Valor Econômico
Bolsonaro perdeu chance de aceno às
mulheres no 7 de setembro
Sabemos há décadas que o presidente Jair
Bolsonaro não gosta de ler. Na edição de 27 de fevereiro de 1988, o “Jornal do
Brasil” já informava sobre o então capitão do Exército: “De direita, seguidor
do general Newton Cruz, o capitão costumava carregar um revólver calibre 32 na
botina (...) Dos livros, queria distância”.
Essa característica não inviabilizou uma
longeva carreira política, mas pode acarretar falhas de estratégia ao
presidente que busca a reeleição. Se ao menos folheasse livros de história,
Bolsonaro teria conhecimento de que no dia 7 de Setembro de 1822, o Brasil
poderia ter se libertado de Portugal pelas mãos de uma mulher, tal qual coube à
Princesa Isabel assinar a Lei Áurea em 1888.
É claro que o título desta coluna é uma licença poética, que romantiza a possibilidade de que a imperatriz Maria Leopoldina proclamasse a independência do Brasil, sem a cumplicidade do marido, o imperador Dom Pedro I. A história comprova, entretanto, que dona Leopoldina, ao lado do ministro e conselheiro José Bonifácio, desempenhou papel decisivo nesse processo.
Naquele dia 7 de Setembro de 1822,
Leopoldina era a princesa regente do país, nos termos do decreto assinado pelo
imperador no dia 13 de agosto, para que ela respondesse pelos despachos
ordinários e comandasse reuniões com os ministros e com o Conselho de Estado
durante sua ausência, até que ele retornasse de São Paulo. “Hei por bem que os
meus ministros e secretários de Estado continuem nos dias prescritos e, dentro
do paço, debaixo da presidência da princesa real do reino Unido, minha muito
amada e prezada esposa (...)”
Para Bolsonaro, é no mínimo valiosa a
informação de que uma mulher teve protagonismo na independência do país: seria
uma oportunidade para homenagear as brasileiras no Bicentenário da
Independência, num momento em que ele tenta reduzir a vantagem do ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva em relação ao voto feminino. A rejeição de Bolsonaro
entre as mulheres é tão alta, que ele teve de escalar a primeira-dama Michelle
Bolsonaro como cabo eleitoral para ampliar o apoio entre as evangélicas.
Segundo a pesquisa Datafolha divulgada em
1o de setembro, Lula aparece 19 pontos percentuais à frente entre as mulheres,
com 48% das intenções de voto, contra 29% de Bolsonaro.
Educada para chefiar a dinastia dos
Habsburgo, a princesa Leopoldina era superior intelectualmente em relação a Dom
Pedro: era poliglota, tinha conhecimentos de matemática, química, biologia e
filosofia. Tinha ambição de exercer um papel público relevante, porque sua
irmã, a arquiduquesa Maria Luísa, havia se casado com Napoleão Bonaparte.
Apesar da imagem de mulher traída e
publicamente humilhada, porque Dom Pedro não escondia suas aventuras amorosas,
Leopoldina era notadamente influente junto ao marido. Ela foi uma das
articuladoras do “Dia do Fico”. Em dezembro de 1821, ela recusou submeter-se a
uma longa viagem de navio para Portugal porque estava com sete meses de
gestação. Logo depois, em 9 de janeiro de 1922, D. Pedro anunciaria a decisão
de não deixar o Brasil, contrariando ordens de Portugal.
Leopoldina tinha sensibilidade política,
atributo raro até nos dias atuais. Seu biógrafo observa que ficar calada e
silenciosa era tudo o que ela precisava para conseguir seus intentos. “Conhecia
o marido e, em vez de enfrentá-lo abertamente, comia pelas beiradas por meio de
conselhos pontuais e influenciando outros a aconselharem Dom Pedro, ela ia
conseguindo suas conquistas”, descreveu o historiador Paulo Rezzutti, na obra
“D. Leopoldina - A história não contada. A mulher que arquitetou a
independência do Brasil”.
Dias antes do grito do Ipiranga, Leopoldina
comandou reunião do Conselho de Estado, em que se discutiu as notícias de que
Lisboa avançava nos planos para transformar o Brasil novamente em uma colônia.
José Bonifácio sustentou que Dom Pedro deveria proclamar a independência o
quanto antes. O colegiado aprovou o conselho e Leopoldina, como regente,
sancionou a decisão.
Emissários foram enviados ao encontro de
Dom Pedro, que no regresso da viagem a São Paulo, descansava às margens do rio
Ipiranga. Na carta ao marido, Leopoldina endossava a recomendação de Bonifácio
e apelava ao marido que agisse: “O Brasil será em vossas mãos um grande país. O
Brasil vos quer para seu monarca. Com o vosso apoio ou sem o vosso apoio, ele
fará sua separação. O pomo está maduro, colhei-o já”.
Nenhuma das cartas destinadas a Dom Pedro -
nem a de Leopoldina nem a de José Bonifácio - foram jamais localizadas. Segundo
Pezzutti, sabe-se delas devido a menções de testemunhos do Conselho de Estado e
do grito do Ipiranga e de publicações realizadas a partir da década de 1920.
A pesquisa Datafolha mais recente,
divulgada na quinta-feira, foi a campo depois que Bolsonaro protagonizou uma
agressão verbal a uma jornalista e à adversária Simone Tebet, do MDB, no debate
promovido pela TV Bandeirantes. O levantamento mostrou que o presidente oscilou
apenas um ponto para cima no segmento das mulheres. Um resultado tímido diante
de toda a ofensiva deflagrada por Michelle Bolsonaro junto às evangélicas em
agendas presenciais e nas redes sociais.
O fato é que Bolsonaro não ajustou o tom junto ao público feminino. No mesmo dia em que a pesquisa foi divulgada, ele afirmou que “notícia boa para mulher é beijinho, rosa, presentes, férias”, em comentário de cunho machista, até mesmo para as mulheres que não se consideram militantes da causa feminista. No sábado, em um evento com mulheres em Novo Hamburgo (RS), ele questionou se elas preferiam sacar da bolsa a Lei Maria da Penha ou uma pistola. Outro erro porque um dos fatores de rejeição do presidente junto ao público feminino é a defesa das armas. A história demonstra que passou da hora do presidente mudar a atitude em relação às mulheres, nem que o estímulo seja o desempenho eleitoral.
Bolsonaro sempre foi leitor de jornais e revistas,me parece,a maioria não lê nada,ele está acima da média,tá certo que para um Presidente é pouco.
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