O Globo
Dados inéditos da pesquisa Genial/Quaest
indicam que os ganhos eleitorais do Auxílio Brasil não devem ajudar Bolsonaro
como pensa o governo
Dados inéditos de uma pesquisa de opinião
mostram que o efeito dos benefícios eleitoreiros ainda é pequeno para Jair
Bolsonaro. A propensão de votar nele, por causa da elevação do valor do Auxílio
Brasil, aumenta pouco entre os mais pobres e até diminui entre os que não
querem nem Bolsonaro nem Lula. Já com a queda dos impostos sobre combustível,
há um aumento da propensão de votar em Bolsonaro entre os mais ricos. “O que o
governo queria, que era conquistar a renda baixa, não parece que vai conseguir
o tanto que ele precisa. Mas com o ICMS ele consegue mobilizar uma turma que,
mais ou menos, já é dele”, diz o cientista político Felipe Nunes.
Mesmo sendo residual, o que a pesquisa da Genial/Quaest mostra é que o pouco avanço que Bolsonaro consegue com essas medidas pode levar a disputa para o segundo turno.
— Hoje o que pode acontecer é o eleitor do
Bolsonaro ficar mais feliz com o Bolsonaro, o eleitor do Lula ficar na mesma, e
o eleitor dos outros ter menos chance de votar no governo. Ele não consegue
mobilizar os pobres e não consegue mobilizar os nem-nem. Tem efeito, mas é
pequeno — diz Nunes.
Entre os que ganham até dois salários
mínimos, 25% dizem que as medidas aumentam a propensão de votar em Bolsonaro.
Mas 29% dizem que não aumenta e 43% acham que nada muda.
Na pergunta sobre o efeito do ICMS, 33% dos
pesquisados dizem que aumenta a chance de votar em Bolsonaro, 31% dizem que
diminui, e, 31%, que não faz diferença. Entre os de renda de cinco salários
mínimos ou mais, há um entusiasmo com essa medida da gasolina. Sai de 34% para
43% a chance de votar em Bolsonaro.
Outro dado importante: 57% acham que as
medidas foram tomadas para ganhar a eleição e 38% acreditam que são uma
tentativa de melhorar a vida das pessoas. No eleitorado de Lula, 78% acham que
é para ganhar a eleição e 16% acreditam que é para melhorar a vida das pessoas.
Veja os gráficos abaixo.
— O efeito pode levá-lo ao segundo turno,
mas não é o suficiente para virar o jogo. Dez por cento dos eleitores que hoje
estão com Lula dizem que aumenta a chance de votar em Bolsonaro. Isso é
compatível com a queda de quatro pontos de Lula no geral, mas o que tem
acontecido é que, ao mesmo tempo que Bolsonaro tira votos de Lula, Lula tem
atraído votos dos outros candidatos — diz.
O nível de conhecimento sobre o aumento do
auxílio e a redução do ICMS dos combustíveis é alto. Portanto, o efeito já
deveria estar sendo sentido. No eleitorado que ambos querem conquistar, dos
outros que ainda estão na disputa e dos que já estão desistindo, os dados não
favorecem Bolsonaro. Com o aumento do Auxílio, 15% dos eleitores desses
candidatos dizem que cresce a chance de votar em Bolsonaro, mas 30% dizem que
diminui, e 54% afirmam que é indiferente. No ICMS, para 23% aumenta, 28%,
diminui, e, para 46%, não faz diferença.
— Voto é um recurso escasso, não é
ilimitado, tem que tirar de alguém. Com o Auxílio, a chance de votar em
Bolsonaro para quem já é bolsonarista é grande, mas sempre foi. Do eleitor do Lula
ele tira um pouco, e é isso que a gente está vendo na aproximação deles na
margem de erro. Mas o dado importante é que entre os 10% dos demais candidatos
Bolsonaro mais perde que ganha — diz Nunes.
Sempre com o alerta de que pesquisa é
“diagnóstico e não prognóstico”, o retrato hoje é o de que o efeito é pequeno,
ainda que possa ser decisivo para levar a disputa para o segundo turno.
Outra bomba foi jogada agora pela equipe
econômica de Bolsonaro para tentar mudar o humor do eleitor de baixa renda. Será
absolutamente nocivo, mas pode ter efeito eleitoral, que é o consignado do
Auxílio. Um especialista em finanças conta que os grandes bancos não entrarão
porque sabem que é inadmissível. Mas hoje os correspondentes bancários viraram
empresas grandes e, junto com as financeiras, já estão assediando os muito
pobres.
— Os juros são de 80% ao ano, e o risco
para a financeira é zero, já que há desconto na fonte, garantido pelo Tesouro.
É o crime perfeito. O dinheiro vai direto para a Faria Lima. É surreal. Esse
governo já fez de tudo, mas essa passou de todos os limites morais — disse.
Isso porque os miseráveis serão achacados pelas financeiras e pelos correspondentes bancários, em dívidas a juros escorchantes. O governo fez isso para que os muito pobres tenham a sensação de bem-estar na hora do voto. É política econômica sem qualquer escrúpulo.
Os pobres ganham com uma mão,os bancos tiram com a outra.
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