O Globo
Terceira via deu sinal de vida depois que
ficou claro não existir contorcionismo retórico que disfarce a corrupção
Há um movimento nas redes sociais para que
a escolha do novo presidente seja decidida já em 2 de outubro. Desde que a
eleição em dois turnos foi instituída, em 1988, quem ganhou no primeiro acabou
repetindo o feito no segundo. Liquidar a fatura daqui a um mês abortaria
pretensões golpistas e daria à luz a narrativa da “vitória de lavada”, um 7 x 1
no fascismo etc. Com uma vantagem adicional: sem ter de fazer acordos ou
concessões. Como ensina a Doutrina ABBA, na base do “The winner takes it all”.
Então, segundo turno, pra quê? Seria um desperdício de tempo, dinheiro e
cortisol, o hormônio do estresse.
Mas, para isso, é preciso combinar com os
russos — convencer os eleitores dos candidatos hoje em terceiro e quarto
lugares de que eles (eleitores) sejam uns idiotas, irresponsáveis, linha
auxiliar de um genocida, cúmplices de tudo o que vier a acontecer de ruim caso
(toc, toc, toc) o Mal (“eles”) vença o Bem (“nós”).
Nunca foi uma estratégia das mais sensatas, mas era o que tinha pra hoje.
Não é mais. Depois que ficou claro não
existir contorcionismo retórico que disfarce a corrupção em escala industrial
dos governos petistas, a finada terceira via deu sinal de vida. Na última
pesquisa, Lula (na dianteira) caiu 4%, Bolsonaro seguiu inerte na
vice-liderança, o eterno Ciro (que, no ritmo em que vem crescendo desde a
primeira candidatura, chegará ao poder em 148 anos) subiu 29% e Simone 250%.
Ok, os 250% de Simone correspondem a meros 3 pontos — mas bastou ganhar
visibilidade para mais que duplicar seu eleitorado. E mostrar que há espaço
para sensatez em meio à competição por quem é menos pior.
Se antes os adeptos do “Lula já” tinham de
cooptar (com xingamentos) 9% dos votantes, esse índice subiu para 14% (sem
contar os “isentões” do voto nulo ou em branco). Talvez seja hora de trocar o
tacape pelo chamego, a imposição pela busca de convergência.
O mérito da eleição em dois turnos é este:
garantir representatividade, legitimidade. Formar alianças que deem sustentação
ao futuro governo. Evitar que candidatos radicais, ou com alta rejeição, vençam
por maioria simples.
Historicamente, quem está à frente nas
pesquisas a um mês da eleição acaba eleito. Para não correr o risco de quebrar
a escrita, os partidários do voto útil podiam propor a aposentadoria das urnas
eletrônicas (ou dos votos impressos) e a privatização do pleito. O TSE seria
desativado e tudo ficaria a cargo dos Ipecs e Datafolhas. A custo zero para o
contribuinte.
Outra sugestão é que enxerguemos o óbvio:
em todas as disputas desde a redemocratização, quem ganha em Minas ganha no
Brasil. Por que, então, não passar a consultar apenas os mineiros? Deixemos o
resto do país às voltas com seus afazeres e ouçamos o que dizem os oráculos das
Gerais.
O que Minas resolver, estará resolvido.
Isso, sim, seria uma enorme economia de tempo, aporrinhação e recursos. E, por
se tratar de conterrâneos de Tancredo e JK, tudo teria de ser com diálogo,
persuasão, negociação — táticas que, antigamente, faziam parte da boa política.
Até lá, é melhor haver dois turnos, sim.
Alguns já pensam em demitir ao extrategista de campanhas políticas.
ResponderExcluirGostaria que encerrasse logo,palavrório tem o ano inteiro.
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