O Globo
Se os juros subirem na próxima reunião,
será a 11 dias das eleições, mas as incertezas das contas públicas exigem
atenção do Banco Central
Os juros
subiram para 13,75%, e o recado mais importante foi o de que as taxas ainda
podem ter um “aumento residual, de menor magnitude em sua próxima reunião”,
segundo o Banco Central. Com isso, os juros talvez terminem esta temporada de
altas em 14%. Havia dúvidas sobre se o BC encerraria o ciclo ou deixaria a
porta aberta para nova alta. Deixou entreaberta. A próxima reunião será
realizada em 20 e 21 de setembro, a onze dias das eleições e após duas
deflações. Existem motivos para parar de subir as taxas, porém, há dúvidas
sobre a economia global e a brasileira.
Se as dúvidas no Brasil fossem só econômicas, estaria bom. O grande temor que paira sobre o país neste fim de ano é político. Por causa dos ataques sem tréguas do presidente contra a ordem democrática, o país está vivendo uma eleição geral como se fosse um plebiscito terminal sobre a democracia. Um vida ou morte, um tudo ou nada. Nesse clima, olhar os comunicados do Banco Central e tentar achar sentido neles pode parecer uma tarefa fora de propósito. Mas a economia está sempre em diálogo com todo o resto. Por exemplo, para tentar ganhar a eleição, o governo baixou imposto e adotou medidas eleitoreiras. Resultado, os preços administrados terminarão o ano em queda de 1,3%, registra o BC. No ano seguinte, contudo, haverá o efeito rebote e esses preços podem subir 8,4%. Por dever de ofício o Banco Central tem que olhar além do horizonte político.
Esse ciclo de juros encerra um período que
poderia ter sido aproveitado para arrumar as contas públicas. Quando as taxas
caíram a 2%, houve uma redução forte do custo da dívida. Aquele era o momento,
mas o governo acabou acelerando as despesas. O economista Márcio Garcia,
professor titular da PUC-Rio, resume assim:
— Não consertamos o telhado quando estava
sol, agora está começando a chover e pode vir tempestade.
O tempo ruim vem de fora. Estados Unidos
tiveram dois trimestres de redução do PIB, Europa vive o impacto direto da
guerra da Rússia contra a Ucrânia e agora há um novo ponto de tensão entre
Estados Unidos e China. A inflação alta no mundo inteiro está levando a um aumento
global das taxas de juros.
— Quando os juros sobem nos Estados Unidos,
sai dinheiro dos países emergentes. Houve cinco meses seguidos de saída líquida
de recursos dos emergentes. Isso afeta o valor de ativos de risco como a bolsa
e o dólar sobe —contou Márcio Garcia em uma entrevista que me concedeu na
Globonews.
O Banco Central disse que há “persistência
das pressões inflacionárias globais”. A chuva já está ocorrendo, mas pode virar
tempestade.
— Quando os juros ficam baixos durante
muito tempo, as instituições financeiras assumem mais riscos atrás de
rentabilidade. Aí, quando os juros sobem, isso pode acabar batendo nos bancos —
explica Márcio Garcia.
Aqui dentro, o governo costuma dizer que o
país melhorou do ponto de vista fiscal porque a previsão era de que a dívida
chegasse a 100% do PIB e ela está abaixo de 80%, e há pequeno superávit fiscal.
O BC falou, contudo, que é um risco manter todas aquelas reduções de impostos e
benefícios.
— Quando se olha para a frente, o nosso
limitador que estava funcionando era o teto de gastos. O governo tirou o teto
com a PEC dos precatórios e nada pôs no lugar. Depois veio a PEC kamikaze. O
próprio ministro deu esse nome. Pois o kamikaze se jogou contra o navio e
explodiu o equilíbrio fiscal — diz Márcio Garcia.
Em 2002, o Brasil passou por uma incerteza
muito menor. A dúvida era apenas qual seria a política econômica de Lula.
— Naquela época havia dois problemas. Um
deles, de contas externas, o país não tinha reservas. Agora, tem. Mas vale
olhar para os países que não têm, como Argentina e Turquia. Outro problema era
o fiscal. E isso continua. Na pandemia, o governo tinha mesmo que aumentar o
gasto para salvar vidas. Mas depois disso enfiou o pé na jaca e gastou a rodo
sem motivo claro —disse Márcio Garcia.
O próximo governo terá que enfrentar um
quadro de desordem fiscal, o orçamento secreto, os efeitos das muitas PECs do
atual governo:
— Estamos mudando a Constituição mais
frequentemente que estatuto de condomínio.
Com sol ou com chuva, em 2023, haverá muito conserto a fazer no telhado. Não haverá tempo fácil para quem herdar as bombas armadas por Bolsonaro.
Lula está com coragem,herdar um País de terra arrasada não vai ser fácil!
ResponderExcluir