Valor Econômico
Pleito de 2018 e 2022 são diferentes, mas
há similaridades
Há praticamente quatro anos, a edição deste
jornal no dia seguinte à eleição registrava: Bolsonaro questionava o resultado
eleitoral e Fernando Haddad, o então candidato petista, anunciava que buscaria
uma frente ampla.
A similaridade do quadro atual com 2018,
quando tanta coisa mudou no Brasil desde então, mostra que essencialmente os
dilemas e estratégias do petismo e do bolsonarismo seguem os mesmos.
O PT sabe que para chegar e permanecer no
poder precisa pactuar com forças de fora da esquerda. Ninguém no partido soube
fazer isso, a não ser o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Haddad em 2018
esteve muito longe de conseguir.
Lula saiu da cadeia com um discurso conciliador e depois durante muitos meses pareceu jogar parado. Fez um movimento importante, ao trazer Geraldo Alckmin para seu redil rendido, sem nenhuma condição, mimetizando um radicalismo que nunca teve. Ainda assim, Alckmin na chapa representou uma inflexão importante: o ex-presidente escolheu como vice um político que tem estatura para substitui-lo em caso de um impeachment, por exemplo.
Era um sinal de que Lula não pretendia
ultrapassar os limites que a governabilidade lhe permite. Lula foi recentemente
comparado pela emedebista Simone Tebet com Juan Domingo Perón, da Argentina.
Ressalte-se a diferença: em 1973 Perón descartou ter como companheiro de chapa
o moderado Ricardo Balbin, da União Cívica Radical. Escolheu a mulher,
Isabelita. Lula casou-se com Janja, mas não a colocou na chapa. A falta de
preocupação de Perón em construir uma governabilidade mais ampla foi decisiva
para a hecatombe dos anos 70 na Argentina.
Os outros passos de Lula estão se tornando
evidentes agora: Henrique Meirelles já ingressa na rede de apoios trazendo uma
agenda. A ruralistas no Canal Rural, Lula mostrou-se aberto ao agronegócio.
Marina Silva encerrou com ele um divórcio político de 13 anos. O ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso, aos 91 anos, sentiu-se motivado a soltar um documento
genérico em defesa da democracia às vésperas da eleição. Não o fez há quatro
anos.
Do outro lado, o presidente Jair Bolsonaro
tornou-se o candidato de um partido grande, com o apoio de outros partidos
grandes, irmanado com o Centrão, com o seu governo envolvido em escândalos de
corrupção, muito dinheiro e muita infraestrutura, exatamente como diversos
outros políticos na história do Brasil.
A nota dissonante que o une a toda sua
história de vida é o discurso antidemocrático, em que o desmerecimento do
próprio instrumento maior da democracia, o voto, é uma peça central. Bolsonaro
nos anos 90 foi um admirador de Hugo Chávez pela forma, e não pelo conteúdo do
venezuelano. Fascinava-o a história de um militar que usava as ferramentas do
sistema para implodir o próprio sistema.
Ao questionar a alma da democracia,
Bolsonaro também mira na estrutura de independência dos três Poderes e na de
pesos e contrapesos. Já era assim em meados de outubro de 2018, quando veio à
tona um vídeo do filho do então candidato, Eduardo Bolsonaro, falando que para
fechar o Supremo bastava um cabo e um soldado. O pai fez uma repreensão
protocolar, mas na mesma ocasião surgiram propostas no seio do bolsonarismo
cogitando aumentar a composição do Supremo de 11 para 21 integrantes, uma forma
de tomar o controle da Suprema Corte. Ficou claro ali, inclusive para o próprio
Supremo, que enfraquecer o Judiciário seria uma de suas metas na Presidência.
Neste conflito entre os Poderes, é bom
deixar claro, o Supremo foi acima de tudo reativo. Quem partiu para a guerra
foi Bolsonaro, desde antes de sua eleição.
Assim como em 2018, o terceiro colocado
dessa eleição tende a ser o ex-governador cearense Ciro Gomes do PDT. Mas
repetir o terceiro lugar, mesmo com votação similar à que obteve na ocasião,
não o colocará em um ponto neutro.
Pela primeira vez o pedetista deverá ser
derrotado no Ceará em seu Estado. Seu apoiado, o ex-prefeito de Fortaleza
Roberto Cláudio, não deve nem sequer ir ao segundo turno. As críticas a Ciro se
avolumam dentro do próprio partido. Uma de suas correligionárias, Cidinha
Campos, no Rio de Janeiro, chegou a dizer que ele tende a se transformar no
“Eymael da esquerda”. Sua família não concorda com sua estratégia na disputa da
eleição cearense.
Ao fim da jornada eleitoral, Ciro parece só
ter dois objetivos a conquistar: permanecer em terceiro lugar e impedir que a
eleição presidencial se resolva no primeiro turno. A falha em qualquer um
destes dois objetivos poderá representar a sua sepultura política.
Há quatro anos, o insucesso de Ciro em
forjar alianças foi fatal para seu projeto eleitoral. Iniciou aquela corrida de
forma ambiciosa, articulando para ter um petista como seu candidato a vice. Nos
meses seguintes, alternou flertes com o PSB e com o PP de Ciro Nogueira.
Terminou sozinho. Este ano, Ciro nem ao menos tentou alianças.
Simone Tebet é a única dos quatro primeiros
que nunca disputou a Presidência da República. Seu ingresso na corrida
presidencial poupou-a de tentar uma reeleição difícil no Mato Grosso do Sul.
A aliança com o PSDB foi um dos fatos
surpreendentes da corrida eleitoral. Só se tornou possível graças à
impressionante capacidade do PSDB em se sabotar. A divisão entre os tucanos de
São Paulo e os de Minas Gerais é histórica e assombra o partido desde 1998, mas
o que aconteceu entre 2021 e 2022 beirou o surrealismo. O ex-governador de São
Paulo João Doria venceu uma contestada prévia indispondo-se com absolutamente
toda a cúpula do partido.
Conseguiu se indispor também com os
eleitores do seu Estado, mesmo tendo feito uma administração com conquistas
históricas, a mais notável das quais a sua atuação durante a pandemia de
covid-19 para garantir a imunização da população. A auto-incineração de Doria
há de ser estudada por cronistas no futuro. Pode deixar ainda como legado o fim
da mais longa hegemonia regional do Brasil.
O PSDB se autossabota, Bolsonaro sabota o Brasil... E Lula corre pro abraço da galera...
ResponderExcluirEsse abraço pode ainda não acontecer, se ao menos Bolsonaro não mencionasse Guedes novamente para ministro, ele é responsável por 50% da rejeição de Bolsonaro. Lula pelo seu passado está difícil de engolir, além de que ele é muito chato e seu ego o torna extremamente difícil de aceitação . Brasil não precisa de assimilação com América Latina, tem um ditado: Antes só do que mal acompanhado e, é preferível ser o pior entre os melhores que ser melhor entre os piores. A sua opinião sobre a guerra da Rússia na revista Times, que o presidente da Ucrânia é um ator que quer aparecer.fez repeli-lo. O que ele me diz sobre ele mesmo , um torneiro mecânico?
ResponderExcluirO que eu quero dizer é que estou vacilando sobre dar meu voto para ele, não quero ser mais um bobo da corte, o passado do Lula é inesquecível para as pessoas honestas e responsáveis. O PT é tão brochante quando um Bolsonaro e cia.
FHC levantou muitas dúvidas sobre se devemos seguir nossa consciência e instintos. PT com todo seu simbolismos e militância não fica atrás dos milicianos. Lembra o atropelamento do sujeito que fazia protesto contra o PT? Eu me lembro muito bem. Quem tão teve fidelidade com sua esposa, vai ter com eleitores? Não sou mais humano sou uma ideia. Qual a diferença entre o imbro-chável do Bolsonaro? Essa eleição que a corte nos legou é digna dela, só pode.
ResponderExcluirO ponto G ao presidente Bush, sinceramente? Entre ele e Bolsonaro não há diferenças em se tratando de vulgaridade. Para um país que já foi monárquico, não dá. É pisar nas nossas tradições mais elementares. Quero mais valor nos nossos políticos, esses daí não compensa sair para votar. Somos responsáveis também pelo nível da política atual. Se ao menos os militares não se apequenasse ainda continuariam a ser nossa reserva moral. Perdemos a igreja e o exército e ficamos na mão de uma corte faz de conta.
ResponderExcluirLula lá e bozo na cadeia.
ResponderExcluirLula tem muitos defeitos e honestidade duvidosa. Mas nunca foi um GENOCIDA ou antidemocrata como Bolsonaro, nem defendeu tortura e torturadores, nem estimulou o armamento da população ou a invasão de terras indígenas. Bolsonaro é um monstro, capaz de debochar de mortos e doentes! Maldito miliciano mentiroso!
ResponderExcluirMilitares assediam estudantes nas escolas cívico-militares por todo o país. A grande novidade da DESeducação bolsonarista só serviu para pagar salários para os militares monitores maiores do que recebiam os professores destas escolas! Os professores trabalhavam muito e continuaram ganhando pouco. Os militares ganham mais e só funcionam como "auxiliares" ou "seguranças" ou "fiscais", isto quando não atrapalham o funcionamento da escola, além das dezenas de casos denunciados às polícias em que os militares tentavam seduzir estudantes ou mesmo assediar sexualmente menores de idade, além de outros tantos casos de agressão a alunos ou intimidação destes e de pais dos estudantes. Militares devem ficar fora das escolas! Só nas escolas militares eles são aceitáveis!
ResponderExcluirTodos sabem que sempre foi e sempre será uma história sem fim alguns envelhecem e morrem pelo caminho como a história de Moisés da Bíblia que enganou seu povo por 40 anos...
ResponderExcluirDoria sabotou,involuntariamente,o PSDB em São Paulo.
ResponderExcluir