Folha de S. Paulo
O conservadorismo tem tradição no Brasil,
mas o bolsonarismo é reacionário, não conservador
O vírus da Covid-19 estará com a humanidade
pelo futuro previsível. Mas e o outro vírus, a extrema direita bolsonarista,
terá um futuro após a quase certa derrota eleitoral? Depois dela, permanecerá
na cena política brasileira ou se dissolverá na irrelevância?
A tese da permanência tem bons argumentos.
Cerca de um terço dos eleitores mantém fidelidade a Bolsonaro,
especialmente o núcleo do eleitorado evangélico. No 7 de Setembro,
o bolsonarismo comprovou, mais uma vez, sua capacidade de mobilização popular.
Ancorado no apoio de parcela similar da população, o PT sobreviveu a
devastadoras intempéries e prepara-se para retornar ao Planalto. Será, porém,
que popularidade basta?
Os partidos da extrema direita europeia que ascenderam recentemente deitam raízes em correntes profundas das histórias nacionais. A Reunião Nacional francesa deriva tanto da nostalgia do regime colaboracionista de Vichy quanto do neocolonialismo poujadista —e Marine Le Pen tenta expandir sua base para os saudosistas do nacionalismo gaullista. O Vox, na Espanha, nutre-se da memória do franquismo. O Irmãos da Itália, de Giorgia Meloni, engaja-se na reforma e atualização do mussolinismo. O bolsonarismo, por outro lado, carece de chão histórico.
O conservadorismo tem extensa tradição no
Brasil, mas o bolsonarismo é reacionário, não conservador. O Partido Militar da
nossa história republicana organizou-se em torno do positivismo, um ramo
ideológico da modernidade rejeitado pela extrema direita de Bolsonaro. A
ditadura militar, cantada em verso e prosa pelo presidente inculto, acalentava
o planejamento econômico geiseliano, não o fetichismo do livre mercado
personificado por Paulo Guedes.
Pelo mundo afora, a aposta da direita
populista que contesta a democracia é antiliberal. Le Pen, Meloni e seus
congêneres prometem a proteção estatal aos "órfãos da globalização" —ou
seja, à classe média e aos trabalhadores fragilizados pela revolução
tecnológica. Já o discurso bolsonarista contra o "globalismo" não
encontra contrapartida na doutrina econômica de Guedes. A aliança brasileira
entre reacionários e ultraliberais é um ponto fora da curva. O carnaval
ideológico do bolsonarismo não forma um alicerce sólido para sustentá-lo,
quando fora do poder.
Na capa da The Economist, Bolsonaro é
descrito como "o homem que seria Trump". O paralelo, já clássico,
assenta-se na "Grande Mentira": a acusação antecipada de fraude
eleitoral. A diferença, enfatiza a revista, é que, entre os militares
brasileiros, a lealdade às instituições democráticas parece mais fraca que
entre os militares americanos.
Trump perdeu, mas o trumpismo vive —e tenta
voltar ao poder. Por que o bolsonarismo não percorreria trajetória similar?
Há fortes semelhanças e agudas diferenças
entre os dois movimentos. Bolsonaro idolatra e imita Trump em quase tudo —menos
no tema crucial do partido. Trump tomou de assalto a máquina político-eleitoral
do Partido Republicano. Bolsonaro, pelo contrário, desistiu de erguer um
partido de extrema direita e concorre por uma legenda de ocasião.
Trump precisa
do Partido Republicano porque o sistema bipartidário dos EUA não comporta uma
"terceira via". No Brasil, contudo, existe apenas um partido nacional
coeso e centralizado, que se chama PT. Bolsonaro não criou seu partido porque é
contra a democracia representativa, cuja espinha dorsal são os partidos
políticos.
A extrema direita brasileira sonha
febrilmente, noite e dia, com a ditadura. É esse sonho que a impede de
constituir-se em partido. Qual é a chance de um movimento político perpetuar-se
sem uma estrutura partidária sólida?
Bolsonaro não deixará o Planalto serenamente, conclui a The Economist. Isso é uma certeza: a transição enfrentará solavancos e arruaças. Mas o veredito sobre o futuro do bolsonarismo continua em suspenso.
Bolsonaro voltará a irreverência, pode apostar.Esse ser macabro emergiu do inferno por acidente.
ResponderExcluirQuiram ou não é fato, Gnu e cru, Lula vai sendo eternizado, imortalizado e santificado no altar da glorificação histórica.
ResponderExcluirE essa consagração é real: não há maior prêmio nem maior insígnia do que ser perseguido e caçado com este nível de violência pelo aparelhamento judicial e financeiro em uníssono, com o auxílio de toda a imprensa e dos serviços de “inteligência” nacionais e estrangeiros. É o maior reconhecimento de uma vida que teve um sentido maior, léguas de distância do que a maioria de nós poderia sonhar. (Gustavo Conde)
O bolsonarismo tem um passado, assustador, criminoso, antidemocrático, de defesa de golpes e intervenções militares, associadas a torturas e toda forma de violência! Seu líder genocida provocou centenas de milhares de mortes durante a pandemia, que não aconteceriam se tivesse seguido as recomendações da OMS adotadas no resto do mundo, onde ocorreram em média 4 vezes menos mortes por milhão de habitantes. Bolsonaro sabotou seu ministério da Saúde e não deu um exemplo recomendável que pudesse ser seguido por seus conterrâneos.
ResponderExcluir''Bolssonaro voltará à irrelevância'',deve ser isso que o anônimo quis dizer.
ResponderExcluirBolsonaro com dois SS já é demais,meu computador está com esse problema de repetir as letrass,eu acho que é só o S,rs.
ResponderExcluirBostonaro voltará à irrelevância, sim! Meu computador também tem problema quando digito BOSTOnaro, ele sente um fedor e se desconcentra!
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