo,simples assim.

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