O Globo
Na mira implacável de Alexandre de Moraes
Não faz muito tempo. Menos de um ano. O
ministro Alexandre de Moraes, hoje comandante de nossas eleições, foi xingado
abertamente, em discurso na Avenida Paulista, pelo presidente Jair Bolsonaro no
dia 7 de setembro de 2021. “Qualquer decisão do senhor Alexandre de Moraes,
esse presidente não mais cumprirá. (...) Ele tem tempo ainda de pedir o seu
boné e ir cuidar da sua vida. Ele, para nós, não existe mais. Ou esse ministro
se enquadra ou ele pede para sair. Ele tem tempo ainda para se redimir, tem
tempo ainda de arquivar seus inquéritos. Sai, Alexandre de Moraes. Deixa de ser
canalha”. Um mês antes, em agosto, Bolsonaro pediu o impeachment do ministro.
É sempre bom lembrar. O Brasil teima em ter memória curta. Seja lá qual for a persona que o presidente assumir nesta reta de chegada até outubro, não podemos esquecer que enfrentamos quatro anos de crimes de responsabilidade, um após o outro. Xingar um juiz do Supremo e afirmar que não obedecerá ao Poder Judiciário é crime de responsabilidade. Reunir embaixadores, com verba pública, para mentir sobre as urnas eletrônicas e caluniar o próprio país é crime de responsabilidade. Vazar dados sigilosos de inquérito da Polícia Federal é crime de responsabilidade. Negar a gravidade da Covid-19, depreciar a máscara e as vacinas, promover remédio inútil e zombar do sofrimento das famílias é crime de responsabilidade. Associar a vacina da Covid à contaminação pelo vírus da Aids é crime de responsabilidade. Propagar fake news é crime de responsabilidade.
Temos um serial killer da responsabilidade
no Palácio do Planalto. Imune por obra e desgraça dessa Câmara e dessa
Procuradoria Geral da República, omissas e cúmplices. Alexandre de Moraes não
sucumbiu. Ao contrário, cresceu como fiador da democracia e entregou
pessoalmente o convite a Bolsonaro para a cerimônia de posse. Não pediu o boné,
não caiu na armadilha da vulgaridade, reagiu com firmeza e elegância a todos os
ataques, e transformou a protocolar passagem de bastão no TSE numa solenidade
histórica.
Nada de palavras desnecessárias ou
ininteligíveis, nada de discurso polido, medroso. Nada de discurso de ódio. O
texto é exemplar. E muito forte – até pelas mensagens implícitas. Nem precisou
falar de golpe. Alexandre de Moraes me surpreendeu, confesso. Xandão, um jovem
ministro nascido em 1968, com 54 anos incompletos, virou o namoradinho do
Brasil e justiceiro em memes nas redes. Em um dos memes, o juiz pergunta a
Bolsonaro: “Entendeu ou quer que eu desenhe?”
O Brasil já entendeu e é contra a
radicalização e conflitos armados. O Brasil quer votar em paz. Mas, diante das
pesquisas favoráveis a Lula, do PT, empresários bolsonaristas são acusados de
tramar golpe. O furo é do jornalista Guilherme Amado, do site Metrópoles.
Juristas pediram ao Supremo que incluam esses empresários no inquérito sobre
milícias digitais antidemocráticas. O site reproduziu mensagens do grupo
Empresários & Política. José Koury (dono do Barra World Shopping): “Prefiro
golpe do que a volta do PT. Um milhão de vezes”. André Tissot (presidente do
grupo Sierra): “O golpe teria que ter acontecido nos primeiros dias de governo,
2019, teríamos ganhado outros 10 anos a mais”. O grupo chegou a discutir se
seria ilegal dar bônus em dinheiro aos trabalhadores que votassem em Bolsonaro.
José Isaac Peres (dono dos shoppings
Multiplan): “Quero ver se o TSE tem coragem de fraudar as eleições após um
desfile militar na Av Atlântica com as tropas aplaudidas pelo público”. Morongo
(Marco Aurélio Raymundo, dono da marca de surfwear Mormaii): “O 7 de setembro
está sendo programado para unir o povo e o Exército e ao mesmo tempo deixar
claro de que lado o Exército está”. No 7 de Setembro, bicentenário da
Independência, não haverá desfile militar na Av Atlântica. Nem na Presidente
Vargas. Haverá um ato próximo ao Forte de Copacabana. Com barcos e aviões. O
Comando Militar do Leste cancelou as paradas depois que a prefeitura do Rio
vetou o uso da orla.
Isso é o que dá isentar nosso
criminoso-mor. Seus seguidores incham de prepotência. O discurso de Alexandre
de Moraes, aplaudido de pé, terá efeitos. Coibir a sanha golpista? Ou
alimentar? Vamos fazer nossa parte. Estas eleições são cruciais. E você sabe
disso.
Muitos e muitos crimes! Mas, enquanto o criminoso-mór e mentiroso-mór não for punido, seus cúmplices sentem-se a vontade e protegidos/acobertados pra seguirem cometendo seus próprios crimes, crentes na impunidade que foi obtida (até agora) pelo genocida! Fora do poder, Bolsonaro vai começar a pagar por tantos crimes e mentiras! E não vai poder continuar protegendo seus cúmplices familiares, aquele bando de zeros, valores que indicam o que cada um realmente vale! O próprio Bolsonaro já percebia o que cada um valia...
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