Folha de S. Paulo
Especial sobre cotas raciais ilustra a
colonização da imprensa profissional pela militante
A imprensa militante, uma ferramenta de
partidos e movimentos sociais, propaga causas políticas e ideológicas. A
imprensa profissional rejeita a pregação: analisa o noticiário segundo ângulos
e pontos de vista diversos, refletindo a pluralidade política da sociedade. O
especial sobre as cotas raciais nas universidades publicado pela Folha (29/8) ilustra a
colonização da segunda pela primeira.
São seis textos de propaganda das cotas
raciais. Acompanha-os uma entrevista com um crítico das cotas raciais que funciona
como disfarce: o álibi para inscrever a peça de imprensa militante num veículo
da imprensa profissional.
O primeiro texto noticia o diagnóstico
governamental de que os cotistas
obtiveram desempenho acadêmico similar aos demais —mas nenhum crítico
sério das políticas raciais acalentou a ideia racista de que ocorreria coisa
diferente.
O segundo defende a tese de que, ao longo do tempo, os beneficiários das cotas passaram a enxergá-las como um direito. Trata-se do óbvio: o que está na lei é um direito. O terceiro esforça-se para provar o impossível, exibindo os tribunais raciais criados pelas universidades como comissões capacitadas a distinguir cientificamente os pardos que são "negros" dos que são "brancos".
O quarto descreve
trajetórias de sucesso de cotistas, investindo na função emotiva da
publicidade. O quinto ilude o leitor: seu título afirma que o Brasil
serve de exemplo para países empenhados em "incrementar" sistemas de
cotas, mas só consegue apresentar uma nação (a Índia) que adota cotas
raciais (no caso, de castas). O sexto expõe a conclusão desejada: uma
ativista da causa explica que "negros ainda precisarão de cotas raciais
por muito tempo".
O
"outro lado" resume-se a uma entrevista hostil: um
interrogatório confrontacional no qual o jornalista embute nas
"perguntas" as teses dos arautos das cotas de raça. Num toque de
supremo oportunismo, o entrevistador sugere que o entrevistado alinha-se com o
bolsonarismo, obrigando-o a esclarecer que é um "crítico ao governo".
Os seis jornalistas que assinam os textos
militantes fazem parte do grupo Jocevir (Jornalistas pela Censura Virtuosa).
Todos, sem exceção, assinaram o manifesto solicitando o veto a artigos de
opinião de críticos das políticas raciais. Na opinião deles, o "outro
lado" —esse personagem definido como indispensável pelo Manual da Folha— precisa ser extirpado.
Os argumentos contrários às cotas raciais
foram ignorados no caderno especial. O tapume das preferências de raça no
acesso à universidade oculta a paisagem de ruínas do ensino público. Atrás da
falsa "inclusão", oculta-se a exclusão implacável da maioria dos
jovens, pretos, pardos ou brancos.
Mas nenhum dos textos experimentou cotejar
nossos indicadores educacionais com os padrões internacionais ao longo de 20
anos de vigência das cotas raciais. Note-se: a lei federal é de 2012, mas os
programas de cotas começaram em 2003.
Originalmente, os arautos das cotas as
justificaram como iniciativa para reduzir o racismo. A se dar crédito aos
textos que assinam atualmente, a política de cotas fracassou. Hoje, na
avaliação deles, um "racismo estrutural" triunfante contamina todas
as esferas da vida nacional, na política, na economia, na mídia e nas relações
interpessoais. Daí, extraem a conclusão paradoxal de que é necessário dobrar o
remédio contraproducente, estendendo a vigência da lei de cotas por várias
décadas.
No ponto de partida, os ativistas racialistas propuseram uma lei temporária, válida por dez anos. Mas políticas de raça sempre tendem a se perenizar, como os críticos alertaram —e como atesta a experiência da Índia. O jornalismo militante produzido na Folha faz parte da campanha política destinada a renovar a lei de cotas por 50 anos, eternizando uma fronteira legal entre "brancos" e "negros".
Ótimo artigo !
ResponderExcluirDiscordo do colunista e o considero parcial e preconceituoso, mas ele tem certa razão. Acho que as cotas trouxeram vários benefícios, e podem ser prorrogadas por mais um tempo, mas não são tão positivas quanto seus defensores tentam apresentá-las, no que concordo com o colunista. A diferenciação de quem é negro e quem não é (os "tribunais raciais" exagerados pelo preconceituoso colunista) são uma das maiores dificuldades, em geral pouco consideradas.
ResponderExcluirNão é uma questão muito difícil. Experimente aumentar a renda dos pretos pra valer Daí vc vai pra onde vai parar o tal racismo estrutural Principalmente no Brasil onde o povo não pode ver dinheiro pra começar a puxar seu saco Acontece que aumento de renda não se faz na base do populismo né? Enquanto isso os pretos que se lasquem
ExcluirBrilhante texto do colunista onde ele coloca de forma muito clara o jornalismo militante de esquerda da Folha de São Paulo que tem como dogma o combate a Bolsonaro desde o primeiro dia do seu governo de forma implacável e tendenciosa
ResponderExcluirA Folha de São Paulo tem o Instituto Datafolha que manter essa mesma política em todas as pesquisas as diferenças dos outros institutos é gritante , enquanto Instituto Futura já coloca Bolsonaro a frente 41.1 % para Lula 36.9%
As pesquisas do Instituto Datafolha ainda coloca Bolsonaro atrás de Lula 12 pontos
E o pior é que os jornalistas de esquerda só comentam essa pesquisa , as outras são ignoradas como a do Instituto Brasmarket e do Instituto Paraná pesquisas, que deram no primeiro a vitória do Presidente por 10 pontos percentuais e o segundo empate técnico
Mas o desespero já deve estar batendo a porta , as pesquisas verdadeiras já tão começando a chegar para essas pessoas que estão vendo o barco do Lula ladrão afundar a cada dia
Essas comissões universitárias de definição racial me lembra comissões no Tempo do nazismo de Hitler , que através de medições de crânio e características definia o povo ariano puro e o povo judeu inferior
ResponderExcluirA Folha de SP tem seus problemas, mas ainda é o melhor jornal do país. O sonho de Bolsonaro é que ela feche e deixe de denunciar todas as mentiras, as rachadinhas e os outros crimes que o presidente e sua família têm cometido. Mas a Folha ainda vai noticiar a derrota vergonhosa de Bolsonaro e os julgamentos que ele terá pela frente antes de ser encarcerado.
ResponderExcluirA crítica à militantização do nosso Estado, nefasto processo iniciado na gestão federal anterior, é extremamente bem-vinda! São os filhos e filhas, netos e netas das pessoas q estão vendo o q acontece agora e não protestam veementemente, que irão pagar por essa verdadeira invasão identitária em nosso Estado. Basta ver q uma militância organizada foi capaz de surrupiar as estatísticas de 46% da população brasileira, os pardos, para o grupo q essa militância diz q representa... Isso é muito grave, a elite q permitiu isso está podre em suas negociatas com essa militância. Dito isso, o autor do texto, por outro lado, não apresenta um argumento sequer q deslegitime as cotas, ele mostra os erros dos outros mas não apresenta defesa do q argumenta. Universidade deve ser para toda a população e se a desigualdade impede isso de acontecer, as cotas sociais são necessárias. Sociais. Raciais, não! O Brasil só melhorará com cidadãos respeitosos aos fatos, não com sofistas de um lado e do outro. Como o sofismo dos identitários é a força dominante atual, todo o ataque a ele é bem-vindo para o nosso povo! Mas q isso seja feito com honestidade.
ResponderExcluirSe tivesse cotas para homossexual,será que eu aceitaria?
ResponderExcluirNão sei.
Demétrio,perfeito.
ResponderExcluirO movimento negro mente. A rodo.
MAM
A questão dos pardos, levantada por um anônimo acima, é realmente muito importante, e tem sido desconsiderada. Não é lógico incluí-los junto com os negros, como se isto fosse automático, mas é o que tem sido feito pela militância da negritude. Se são uma "classe" intermediária entre "brancos" e "negros", constituída por pessoas que assim se autodeclaram, tal classe deve ser mantida como distinta de negros e brancos, ao menos pra fim de análises. Por que pardos seriam reunidos com negros, e não com brancos?
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