O Estado de S. Paulo
As últimas pesquisas de intenção de voto
indicam que aumentou não só a probabilidade de realização de um segundo turno
para eleição do presidente da República como, também, a redução da diferença
entre os dois candidatos com melhores condições de chegar lá.
Os profissionais da política advertem que
um segundo turno pode ser considerado “outra eleição”, como se a disposição do
eleitor pudesse apresentar mudanças relevantes.
Em boa parte, essa novidade se deve à
relativa melhora da economia. O recuo da inflação, o aumento significativo da
produção, a baixa consistente dos preços dos combustíveis e a queda do
desemprego tendem a produzir reflexos favoráveis à campanha eleitoral do
candidato Jair Bolsonaro (PL) – embora até agora esse movimento ainda não tenha
ficado evidente nas pesquisas.
Reforça essa percepção o fato de que devem aumentar em setembro os efeitos da política distributivista eleitoreira do atual governo, da ordem de R$ 42 bilhões, que despejou o Auxílio Brasil de R$ 600 por mês para 20 milhões de brasileiros, mais o vale-gás e as mesadas para caminhoneiros e taxistas. E, se houver segundo turno, esses efeitos poderão ter novo impulso em outubro, quando os eleitores mais pobres deverão sentir melhor os efeitos dessas benesses nos seus orçamentos domésticos.
O que não foi dito com a devida clareza foi
que o PT e os demais partidos da oposição devem ser responsabilizados pela
maior probabilidade da realização de um segundo turno e pelo aumento de chance
de eventual reeleição de Bolsonaro, porque votaram em peso na chamada PEC
Kamikaze, que criou as bondades eleitoreiras, sem consideração mínima para com
o rombo fiscal que provocariam.
Embora as condições da economia sejam
consideradas base de importância para o resultado das eleições, paradoxalmente,
as questões de política econômica estiveram praticamente ausentes dos debates,
das entrevistas e dos comícios. Quem mais insiste nesses temas, com posições
discutíveis, é o candidato Ciro Gomes (PDT), terceiro nas pesquisas, com 9% das
intenções de voto.
As propostas para a economia de Bolsonaro
são mais ou menos conhecidas. Devem dar continuidade às atuais políticas. Mas
as intenções do candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) são etéreas.
O documento elaborado pelo PT, denominado
Diretrizes para o Programa de Reconstrução e Transformação do Brasil, já
comentado por esta Coluna, é, nas suas intenções para a área econômica, um
aglomerado de platitudes e de alguns recuos, como o da ideia inicial de trazer
de volta o imposto sindical.
As únicas declarações enfáticas de Lula são
de evitar a privatização das estatais, o aumento real do salário mínimo, de
acabar com o teto dos gastos, de “abrasileirar” os preços da Petrobras e de
nomear um político para o comando da Economia. E isso é pouco quando se sabe que
é a economia que vai decidir as eleições.
Quem indica Henrique Meirelles nunca erra.
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