quinta-feira, 1 de setembro de 2022

Adriana Fernandes - A corrida por ‘quem dá mais’ e o BC

O Estado de S. Paulo

As promessas de novos gastos só pioram o trabalho do BC na gestão da taxa de juros

Assistimos no Brasil a uma corrida eleitoral do “quem dá mais” das promessas dos presidenciáveis para os programas sociais em 2023. Os valores prometidos só sobem, sem comprometimento com o financiamento da nova fatura e a melhoria do foco dos programas.

Esse atual regime geral de incertezas só piora o lado do Banco Central no ajuste do voo para o pouso da política de alta de juros. É bem mais difícil o caminho para Roberto Campos Neto, presidente do BC, que estará no comando da instituição em 2023, independentemente de quem ganhar as eleições.

O projeto do Orçamento enviado ontem ao Congresso é o retrato das dificuldades desse cálculo. Foi encaminhado sem contar com todas as despesas que já estariam contratadas para 2023.

O Auxílio Brasil (ou Bolsa Família) será de R$ 600? Terá adicional de R$ 150? A manutenção dos cortes de tributos que têm ajudado a frear a inflação continuará prometida depois das eleições? O bolsa-caminhoneiro, o bolsa-táxi, o vale-gás serão renovados em 2023?

Mas não é só.

O ponto principal na análise do BC para a decisão dos juros serão as medidas que afetam o preço de combustíveis, como o corte dos tributos federais e do ICMS cobrado pelos Estados. E sobre isso não se sabe ao certo o que vai acontecer. A queda do ICMS, por exemplo, está judicializada no Supremo.

Campos Neto disse há poucos dias que não dá para “baixar a guarda” em relação aos juros no Brasil. Na linguagem dos BCS, trata-se de manter a vigilância.

Com tantas incertezas, o BC acaba tendo de ser mais conservador à medida que as notícias de gastança vão saindo. Tudo isso tem um custo, que é incorporado ao preço presente e faz com que a melhora prevista no futuro seja menor, ainda que num cenário de alívio para a inflação.

É o caso da inflação mais baixa em 2022 que gera uma inércia melhor para 2023. Com a queda dos tributos, havia muita dúvida do que seria repassado aos preços. O resultado tem sido melhor do que se esperava. Os repasses estão mais fortes, inclusive com as empresas de telecomunicação.

A desaceleração global vindo forte também ajuda a reduzir os preços por aqui, e os dados de crédito em tempo real dos bancos mostram desaceleração na ponta.

Não é hora de celebrar. Há componentes da inflação que merecem bastante atenção. É o caso da inflação de serviços. E há, sobretudo, uma incógnita com relação ao comportamento dos salários num cenário de geração de empregos mais forte. Ontem, o IBGE anunciou que a taxa de desemprego no Brasil voltou a cair para 9,1%, o menor patamar desde dezembro de 2015.

 

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