domingo, 4 de setembro de 2022

Celso Ming - A economia e as eleições

O Estado de S. Paulo

As últimas pesquisas de intenção de voto indicam que aumentou não só a probabilidade de realização de um segundo turno para eleição do presidente da República como, também, a redução da diferença entre os dois candidatos com melhores condições de chegar lá.

Os profissionais da política advertem que um segundo turno pode ser considerado “outra eleição”, como se a disposição do eleitor pudesse apresentar mudanças relevantes.

Em boa parte, essa novidade se deve à relativa melhora da economia. O recuo da inflação, o aumento significativo da produção, a baixa consistente dos preços dos combustíveis e a queda do desemprego tendem a produzir reflexos favoráveis à campanha eleitoral do candidato Jair Bolsonaro (PL) – embora até agora esse movimento ainda não tenha ficado evidente nas pesquisas.

Reforça essa percepção o fato de que devem aumentar em setembro os efeitos da política distributivista eleitoreira do atual governo, da ordem de R$ 42 bilhões, que despejou o Auxílio Brasil de R$ 600 por mês para 20 milhões de brasileiros, mais o vale-gás e as mesadas para caminhoneiros e taxistas. E, se houver segundo turno, esses efeitos poderão ter novo impulso em outubro, quando os eleitores mais pobres deverão sentir melhor os efeitos dessas benesses nos seus orçamentos domésticos.

O que não foi dito com a devida clareza foi que o PT e os demais partidos da oposição devem ser responsabilizados pela maior probabilidade da realização de um segundo turno e pelo aumento de chance de eventual reeleição de Bolsonaro, porque votaram em peso na chamada PEC Kamikaze, que criou as bondades eleitoreiras, sem consideração mínima para com o rombo fiscal que provocariam.

Embora as condições da economia sejam consideradas base de importância para o resultado das eleições, paradoxalmente, as questões de política econômica estiveram praticamente ausentes dos debates, das entrevistas e dos comícios. Quem mais insiste nesses temas, com posições discutíveis, é o candidato Ciro Gomes (PDT), terceiro nas pesquisas, com 9% das intenções de voto.

As propostas para a economia de Bolsonaro são mais ou menos conhecidas. Devem dar continuidade às atuais políticas. Mas as intenções do candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) são etéreas.

O documento elaborado pelo PT, denominado Diretrizes para o Programa de Reconstrução e Transformação do Brasil, já comentado por esta Coluna, é, nas suas intenções para a área econômica, um aglomerado de platitudes e de alguns recuos, como o da ideia inicial de trazer de volta o imposto sindical.

As únicas declarações enfáticas de Lula são de evitar a privatização das estatais, o aumento real do salário mínimo, de acabar com o teto dos gastos, de “abrasileirar” os preços da Petrobras e de nomear um político para o comando da Economia. E isso é pouco quando se sabe que é a economia que vai decidir as eleições.

 

Um comentário: